segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Diana de Poitiers, Chenonceau e os outros castelos do Loire

Entrada do Castelo de Chenonceau

Falar do Vale do Loire remete-nos de uma forma quase imediata para os Castelos do Loire. Não conheço outro local onde se concentrem, em tão diminuto território, tantos e tão belos castelos. Castelos encantadores, quase ia a escrever castelos encantados… São muitos, mais de sessenta. Alguns mais grandiosos, outros mais modestos. Uns mais antigos, aurênticas fortalezas medievais do tempo da Guerra dos Cem Anos, outros, pelo contrário, são palácios renascentistas, construídos no século XVI ao gosto italianizante da época. Muitos foram sofrendo alterações ao longo do tempo, consoante a mudança dos donos e as possibilidades familiares, já que alguns ainda são propriedades particulares, habitadas pelos proprietários e de que, portanto, só se pode visitar uma parte. É o caso de Cheverny, com as suas afamadas matilhas de cães.


Breve visão do Castelo de Chaumont


Castelo Real de Blois

Como se explica uma tão grande concentração de palácios e castelos num espaço tão reduzido? Creio que a razão está na sua centralidade dentro do espaço francês: era cómodo para os monarcas. Se a esta centralidade juntarmos o clima aprazível, a paisagem fértil e encantadora, a facilidade de comunicações, percebemos bem a preferência por esta região. A presença da família real funcionou como polo de atração para a nobreza, que também aí se foi instalando.


O Loire em Amboise

Torreão do Castelo de Chinon


O sítio onde Joana d'Arc pousou o pé, quando desceu do cavalo...

Gostaria de visitar todos, mas não é fácil. Em duas passagens pelo Vale do Loire, separadas por um longo período de tempo, pude visitar alguns, vislumbrar outros e manter outros ainda na minha lista de sítios onde gostaria de ir, antes de morrer.


Castelo Real de Amboise


Por todo o castelo se encontram os símbolos dos Valois e da Bretanha

Aqui, as paredes têm ouvidos...

Dos castelos que visitei, os que mais me marcaram foram Chambord (sobre o qual já aqui fiz um post) e Amboise, dois castelos reais, ambos com a marca de Francisco I e do seu arquiteto especial, Leonardo da Vinci. O genial artista foi contratado pelo rei Francisco I para desenhar a bela escadaria central de Chambord. O rei instalou-o perto de si, no pequeno castelo de Clos-Lucé e, quando da sua morte, Leonardo foi enterrado no castelo de Amboise.


O pequeno castelo de Clos-Lucé


Túmulo de Leonardo da Vinci em Amboise

Mas a pérola do Vale é, sem dúvida, o castelo de Chenonceau, com as suas arcadas sobre as águas tranquilas do rio Cher. 


O belo Castelo de Chenonceau

Não era um castelo real. Pertença de particulares, foi adquirido e remodelado para a instalação da favorita do rei Henrique II, a bela Diana de Poitiers. Toda a ala renascentista do palácio nos fala desse triângulo amoroso, começando pelas letras entrelaçadas das iniciais reais: o H de Henri liga-se a um C de Catherine ou a um D de Diane? Essa ambiguidade reflete a atitude do rei, dividido entre a mulher e a amante, entre a jovenzinha florentina que a diplomacia lhe entregou e a esplêndida mulher madura por quem se apaixonou, entre a mãe dos seus dez filhos e a bela companheira que lhe ensinou os jogos do amor.


A ambiguidade das iniciais reais...

A morte precoce do rei permitiu à sua viúva Catarina de Médicis uma pequena vingança. Exigiu da ex-favorita de Henrique II a devolução de todas as joias que tinha recebido, o que  Diana cumpriu sem um queixume. Entre elas, a joia mais preciosa, o castelo de Chenonceau, onde Catarina se instalou. Dali governou a França, numa das regências mais longas da história francesa. E ali mandou fazer o seu próprio jardim, como um espelho do jardim de Diana, localizado do outro lado de uma pequena ponte que dá acesso ao pátio do castelo.

O jardim de Catarina de Médicis...



... e o jardim de Diana de Poitiers

Quanto a Diana de Poitiers, acabou os seus dias no castelo de Anet, pertença da família de Brèze onde entrara pelo casamento, mas também redecorado pelo rei Henrique II. Outra obra-prima sobre a qual também já aqui escrevi. 
Em todos os lugares, se estivermos atentos, podemos sentir a presença dos que ali deixaram a sua marca. Na pequena e pitoresca cidade de Chinon, vemos constantemente as marcas de Joana d’Arc. Em Amboise, pressentimos os dramas familiares e a afirmação de Ana da Bretanha. Em Chenonceau, se conseguirmos abstrair-nos das hordas de turistas que pululam por todos os cantos, conseguimos sentir a vivência apaixonada de Diana de Poitiers. Mas também a humilhação e a vingança da rainha Catarina de Médicis.


O quarto de Catarina de Médicis, em Chenonceau