segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O esplendor da Cantábria



Para quem pensa em Espanha como um destino de sol e toiros, a costa norte deste país reserva algumas surpresas. Este ano, passei as férias familiares na Cantábria, em San Vicente de la Barquera, uma vila piscatória encantadora e, por isso mesmo, muito turística, embora sem os excessos da costa sul. Situa-se num promontório, junto a uma ria que desemboca no Golfo da Biscaia, pelo que o acesso se faz por duas pontes, que proporcionam desde logo belas vistas sobre a vila e a marina.

Tem um passeio marginal rodeado de restaurantes, onde se pode comer peixe fresco, como os chipirones que são a perdição da minha filha, e beber a sidra da região. As ruas são ladeadas de casas antigas e bem conservadas, com as varandas de madeira trabalhada caracterísicas da zona.

No alto do promontório, o castelo e a velha Igreja de Santa Maria de los Angeles guardam a região, até à praia de águas calmas que acompanha a baía. Em dias claros, as montanhas dos Picos da Europa vislumbram-se por trás da igreja e proporcionam um cenário quase cinematográfico.
San Vicente de la Barquera tem ainda outras vantagens: situada muito perto da via rápida da Cantábria, permite deslocações rápidas para vários locais. E se há locais belíssimos para descobrir! Das pequenas cidades de Comillas e Santillana del Mar até Cangas de Onis e as reminiscências da Reconquista Cristã de Covadonga, há imenso para descobrir. Muito perto também, localizam-se as grutas de Altamira, com as suas extraordinárias pinturas de há 15000 anos atrás.

Mas, acima de tudo, deslumbrantes e esmagadores, os Picos da Europa. Constituem o maior parque natural da Europa e são um maciço montanhoso impressionante.

Sucedem-se os picos com mais de 2000 mts, cortados por desfiladeiros de suster a respiração. Por todo o maciço correm rios e riachos, criando caminhos ou precipitando-se em pequenas quedas de água.

Em todas as encostas e planaltos há pastagens e, mesmo nos passeios pedestres, estamos sempre a ladear campos com vacas, ovelhas e mesmo cavalos, que pastam livremente. Nos desfiladeiros e picos, são as cabras que saltam de pedra em pedra. É a Natureza, no seu maior esplendor!

Nota: Absolutamente de recomendar são os deliciosos chocolates artesanais, que existem em inúmeras variedades!

Cantábria - Agosto de 2009 (Fotografias de Teresa Ferreira)

sábado, 29 de agosto de 2009

O Santuário do Livro



O Santuário do Livro foi construído dentro do espaço do Museu de Israel, para albergar os Manuscritos do Mar Morto, isto é, os rolos manuscritos encontrados no deserto, nas grutas de Qumran, e onde está escrita a mais antiga cópia conhecida da Bíblia. O edifício é extraordinário e cada pormenor é pensado e concebido de acordo com a importância e o significado dos manuscritos. Na sala principal, redonda, o centro é ocupado por um enorme rolo, enrolado como um rolo da Thora, onde se encontram excertos de textos do profeta Isaías. A toda a volta da sala, que se desdobra em dois andares, excertos dos manuscritos e objectos encontrados em Qumran, acompanhados por textos explicativos da maneira de viver e da fé dos Essénios, que terão produzido estes manuscritos.

O topo do edifício, a única parte que não está debaixo da terra, é uma enorme cúpula com o feitio da tampa dos potes onde os manuscritos foram encontrados, enrolados e fechados. Essa estrutura, em branco, contrasta com uma enorme parede em mármore negro, simbolizando, frente a frente, a luta entre o bem e o mal, entre a luz e a escuridão, de que falam os manuscritos escondidos lá em baixo, no coração da terra.


