sábado, 27 de abril de 2024

Em Viena, com os imperadores...


Um berço imperial

 Os que conhecem Viena dividem-se geralmente em dois grupos: os que detestam a cidade e os que a amam. Eu pertenço ao segundo grupo...

O Burgtheater

O Kunstmuseum

Compreendo os argumentos dos que acharam a cidade monótona, sequências de ruas com edifícios grandiosos e idênticos do século XIX... Mas Viena é muito mais do que isso.

A Ópera

A Câmara Municipal

Nas traseiras da Cãmara Municipal

Visitei Viena acompanhada pelas descrições de Stefan Zweig, Edmund de Waal, até Adolf Hitler. Como se sabe, Hitler era austríaco e apreciava a Ringstrasse, por exemplo, como uma avenida magnífica para encenações teatrais ou, talvez, paradas mlitares... Lembrei-me disto ao caminhar pela Ringstrasse, a avenida circular que rodeia o centro de Viena e separa os bairros do centro histórico e o Hofburg do resto da cidade. Foi construída no lugar das antigas muralhas que protegiam Viena desde o século XII. O crescimento da cidade levou ao derrube da muralha e, na nova avenida, localizam-se os edifícios mais notáveis de Viena, desde o Palácio Real de Hofburg até à Câmara Municipal, passando por museus, teatros, Igrejas, o Parlamento, a Ópera, a Universidade... 

O complexo palaciano do Hofburg

Com efeito, o traçado circular da nova avenida faz com que todos esses edifícios se alinhem como num palco. Observam-se cerimoniosamente, cada qual com o seu papel e a sua função, para glória mútua e do Império Austro-Húngaro!

O Parlamento

Para compreender Viena é preciso compreender que a cidade não era apenas a capital do grande império dos Habsburgos que dominou toda esta zona da Europa, mas foi também a capital de uma certa ideia de Europa, o apogeu de uma cultura magnificente e requintada, com as suas facetas sórdidas e esplendorosas: a Belle Époque, que colapsou nos horrores da Primeira Guerra Mundial, deixando no ar um vago sentimento de orfandade e nostalgia, tão patente na literatura da Europa Central. Tudo isso ainda paira nos bairros centrais e na Ringstrasse.

Nas traseiras do Hofburg

Mozart, Goethe, Freud, são nomes incontornáveis, assim como Mendelsohn, Strauss ou Klimt. A música de Mozart acompanha-nos a cada passo, motivando os transeuntes para os inúmeros concertos que se realizam em vários espaços todos os dias. 

Estátua de Goethe na Ringstrasse...

... e de Mozart

A nossa primeira opção era assistir a um concerto no Musikverein, a célebre sala de concertos dourada, mas não havia concertos previstos para as datas da nossa estadia. Parece-me que escolhemos bem a nossa segunda opção... Assistimos a um belo concerto na St. Peterskirche, que não escolhemos por acaso: é uma das igrejas barrocas mais bonitas de Viena e o esplendor visual acompanha bem os trechos musicais.

A St. Peterskirche

O que não falta em Viena são igrejas magníficas, começando pela Catedral de Santo Estevão, apertada entre as ruas estreitas do centro. Construída no século XII, mas com muitos acrescentos góticos e barrocos, salienta-se pelo seu telhado de azulejos azuis. Saõ mais de 250 000, formando padrões, segundo o estilo húngaro.

O célebre telhado da Catedral de Santo Estevão...

... e o interior da catedral

Junto ao extremo norte da Ringstrasse, destaca-se a Igreja Votiva, que tem este nome devido a um atentado falhado ao Imperador Francisco José, naquele mesmo lugar, em 1853. Foi aberta uma coleta pública para construir um templo no lugar do atentado. E assim foi construído este grande templo neogótico, em tempo recorde, para aí celebrar as bodas de prata do casal imperial.

A Igreja Votiva

A sul da Ringstrasse, na Karlplatz, localiza-se a Igreja de São Carlos Borromeu. Há quem diga que é a Igreja mais bonita de Viena. Não sei, depende dos gostos, mas é com certeza a mais original. Não é usual encontrar um templo com um pórtico à romana, ladeado por duas colunas que nos remetem para a Coluna de Trajano (que terá servido de inspiração) e encimado por uma cúpula barroca. O interior também é maravilhoso, particularmente os frescos da cúpula oval. 

