segunda-feira, 29 de outubro de 2018

De mota até às Highlands VII – Edimburgo em Agosto



A Royal Mile

Uma cidade escura e austera. Uma cidade jovem e cheia de vida. Uma cidade de tradições, pesada de história. Uma cidade com as manifestações artísticas mais vanguardistas do mundo. Edimburgo é isto e, provavelmente, muito mais.
Segundo parece, a colina onde hoje se ergue o Castelo de Edimburgo já é habitada desde há muito tempo e aí se encontra o edifício mais antigo da cidade, a capela de Santa Margarida, do século XI. O rei David I fundou então a Abadia de Holyrood, cerca de uma milha para leste. E é ao longo dessa milha, a Royal Mile, que a cidade cresce, até se tornar a capital da Escócia no reinado de Jaime IV, o rei que manda construir o Palácio de Holyrood. Ainda hoje a Royal Mile é a artéria mais viva da cidade, onde tudo acontece.

Calton Hill

Apesar de ser uma cidade bastante grande, o centro é relativamente compacto e por isso é uma cidade boa para explorar a pé.
O melhor local para ver a cidade é Calton Hill, mas daí só se veem fachadas de prédios entremeados de pináculos e torres. Observamos as linhas regulares dos bairros georgianos da New Town, mas não conseguimos ver as ruelas e becos onde vivia a população mais pobre. Tal como muitas outras coisas que escapam a um olhar superficial. Assim, de longe, só se veem as aparências. Como qualquer outra cidade, Edimburgo é para explorar a pé, com vagar…

Os becos das zonas populares

Gostaria de ter tido tempo para fazer essa exploração, meter o nariz nos becos e nos pubs, perder-me nos museus. Edimburgo tem museus muito originais: o People’s Story Museum, focado na vida dos cidadãos comuns, do século XVIII até hoje; o Museum of Childhood, o primeiro do mundo no seu género; o Writer’s Museum, que junta memórias de Robert Burns, Sir Walter Scott e Robert Louis Stevenson; a casa de John Knox, onde o líder protestante terminou os seus dias… Todos estes espaços se localizam ao longo da Royal Mile e eu gostaria de ter tido tempo para os visitar a todos. Mas eu fui a Edimburgo em agosto…

Um dos edifícios mais emblemáticos da Royal Mile

Os velhos pubs...

... e a casa onde está instalado o Storytelling Museum

Durante o mês de agosto, a cidade transfigura-se e vira os pés pela cabeça! É o mês do Fringe, o maior festival de artes de rua e performativas do mundo. Atores, mimos, desportistas, cantores de rua, todos afluem a Edimburgo para mostrarem as suas artes em qualquer pedaço disponível da Royal Mile (sempre aí…). Há dezenas de espetáculos e performances a acontecer ao mesmo tempo, noutros tantos locais da cidade. Edimburgo transborda de alegria e criatividade. Caminhamos pela Royal Mile e somos envolvidos por toda essa energia, frenética e contagiante. Apetece-nos participar, rir, chorar, dançar. E, na realidade, participamos, rimos e dançamos…

Do Fringe I...

Do Fringe II...

Do Fringe III...

Do Fringe IV...

Nos dois extremos da Royal Mile, os dois principais monumentos da cidade clamam pela nossa atenção. Visitamos o Palácio de Holyrood logo pela manhã e o castelo pela tardinha. O resto do dia é para o Fringe.

Os belos portões de Holyrood


O Palácio ocupou espaços da antiga abadia

O Palácio de Holyrood foi construído no século XV, junto à antiga abadia. Ainda hoje é a residência oficial da rainha, quando se desloca a Edimburgo. Vale bem uma visita, tem salas belíssimas, algumas ligadas ao infeliz reinado da célebre Mary, Queen of Scots.

A entrada do Palácio de Holyrood

O unicórnio branco nas armas de Jaime IV

O pátio interior do Palácio de Holyrood

Numa feliz proximidade, o edifício do Parlamento escocês, inaugurado em 2004 com uma arquitetura de linhas contemporâneas e viradas para o futuro, lembra-nos a autonomia tão dificilmente reconquistada dos escoceses.
No outro extremo da Royal Mile, ergue-se o imponente Castelo de Edimburgo, datado do século XII mas a que se vão fazendo modificações e acrescentos até ao século XX. A entrada faz-se pela grande Esplanada, onde se desenrolam os famosos Tatoos Militares, com as suas formações de militares vestidos a rigor evoluindo ao som das gaitas de foles.

