sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Viver em Veneza

(Vista da laguna de Veneza, a partir da Praça de S. Marcos)

Há alguns anos, no decorrer de um curso internacional, coloquei a um velho professor veneziano uma questão que há muito tempo me intrigava: "Tem automóvel?" Ele abriu os olhos, espantado, e retorquiu-me: "Para quê?"

(Um canal em Veneza, com gôndolas)

De facto, para quê? A única ilha onde se pode andar de automóvel, do conjunto de 112 que compõem a cidade de Veneza, é o Lido, a comprida ilha que fecha a laguna. Aí, há uma avenida que acompanha a praia e várias ruas transversais. Tem um casino, vários restaurantes e muitas lojas. Parece-se com qualquer estância balnear da costa italiana. Veneza é outra coisa, são as outras ilhas da laguna.

(Becos e ruelas em Veneza)

Viver em Veneza significa percorrer ruelas e becos, em sítios onde a terra firme é um bem precioso. É viver paredes-meias com uma das maiores concentrações de obras de arte que a humanidade conseguiu produzir, mas também conviver com as inundações e o perigo de afundamento. 


(Um cais / paragem do vaporetto)

É apanhar o vaporetto para circular nos canais, é entrar e sair nos pequenos cais que servem de paragens. É atravessar uma ponte para entrar em casa.

(Ruas e pequenas pontes)

É chamar um barco rápido se é necessário um táxi, chamar um barco-ambulância se é necessário ir de urgência para o Hospital. É esperar pelo barco da recolha do lixo. É integrar um triste cortejo marítimo, quando há um funeral no cemitério, na ilha San Michele.

(A entrada do cemitério na ilha de San Michele)

É assistir às regatas no Gran Canal. É ter um jardim no telhado.

(Um jardim no telhado)

Um dia, eu estava sentada numa pequena esplanada à beira do canal da ilha de Murano, a comer arancini, quando vi uma cena simples, mas que não esqueci. Chegou um barco, que estacionou entre os outros barcos, na margem do Canal. Dele, saiu um família, o pai, a mãe, e três filhos, cada um com uma mochila da escola às costas (já estavamos em tempo de aulas). Saíram, fecharam o barco e foram à sua vida. O rapazito mais velho ainda voltou atrás, tinha-se esquecido de um saco pequeno, do tipo dos sacos de ginástica. Uma família normal, a viver numa cidade que parece existir apenas num bilhete postal.

(Roupa estendida entre as casas, nos canais)

Viver em Veneza obriga a repensar as concepções de espaço urbano e a organização da vida. Provavelmente, vale a pena.


(Fotografias de Teresa e Fernando Ferreira)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Castelo do Papa

(Vista nocturna do Castelo Sant' Angelo)

Começou por ser um Mausoléu, mandado construir pelo imperador Adriano, em 139. Aí foi sepultado, tal como outros imperadores romanos, que ainda aí têm as suas cinzas. Entretanto, as necessidades militares de defesa da cidade de Roma levam à sua inclusão nas muralhas Aurelianas.


(Maquete do Mausoléu de Adriano)

Mas só ganha o seu nome actual de Castelo Sant' Angelo no século VI. Segundo a lenda, grassava na altura uma terrível peste em Roma, que já tinha vitimado muitos romanos. Em desespero, começam a ser feitas procissões na zona onde hoje se situa o Vaticano. É então que o Papa Gregório Magno afirma ter uma visão, o arcanjo S. Miguel sobre o antigo mausoléu, que passa a ser conhecido pelo Castelo do Anjo. Desde essa altura, serviu de residência, refúgio ou fortificação aos Papas.


(Estátua do Arcanjo S. Miguel no topo do castelo)

Pode chegar-se ao Castelo de várias formas, mas a mais espectacular é, sem dúvida, caminhar pela Ponte Sant'Angelo, sobre o rio Tibre, uma ponte hoje pedonal bordejada pelos belíssimos anjos de Bernini. 


(A Ponte Sant'Angelo)

A subida do Castelo faz-se por uma rampa larga, em espiral, para que os cavalos a pudessem subir rapidamente e este é um dos aspectos mais originais deste castelo. 
(Um dos anjos que acompanham a Ponte)

O Castelo, hoje, funciona como um museu sobre a própria história do castelo. Os aposentos papais são muito bonitos, ornamentados com belos frescos, e o Pátio de Honra mostra vestígios da sua função militar, como balas de canhão. 

(Vista sobre o Pátio de Honra)

No topo do castelo, o terraço é encimado pelo gigantesco arcanjo S. Miguel, uma estátua feita no século XVIII por um escultor flamengo, sobre um desenho de Bernini. Daí se avista também il passetto, uma passagem disfarçada, que unia o Castelo à Basílica de S. Pedro, e que podia fornecer uma via de fuga para o papa, em caso de necessidade.
(Vista sobre il Passetto)

Mas a melhor ornamentação do terraço é a própria vista sobre a cidade de Roma: o rio Tibre, os telhados de Roma, a cúpula de S. Pedro, os pináculos das inúmeras igrejas de Roma, rodeiam o Castelo e proporcionam um cenário inesquecível.
(Vista sobre Roma dos terraços do Castelo Sant' Angelo)

Curiosidade: A planta circular deste edifício influenciou a construção do Forte do Bugio, em Portugal, e do Forte de S. Marcelo, no Brasil. 


(Fotografias de Teresa e Fernando Ferreira)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Château de Chillon

O Castelo de Chillon é, provavelmente, um dos castelos mais encantadores que eu já alguma vez visitei.


É um castelo medieval, cujas origens remontam provavelmente ao século XIII, pelo menos com o aspecto actual. Foi inicialmente construído para os duques de Sabóia, mas, a partir do século XVI, é utilizado pelos bailios de Berna, que dominavam toda aquela região. 

O castelo está impecavelmente conservado. As salas, os torreões, as escadarias, sofreram um trabalho de recuperação e conservação que não é ocultado ao visitante.


Há placards, discretos, mostrando não só as obras de restauro, como também a função dos aposentos. Este aspecto torna a visita ainda mais didáctica.


Todo o castelo está extremamente cuidado. Está tudo limpo,  há vasos de flores a pontuar os caminhos.


Na entrada, junto das bilheteiras, surge a explicação: todo o trabalho de conservação e exploração do Castelo está a cargo de um grupo de cidadãos, o "Grupo de Amigos do Castelo de Chillon", que gerem as receitas, as obras, enfim, tudo o que se relaciona com o castelo.


Evidentemente, um dos aspectos que mais favorece o Castelo de Chillon é a sua localização, nas margens do Lago Leman, que é visível de todas as janelas e passadiços.

O lago e as montanhas que o circundam são um cenário de uma grande beleza, que é também valorizado. É possível fazer passeios de barco entre o castelo e a cidade de Lausanne ou, se o visitante estiver em melhor forma física, há um caminho a bordejar o lago, que serve ainda de ciclovia, e que liga também a cidade de Lausanne ao castelo. 


(Fotografias de Teresa Ferreira)