Fotografias de Teresa Ferreira

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Museu Guggenheim, em Bilbau



Um dos meus museus preferidos é, sem dúvida, o Museu Guggenheim, em Bilbau. Tem peças e instalações interessantes, que expõe permanentemente, e oferece uma programação anual variada e de bastante qualidade. Quando o visitei, oferecia uma exposição fascinante de trabalhos de Cai Guo-Qiang, o responsável pelo espectáculo pirotécnico dos Jogos Olímpicos de Pequim. Mas o seu grande valor é o edifício em que está instalado e que vale bem uma visita. Concebido pelo arquitecto Frank Gehry, é uma enorme estrutura coberta de placas de titânio. Ou melhor, é um conjunto de estruturas que ondulam e se cruzam e entrecruzam, num jogo de perspectivas sempre diferentes. O único plano realmente direito é o chão, sendo que as linhas curvas imperam, nas paredes, nos elevadores de vidro, nas estruturas de separação dos espaços.

O Museu transborda para fora das suas paredes, para os espaços da cidade que com ele confinam: a ponte sobre o rio, as esculturas no cais e, acima de tudo, o grande cão coberto de pequenas flores que guarda o acesso à entrada do museu.
Sejam quais forem as exposições que guarda dentro de si, o Museu Guggenheim por si próprio é digno de uma visita.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Jerusalém



Quando se chega a Jerusalém, a primeira impressão é a de uma cidade cor de areia. Todos os edifícios são da mesma cor, a cor da areia, a cor do deserto.
Mas esse é o único sinal de homogeneidade. Percebemos rapidamente que é uma cidade de contrastes, onde o antigo coabita com o moderno e o amor coabita com a morte.

Jerusalém é considerada cidade santa por três religiões, judaísmo, cristianismo, islamismo, e aí existem monumentos sagrados para milhões de crentes das três fés. Devia ser uma cidade de paz, no entanto...
Há dois grupos de pessoas que encontramos um pouco por todo o lado: soldados e judeus ortodoxos. O que nos chama mais a atenção, logo que chegamos, são os soldados, em todas as ruas e praças, tanto rapazes como raparigas, já que o serviço militar é obrigatório para ambos os sexos entre os 18 e os 20 anos. É estranho entrar numa loja e ver rapariguinhas a experimentar brincos, ou a comer um hamburguer, com uma metralhadora a tiracolo.
Sendo aqui o centro da Terra Prometida, Jerusalém é também a cidade israelita onde vive um maior número de judeus ortodoxos. Distinguem-se bem, com os seus fatos pretos que parecem fora de moda, camisa branca e as franjas do xaile de oração a aparecerem por baixo do casaco. Na cabeça, um chapéu preto ou, no mínimo, a simples kipah . As mulheres judias ortodoxas também se distinguem bem, com as suas saias pretas, camisas direitas e cabelos escondidos atrás de um lenço, uma pequena boina ou até uma peruca, já que a mulher casada só deve mostrar o cabelo ao marido.

Tirei muitas fotografias a pessoas, homens e mulheres, soldados ou religiosos. De início, são desconfiados, mas depois de perceberem as nossas intenções, tornam-se simpáticos e conversadores, contam sobre as suas tradições e maneira de viver e até gostam de posar para a fotografia!

Há um Centro Comercial junto ao Hotel, que dá também acesso à estação de autocarros. Não tem nada de especial, excepto lojas desarrumadas e poeirentas. Mas a entrada é complicada, porque temos de passar por dois controlos policiais. O primeiro é ainda na rua e é feito por polícias. O segunda é na entrada e é controlo de raios-X, tipo aeroporto. Os israelitas já estão habituados e atroleplam-se para pôr as malas e outros objectos no tapete rolante, têm pressa, querem despachar-se. Para nós, é uma experiência estranha. Mas já começamos a habituar-nos ao controlo policial constante.
Perto do hotel, também há um souk colorido e animado, onde compram e vendem tanto judeus como árabes. Tirei algumas fotografias, mas as fotografias não conseguem captar os pregões gritados dos homens, nem o cheiro intenso das frutas e das especiarias.

(Fotografias de Teresa Ferreira)