domingo, 26 de março de 2017

O Castelo de Hartheim


O Castelo de Hartheim
O castelo de Hartheim é um belo edifício renascentista, pertencente até ao século XIX a uma nobre família austríaca. Tem um harmonioso pátio interior, à italiana, rodeado de colunas que se replicam nos seus três andares, e umas torres imponentes. 


O pátio interior

Em 1898, o aristocrata doou o castelo a uma associação caritativa cristã, para servir de acolhimento a "débeis e cretinos", como reza a inscrição colocada na entrada. E assim aconteceu, até 1939.


A lápide que recorda a história do castelo

Em 1938, o Reich Alemão anexa a Áustria e toma posse de todas as propriedades. O castelo vai continuar aparentemente igual mas, na realidade, vai servir como um dos seis centros de eutanásia implementados pelos nazis para purificar a raça ariana, expurgando-a dos "inúteis e incapazes".
Ali serão mortos, por monóxido de carbono, milhares de crianças e adultos com deficiências mentais ou físicas, num processo que só parou em 1941, graças à dura oposição da Igreja Católica. Mas o castelo continuou com o seu desígnio de sofrimento e morte e, na câmara de gás, continuaram a morrer prisioneiros transportados de outros campos de concentração, como Mauthausen.


Duas lamparinas estão sempre acesas na câmara de gás

Após a guerra, caiu um manto de silêncio sobre o que ali se tinha passado. Houve poucos processos e ainda menos condenações. A Áustria parecia preferir fechar os olhos e pensar noutra coisa. Só em 1995 começou um trabalho sistemático de recolha e arquivo de vestígios materiais dos que ali morreram, em nome de um ideal totalitário e alucinado. Evocam-se nomes, histórias, percursos, tanto dos que ali foram assassinados como dos enfermeiros, guardas e outros funcionários que ali faziam um trabalho tenebroso. E que, no entanto, não eram monstros mas pessoas iguaizinhas a nós. Como podemos nós imaginar o que faríamos numa situação inimaginável?


Os campos circundantes do castelo

Hoje, o castelo é um memorial, mas é também um centro educativo. Recebe e tem programas específicos de trabalho com determinados grupos profissionais (como os enfermeiros) e, especialmente, com alunos oriundos de toda a região. O seu objetivo é muito específico: educar para a inclusão das pessoas portadoras de deficiência. E o núcleo central da exposição permanente parte do passado para os desafios do presente e intitula-se "O Valor da Vida".


Lápides memoriais no pátio interior

Ao lado do castelo, há de novo um centro de acolhimento para portadores de deficiência. A instituição procura integrá-los em todas as situações em que isso é possível. Comi no snack-bar do castelo refeições simples confecionadas e servidas por jovens portadores de algum tipo de deficiência. Na loja de artesanato, vendem-se produtos feitos na instituição e aí comprei as recordações para levar para casa. Nesses espaços, trabalham jovens cujas dificuldades não impediram de sorrirem e de se integrarem na comunidade.


O snack-bar do castelo

Parece-me uma boa maneira de olhar para o passado, aprendendo com ele e transformando-o numa experiência positiva no presente.


Esta pequena imagem da mãe de Jesus acolhendo as crianças encima o portão de entrada do castelo. Parece o cúmulo da ironia...