segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As velhas pedras da Acrópole de Atenas


(Templo de Hefesto)
Atenas é uma cidade confusa e suja, que cresceu imenso a partir da independência grega, em 1821. Não teria nada de especial que a recomendasse, não fora o facto de ali ter nascido, há cerca de 25 séculos, a civilização europeia tal como a entendemos. A partir daqui, expandiram-se os conceitos de antropocentrismo, democracia, ou juízo crítico.
Como uma coroa, bem visível no centro da cidade, a Acrópole e o que resta dos seus templos. Ao longo dos séculos, sofreu bombardeamentos e explosões, muitos tiraram dali pedras para as suas próprias construções, e bem sabemos como o Museu Britânico conseguiu as inúmeras peças que expõe da arte clássica grega. Aproveitando os Jogos Olímpicos, a cidade modernizou-se e criou, por exemplo, o belo circuito pedestre que circunda a Acrópole.

(Vista da Acrópole)
Confesso que me faltam as palavras para falar da Acrópole de Atenas. Compreendo que haja pessoas que olham para ali como para um monte de pedras velhas. "O que é que isto tem de especial?" Há que explicar-lhes que o que tem de especial é a sua absoluta perfeição. Vejamos o velho Partenon. Foi construído no século V a. C. A ideia era fazer um templo absolutamente recto e geométrico, nem demasiado pequeno - para agradar à sua deusa Atena - nem demasiado grande, para ser à medida do homem. Só que os atenienses percebiam o que eram ilusões ópticas e sabiam que, para parecer absolutamente direito, tinha de ser construído ligeiramente inclinado. Cada pedra, cada coluna, tem uma inclinação precisa, de que não nos apercebemos à vista desarmada. Se fosse hoje, todos os cálculos seriam feitos por computador. Há 25 séculos, custa-nos a imaginar a capacidade intelectual e a mestria que possibilitou aquela obra. Ictinus fez os planos, Calístrates superintendeu a obra, como uma equipa de arquitectura e engenharia da actualidade.

(Partenon - Templo de Atena)
Pensamos nas esculturas dos frontões e arquitraves, que nos falam das belas histórias da mitologia grega. Acrescentemos apenas as figuras esculpidas por Fídias no friso que representa a Grande Procissão anual das Festas Panatenaicas e que atingiram um nível de naturalismo só igualado dois mil anos depois e criaram um modelo de beleza clássica nunca ultrapassado. Será que ainda se pode pensar que é apenas um monte de pedras velhas?

(Erecteion - Balcão das Cariátides)
Como todos os locais, a Acrópole de Atenas tem várias camadas de História. Visitei-a, por acaso, no dia 12 de Outubro, e deparei-me com uma cerimónia comemorativa de outro 12 de Outubro, durante a 2.ª Guerra Mundial.

(Cerimónia militar comemorativa)
Estando a Grécia ocupada pelas tropas do Eixo, flutuava sobre a Acrópole a bandeira com a cruz suástica. Dois resistentes, aproveitando os túneis que só os atenienses conheciam, trocaram, uma noite, a bandeira cam a suástica pela bandeira grega. Os resistentes não foram apanhados e são ainda hoje homenageados numa cerimónia oficial a que tivemos a sorte de assistir. E a bandeira grega foi novamente hasteada na Acrópole, numa afirmação repetida de liberdade e democracia.

(Preparando o hastear da bandeira)

(Fotografias de Teresa Ferreira)

1 comentário:

  1. Vim agradecer o carinho deixado no blog Uma Interação de Amigos.
    Gostei muito da sua visita.
    Fiquei muito feliz com a sua presença.
    Volte Sempre.
    Sandra

    Lindo texto e imagens.

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