Subindo para o castelo

A Esplanada

O Castelo agrega um grande número de edifícios e espaços, alguns dos quais me impressionaram vivamente: o velho palácio, que agora conta a história da luta pela independência dos escoceses, e onde a Pedra do Destino e as jóias da Coroa escocesa estão em exibição; o Great Hall, antigo local de reunião do Parlamento escocês, todo forrado de madeira e decorado com armas; o tocante e grandioso memorial aos soldados escoceses mortos nas guerras mundiais, desde os tempos napoleónicos até à atualidade.

O Palácio dentro do Castelo

O interior do Memorial aos soldados escoceses mortos

O interior do Great Hall...

... decorada com armas

O Castelo é um espaço extraordinário e imperdível, que nos mergulha na história e no desejo de independência da Escócia. Além de que tem uma vista magnífica sobre a própria cidade de Edimburgo.

Edimburgo vista do Castelo

Prometo a mim própria que, se algum dia voltar a Edimburgo, vou visitar os museus que agora só namorei e assistir ao Tatoo Militar. Mas desta vez não pôde ser. Era agosto…




terça-feira, 16 de outubro de 2018

De mota até às Highlands VI – De Dundee a Trafalgar ou vice-versa




Navios históricos, pinguins e eu...

Tínhamos incluído Dundee no nosso percurso pela Escócia por uma razão quase pueril: tínhamos tempo para passear, com algum vagar, entre Perth e Edimburgo e Dundee ficava no caminho para St. Andrews. Porque não passar por lá?
Dundee situa-se no estuário do rio Tay e foi um grande estaleiro naval, onde se construíram muitos dos navios que sulcaram os mares e ergueram o Império Britânico. Ainda aí se encontram alguns desses navios, nas Victoria Docks, hoje chamados navios históricos; é o caso do Discovery, ou do Unicorn, o navio escocês mais antigo ainda a flutuar.

HMS Unicorn, a flutuar desde o século XVIII

Perto dos navios históricos, começámos a encontrar pinguins coloridos, numerados, cada um com a sua decoração particular. Acabaram por nos explicar que há mais de 3 000 desses pinguins, disseminados por toda a região, embora a maioria esteja concentrada na cidade de Dundee. Foram decorados por artistas diferentes e, daqui a algum tempo, serão vendidos num leilão a favor de uma organização que apoia crianças com doenças oncológicas. Entretanto, distribuem-se no centro da cidade cadernetas com autocolantes que se vão colando à medida que se descobrem os pinguins. Vimos várias crianças de mão dada com pais ou avós, com a sua caderneta debaixo do braço, em busca dos pinguins coloridos. Que bela maneira de pôr as crianças e os adultos a caminhar, por uma boa causa!

Mais um irresistível pinguim!

Mas regressemos aos barcos. Aqui em Dundee construíram-se muitos dos navios de guerra que contribuíram para a grandeza do império. E, quando vemos um desses navios, tendemos a esquecer-nos da quantidade de árvores que eram necessárias para construir um navio de guerra. Árvores diversas, consoante o fim a que se destinavam: mais duras para os cascos dos navios, mais macias para instrumentos como o leme…
Por exemplo, quantas toneladas de árvores tiveram de ser abatidas para preparar a armada que venceu os franceses na batalha de Trafalgar? Muitas toneladas, com certeza.
No ano de 2005, o dia em que se comemora a batalha de Trafalgar não foi festejado com desfiles militares, mas com a plantação de milhares de árvores por todo o país. Ao todo, foram plantados trinta e três pequenos bosques, recebendo cada um o nome de um dos navios da armada britânica na batalha.

O local onde foi plantado o bosque Defence

A explicação do projeto Trafalgar Woods

Encontrámos nas Cairngorms o bosque “Defence”, plantado pelas crianças das escolas da região. Que bela forma de comemorar o dia, homenageando as árvores sem as quais a armada não se teria construído! E que bela maneira de ensinar História, olhando para o passado e preparando o futuro!