domingo, 9 de fevereiro de 2014

Bruges, ou a Veneza do Norte




Quem entra na cidade de Bruges, tem com certeza uma sensação de regresso ao passado. A cidade parece ter parado no século XV, parece ter-se fixado num passado, bem conservado, limpo, um pouco idealizado, mas saído, sem dúvida, dos velhos livros de contos infantis. Quase esperamos ver cavaleiros e tecedeiras flamengas a sair de uma porta ou a dobrar uma esquina. E, no entanto, tudo é real, as casas e os canais estão realmente ali desde a Idade Média, desde o tempo em que Bruges dominava os circuitos das lãs inglesas e dos tecidos flamengos que fizeram a sua fortuna.



A praça central é dominada pelo Hotel de Ville, com a alta torre que representava o poder comunal. Aí, à imagem do que acontece em Bruxelas, dominam as belas casas dos ofícios. Os prédios, estreitos e altos, ostentam os símbolos e cores das corporações, mostrando bem quem ali mandava e criava riqueza.


Mas eu prefiro perder-me pelas pequenas ruas, cruzadas pelos canais, onde circulavam os panos de lã, as rendas, os tecidos bordados. Cada casa conta uma história, enredada nas portas maciças, nas pequenas janelas, nos telhados em degraus, nas figuras que adornam as frontarias.


Portugal também aqui teve uma feitoria, no tempo em que trazíamos à Europa as riquezas do Oriente.
Bruges é uma cidade tranquila, apesar dos turistas que cruzam as ruas e enchem os barcos dos canais. É uma cidade onde nos apetece passear devagar, a admirar os pormenores, a parar nos recantos bucólicos das praças, a olhar os patos que dormem nos vãos das portas.


Van Eyck viveu aqui, Memling também. São eles que fazem reviver o espaço ocupado pelo Hospital, no final da Idade Média.


É um regresso ao passado, mas a um passado depurado de tudo o que existia e era triste, pobre ou incerto. Onde só ficou o lado belo das coisas.