sábado, 28 de fevereiro de 2015

De mota pelos Pirinéus I - Roncesvales



Memorial da Batalha de Roncesvales
Quando decidimos dar uma volta pelos Pirinéus, resolvemos começar por aqui, pela pequena povoação de Roncesvales. Situada no sopé das montanhas, não muito longe da animada cidade de Pamplona, Roncesvales guarda os caminhos secretos e as passagens que permitiam em tempos remotos atravessar os Pirinéus com uma relativa segurança. Hoje, é fácil seguir por uma boa estrada para as luxuosas estâncias de esqui do lado francês das montanhas, mas tudo em Roncesvales nos recorda outros tempos, tempos de incursões muçulmanas ou carolíngias, épocas de guerrilhas bascas, com heróis lendários que ficaram nas canções de gesta e no imaginário popular.


Capela de Sancti Spiritus / Silo de Carlos Magno
É o edifício mais antigo de Roncesvales, construído no séc. XII pelo rei de Navarra e Aragão


A cripta servia de ossário aos peregrinos que morriam no hospital.
Diz a lenda que aqui Carlos Magno mandou construir o túmulo de Rolando e de outros guerreiros mortos na batalha de Roncesvales

É também em Roncesvales que se inicia o mais longo Caminho de Santiago, o chamado caminho francês, percorrido pelos peregrinos que vinham de França. Hoje, os serviços turísticos para os peregrinos atuais, de ténis e carro de apoio, animam a pequena povoação.



Cruz do Caminho (Séc. XIII)
Um troço do Caminho


Mas ainda é a velha batalha de Roncesvales que ecoa nos desfiladeiros e é recordada em monumentos e estátuas evocativas. Corria o ano de 778 e Carlos Magno, rei dos Francos, regressava de uma campanha contra os muçulmanos que acossavam as fronteiras da Cristandade, quando a retaguarda do seu exército é dizimada por guerreiros bascos. Nessa batalha, morre Rolando, o prefeito da Bretanha, e muitos outros. Mas é Rolando que é cantado nas primeiras canções de gesta europeias, onde os ataques bascos são substituídos pelos sarracenos.



Estátua de Rolando caído junto ao seu cavalo

Curiosamente, essa história foi passada até ao nosso século pela tradição oral popular e fui encontrá-la nos famosos teatros de marionetas da cidade siciliana de Palermo, tal como contei aqui.