A Igreja de São Carlos Borromeu


Ao fundo da igreja, um pequeno memorial lembra Carlos I, o último imperador da Áustria Hungria. Já me tinha cruzado com a sua história, na Cripta dos Habsburgos, mas aqui a sua presença é mais tocante. Muito religioso, tornou-se o herdeiro inesperado do trono imperial após o atentado de Sarajevo, que despoleta a 1.ª Guerra Mundial. Torna-se imperador em 1916, depois da morte do velho imperador Francisco José, e cabe-lhe assistir, impotente e atormentado, à derrota e desmantelamento do império. Exilado na ilha da Madeira, morrerá no Funchal em 1922.

O cenotáfio de Carlos I

O grande centro palaciano e imperial localiza-se no Hofburg. O Hofburg não é um palácio mas um complexo palaciano, construído pelos Habsburgos, que inclui diversos edifícios e instalações. Eram os seus palácios de inverno, enquanto o verão era passado em Schonbrun.

O belo Palácio de Schonbrun

Os belos jardins e estufas do Palácio de Schonbrun

A figura tutelar do Império é a Imperatriz Maria Teresa, que dominou a política europeia no século XVIII. Entre a sua enorme e elaborada estátua a meio da Ringstrasse e o seu não menos elaborado mausoléu, na Cripta Imperial da Igreja dos Capuchinhos, a sua presença é constante. 

O conjunto escultórico dedicado a Maria Teresa de Áustria

O túmulo de Maria Teresa e Francisco I de Habsburgo

No entanto, é a imperatriz Sissi quem domina as atenções, é a vedeta da monarquia, uma estrela avant la lettre. Mas é uma estrela trágica. As pessoas acotovelam-se no seu pequeno museu dentro do complexo do Hofburg, para se maravilharem com os seus vestidos e vislumbres de glamour. O que eu retenho da imperatriz Sissi é a imagem de uma jovem espartilhada numa corte cheia de regras e simbolismos, autora de poemas tristes e solitários. O seu mausoléu, também na Cripta dos Capuchinhos, vale bem um olhar atento, se se conseguirem ultrapassar os inúmeros fãs que sempre o rodeiam.

Os aposentos imperiais, no Hofburg

O túmulo da imperatriz Sissi

Mas o Hofburg oferece muitas outras atrações. O antigo complexo palaciano alberga hoje alguns orgãos do governo austríaco, mas também uma amostra da cultura dos tempos imperiais. Um dos maiores edifícios do complexo está ocupado pelo Weltmuseum, um museu etnográfico do mundo. É fascinante e vale bem uma visita, mas há poucos visitantes, claramente há mais interessados nos vestidos da imperatriz Sissi. 

A entrada do Weltmuseum

Um dos espaços mais famosos é a Coudelaria e Escola Espanhola de Equitação, onde se treinam os famosos cavalos Lipizzan. A Biblioteca Nacional Austríaca também é um espaço absolutamente imperdível. Com mais de oito milhões de livros e outros objetos, como globos terrestres, é uma das bibliotecas mais bonitas e importantes da Europa.

A Biblioteca Nacional Austríaca

Também se incluem no Hofburg, a Capela Imperial e o Tesouro Imperial, que é muito interessante de visitar, particularmente para quem não estiver muito familiarizado com a história do Império Austro-Húngaro; ficará com uma boa ideia.

O manto imperial, no Museu do Tesouro

Visitar Viena, passear pelas ruas numa charrete, ouvir Mozart numa igreja barroca, maravilharmo-nos com os vestidos da imperatriz Sissi ou com os globos terrestres da Biblioteca Imperial... tudo contribui para o mesmo fascínio! Caminhamos ombro a ombro com os imperadores e as imperatrizes de uma época glamorosa e já perdida.

Caminhando com os imperadores...

E os vienenses? O que é feito deles? Isso fica para o próximo post.