quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Jutlândia, de norte a sul

 

Nas margens do Lymfiord

A Jutlândia é uma península localizada no extremo norte da Alemanha e corresponde, essencialmente, à parte continental da Dinamarca. As zonas mais populosas, incluindo as cidades de Copenhaga, Odense, Roskilde, situam-se nas ilhas mais orientais. Assim, a Jutlândia é um retrato mais fiel da Dinamarca rural, entre fiordes, bosques e colinas douradas. Também aqui cresceram cidades, como Aarhus ou Aalborg, mas conseguimos rolar durante muitos quilómetros sem trânsito urbano.


Igreja catedral de Aalborg

Não é difícil conduzir na Dinamarca. Das auto-estradas (onde o limite de velocidade são os 130 Km/hora) até às pequenas estradas rurais, o piso é sempre bom e bem cuidado. Não detetámos muitos radares, mas talvez não seja necessário, os condutores cumprem escrupulosamente os limites de velocidade... Ao contrário do que se crê, nem tudo é plano e, especialmente aqui na Jutlândia, a paisagem é mais caracterizada por colinas ondulantes, cultivadas com cereais ou pasto para os animais. De vez em quando, um lago ou um fiorde obrigam-nos a mais uma passagem de ferry, o que não nos aborrece nada.

No ferryboat de Hvalpsund para Sundsøre

Por vezes, é bom parar junto ao mar e ficar simplesmente a apreciar a quietude do lugar. Foi o que fizemos junto ao fiorde de Vejle. Segundo as informações, vivem ali e no estreito de Kattegat cerca de 40 000 golfinhos. Mas não vimos nem um!


Junto ao fiorde de Vejle

Gostei muito das casas tradicionais da Dinamarca. Geralmente, são pintadas de branco, mas também podem ser amarelas, vermelhas ou ocres, com ou sem travejamento em enxaimel. O que não pode faltar são os tetos de colmo, alguns já cheios de musgo. Há imensas nas zonas rurais, o que me faz pensar que não são só folclore. Salta à vista a frequência de bandeiras dinamarquesas, vermelhas com uma cruz branca, nos terrenos das quintas e moradias. Compridas e estreitas, voam ao vento como pendões.

Casa típica rural, com telhados de colmo

Casas tradicionais dos centros urbanos

Rolamos para norte, na direção de Aalborg, a cidade mais setentrional da Dinamarca. Em Tølløse, no meio de um parque natural, tivemos a ideia de comprar mantimentos e fazer um piquenique. Escolhemos o sítio ideal no bosque ideal! Altas árvores deixavam entrar umas manchas de sol que batiam no chão, entre cogumelos aninhados como ramos de flores. Um caminho coberto de folhas, ainda húmidas da chuva noturna. Troncos de árvore cobertos de musgo, cantos de pássaros... Um bosque encantado mas... ao longe começou a ouvir-se o ribombar dos trovões! Só tivemos tempo de saltar para cima da mota. Chuva e trovoada até Aalborg!

Um bosque encantado...

Aalborg situa-se na margem do Limfyord, que separa a Jutlândia das ilhas mais a norte. Não é uma cidade grande, mas tem muita vida graças à universidade e aos estudantes. Depois da tempestade, só nos apeteceu um banho quente e um jantar no pub mais ruidoso da rua mais animada da cidade: a Jomfru Ane, uma rua só com bares, restaurantes e discotecas. No pub “Proud Mary”, via-se a transmissão do jogo de futebol do F. C. Copenhagen contra os turcos do TrabzonSport e festejámos os golos dinamarqueses como verdadeiros nativos.

Passeio de Aalborg junto ao Lymfiord

Sede do banco regional, numa antiga fortaleza

A Jomfru Ane

É aqui na Jutlândia que se localiza a que dizem ser a cidade mais antiga da Dinamarca, Ribe. Fundada no século VIII, no início da era viquingue, é uma cidade pequenina, mas muito mimosa, com um centro medieval muito bem preservado. As ruas do centro, pedonais, são ladeadas por casas antigas, algumas já tortas, denunciando o peso da passagem do tempo.

As velhas casas do centro de Ribe

Barcos no canal

Pormenores de uma casa antiga

No centro da praça principal, a igreja é muito original, misturando estilos livremente. No interior da nave lateral, peanhas com figuras medievais contrastam com um altar-mor cubista!

A igreja de Ribe

O original altar-mor

Da sua peanha, S. Jorge continua a matar o dragão

Os bancos ricamente talhados da igreja

A igreja está rodeada por figuras ligadas à evangelização da Escandinávia. A mais espetacular é a de Asgnar, o padroeiro da Escandinávia, um bispo missionário que fundou a primeira igreja de Ribe, cerca do ano 860.

As estátuas rodeiam a igreja

A estátua de S. Asgnar, o padroeiro da Escandinávia

Há um riozinho, o Ribea, que corre pelo meio da cidade, fazendo ainda hoje mover noras e acrescentando o encanto bucólico do local.

Uma nora no rio Ribea

Um recanto tranquilo

Dirigimo-nos, por fim, à costa ocidental da Dinamarca, batida pelo mar do Norte. Depois das praias do Mar Báltico, de areia fina e temperatura da água muito amena, as praias do mar do Norte parecem de outra latitude. Os areais quase desertos são protegidos por dunas batidas pelo vento constante. A cidade de Esbjerg é um porto piscatório e comercial, não uma estância balnear.

Uma praia no mar do Norte

A Torre da Água, em Esbjerg

A igreja de Esbjerg, uma construção em tijolo típica desta região

A norte de Esbjerg, estende-se o Parque Nacional Wadden See. Praias e dunas a perder de vista. É aí que se ergue a grande instalação “Man meets the Sea”, colocada em 1994. São quatro estátuas brancas, gigantescas, que estão sentadas e olham o mar. A informação disponível refere que o branco simboliza um ser humano puro e inocente. Quanto a isso não digo nada. Mas foi destas costas que, há muitos séculos, os destemidos navegadores viquingues afrontaram o mar para irem em busca do seu destino. Um destino que foi tão grande como estes gigantes que agora olham o mesmo mar.

Man meets the Sea



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