quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Livros e Viagens - Roma, Exercícios de Reconhecimento



Acabei de ler ( talvez devorar, ou saborear, fossem verbos mais adequados...) este livro de António Mega Ferreira sobre Roma. Não é um guia turístico, nem mesmo um roteiro da cidade. Mas também não é uma obra de ficção sobre a Cidade Eterna. O autor dá-nos a sua própria definição:

Este livro não descreve Roma: toma-a como pretexto para incursões que vivem comigo há muitos anos, seja o cinema italiano do pós-guerra ou a paixão da Tosca, a tragédia de Caravaggio ou a graça reqintada de Rafael. E o meu longo fascínio, sempre ambivalente, pela arquitetura; o meu gosto pelas cenografias fantásticas de Bernini; a sugestão de uma grandeza impensável nas ruínas imperiais; o sonho de Adriano vazado nos restos de uma villa que fez construir nos arredores de Roma. Roma é uma tradição literária que conta mais do que se vê e uma tradição visual que nos mostra mais do que aquilo que qualquer literatura seria capaz de imaginar.


Efetivamente, este livro não descreve Roma. Mas sugere passeios e incursões por locais inesperados, ou outros olhares por locais já visitados. Dá-nos leituras e divagações, pretextos para nos perdermos pela capital mais historicamente fascinante da Europa. A mim, deu-me vontade de pegar no livro e voar para Roma. E aí, sem pressas, deixar-me guiar por estes exercícios de reconhecimento.




sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A Ponte do Diabo



A Ponte do Diabo, Teufelsbrucke

Pelos vistos, a acreditar na tradição popular, o diabo entreteve-se a construir pontes por esta Europa fora. Nós, por cá, também temos uma que o povo atribui às artes do demo: a ponte da Misarela. Mas a que está na origem deste post fica no cantão de Uri, na Suiça, no meio de maciços montanhosos impressionantes. 
A Teufelsbrucke, a Ponte do Diabo, é um estranho e intrincado cruzamento de pontes: a ponte ferroviária, a nova ponte rodoviária e a velha ponte de pedra, construída em1595, que veio substituir a ainda mais velha ponte, datada de 1360.


Um intrincado nó de pontes...



... ferroviária, rodoviária e pedonal

É sobre essa ponte do século XIV que os camponeses e pastores da época contam uma história bem curiosa. Havia, naquela passagem tumultuosa do rio, um antigo passadiço de madeira. Mas a travessia era tão difícil e perigosa que os aldeãos fizeram um acordo com o diabo: o demo construiria a ponte, obtendo em troca a alma da primeira criatura que ali passasse. Uma vez construída a ponte, o diabo exigiu o seu pagamento, mas os espertos aldeãos enviaram uma cabra e o diabo ficou tão furioso que pegou numa grande pedra para destruir a sua obra e castigar os seres humanos. Uma velhota com um crucifixo na mão, no entanto, conseguiu assustá-lo e levá-lo a deixar cair a pedra. Um desenho à entrada do túnel ainda nos recorda esta lenda.


O desenho lembra a lenda



O tumultuoso rio Adda

Este desfiladeiro de Schollenen não tem caminhos fáceis e foi também aqui, na Ponte do Diabo, que os franceses lutaram contra os russos, nas guerras napoleónicas. Olho para as altas paredes de pedra e para a ponte, que parece tão estreita e frágil sobre os redemoinhos ruidosos do rio Adda, e imagino o horror da batalha e o desespero dos que ali tombaram. O impressionante Monumento Suwarov ainda recorda os que ali caíram na batalha de 1799.
Quem sabe? Talvez o diabo ainda por ali andasse, à espera de cobrar o seu quinhão de almas!

O Monumento Suwarov