quarta-feira, 5 de março de 2014

O Vasa Museet




Há em Estocolmo um museu muito original, pelo seu tema mas principalmente pela forma como está concebido: o Museu de Vasa ou, em sueco, Vasa Museet.
O Vasa, belo e luxuoso, foi um navio construído no século XVII para mostrar o poder da coroa e da marinha sueca. Com as suas altas velas e centenas de figuras esculpidas em madeira, muitas delas pintadas com cores vibrantes, era com certeza um espetáculo extraordinário, na sua saída para a viagem inaugural. No dia 10 de agosto de 1628, o Vasa saiu do porto de Estocolmo mas, à vista de todos os que assistiam à partida, o navio afundou-se.  


Após 333 anos sob as águas, em 1961 o navio foi resgatado. Hoje, depois de um exaustivo trabalho de reconstituição, é a peça central deste museu, que foi construído para o navio e à sua volta. Os mastros são tão altos que ultrapassam os telhados e nos permitem reconhecer de longe o museu.


Lá dentro, o museu está concebido de forma a circularmos à volta do navio, em vários andares, cada um dos quais com diversos núcleos que desenvolvem temáticas diferentes.
Temos a história do navio, mas também do seu resgate, difícil e demorado, do fundo do mar. Aplicações interativas permitem-nos tentar perceber o que levou a um naufrágio tão rápido como inesperado. Há um modelo totalmente equipado do navio e um núcleo que explica o significado simbólico de todas as esculturas e imagens de poder.


Mas encontramos também núcleos que exploram todo o contexto à volta do Vasa: Como era a navegação no século XVII? Como era um estaleiro naval? Como era a vida a bordo? Como decorriam as batalhas no mar naquela época? 


Um dos núcleos mais fascinantes mostra-nos as pessoas que viajavam no Vasa. Muitas delas foram resgatadas ainda dentro do navio e a ciência atual permite saber muitas coisas sobre elas: tipo físico, regime alimentar, carências. Aqueles homens e mulheres ressurgem assim e olham-nos a partir do século XVII, contando muita coisa sobre a sociedade em que viviam. 


No final, uma sala mostra-nos, de forma interativa, como era o mundo na época em que o Vasa foi construído e naufragou.


Hoje, o Vasa Museet é um dos museus mais visitados e uma das maiores atrações turísticas mundiais, dando uma perspetiva única da Suécia do início do século XVII.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Bruges, ou a Veneza do Norte




Quem entra na cidade de Bruges, tem com certeza uma sensação de regresso ao passado. A cidade parece ter parado no século XV, parece ter-se fixado num passado, bem conservado, limpo, um pouco idealizado, mas saído, sem dúvida, dos velhos livros de contos infantis. Quase esperamos ver cavaleiros e tecedeiras flamengas a sair de uma porta ou a dobrar uma esquina. E, no entanto, tudo é real, as casas e os canais estão realmente ali desde a Idade Média, desde o tempo em que Bruges dominava os circuitos das lãs inglesas e dos tecidos flamengos que fizeram a sua fortuna.



A praça central é dominada pelo Hotel de Ville, com a alta torre que representava o poder comunal. Aí, à imagem do que acontece em Bruxelas, dominam as belas casas dos ofícios. Os prédios, estreitos e altos, ostentam os símbolos e cores das corporações, mostrando bem quem ali mandava e criava riqueza.


Mas eu prefiro perder-me pelas pequenas ruas, cruzadas pelos canais, onde circulavam os panos de lã, as rendas, os tecidos bordados. Cada casa conta uma história, enredada nas portas maciças, nas pequenas janelas, nos telhados em degraus, nas figuras que adornam as frontarias.


Portugal também aqui teve uma feitoria, no tempo em que trazíamos à Europa as riquezas do Oriente.
Bruges é uma cidade tranquila, apesar dos turistas que cruzam as ruas e enchem os barcos dos canais. É uma cidade onde nos apetece passear devagar, a admirar os pormenores, a parar nos recantos bucólicos das praças, a olhar os patos que dormem nos vãos das portas.


Van Eyck viveu aqui, Memling também. São eles que fazem reviver o espaço ocupado pelo Hospital, no final da Idade Média.


É um regresso ao passado, mas a um passado depurado de tudo o que existia e era triste, pobre ou incerto. Onde só ficou o lado belo das coisas.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Regata Histórica de Veneza



Corria o já distante ano de 1982. Eu estudava italiano como cadeira optativa na Universidade e ganhei uma bolsa de estudo para um curso de aperfeiçoamento de língua em Perugia, na região italiana da Umbria. Daí a decidir aproveitar a oportunidade para fazer o Interrail e conhecer melhor melhor a Itália, foi um passo. Assim, as viagens de ida e volta, assim como os fins de semana e todos os tempos disponíveis foram bem aproveitados!
Num desses fins de semana, decidimos ir a Veneza. Eu já conhecia a cidade mas, nesse dia, estava diferente. Sentia-se expectativa em todos os cantos. As ruas, largos e canais estavam engalanados, havia faixas e fitas a cruzar as águas. E cartazes, que anunciavam que a Regata Histórica se realizava nesse fim de semana. Não sabia bem o que era, nunca tinha ouvido falar, mas rapidamente percebi que envolvia desfile de barcos e corridas de gôndolas e que era um espectáculo que eu não podia perder.
No domingo de manhã, já estavamos instalados num dos cais que bordejam o Gran Canal. Percebemos que havia venda de lugares, tanto nos cais como nas varandas circundantes, mas a nós ninguém nos incomodou. E lá ficamos à espera, armados de fruta, sandes e fatias de pizza.
A regata iniciou-se com o desfile dos barcos que antigamente cruzavam os canais. Os passageiros iam vestidos a rigor e acenavam com ar majestático, como nobres e grandes senhores que, por momentos, assumiam ser.

Foi um desfile bonito, mas o melhor estava para vir: as corridas de gôndolas. Os gondoleiros competiam com as camisolas e as fitas do chapéu a ostentarem as cores do seu bairro. A multidão aplaudia e incentivava-os, ruidosamente. E eles davam o seu melhor, impulsionando as gôndolas, de pé na popa dos pequenos barcos, ou em conjunto nas gôndolas de seis, oito, dez remadores!
Segiram-se as corridas femininas. Não percebi se corriam pelos seus bairros ou pela cor dos seus cabelos. Havia barcos de gondoleiras loiras, vestidas com túnicas amarela-açafrão, e outros de gondoleiras morenas, vestidas com túnicas de cor púrpura. De pé nas suas gôndolas compridas, seis em cada gôndola, com os cabelos ao vento apanhados pelas fitas da mesma cor das túnicas, impulsionavam os barcos e arrebatavam os espectadores masculinos. Pareciam deusas voando sobre as águas do canal. A multidão ficava ao rubro!
Foi um espectáculo inesquecível!

Descobri que hoje em dia ainda se faz a Regata Histórica de Veneza, todos os anos, no início de setembro. Gostava de lá ir outra vez! Será que ainda arrebata a multidão? Que ainda se compete pelos bairros de Veneza? Ou será que se tornou apenas mais uma recriação histórica, para consumo turístico? Não sei, não há como ir lá para verificar!
Aqui deixo o link promocional do evento, ao pé das fotografias tiradas em 1982. Para fazer a comparação. Ou para planear a viagem!


sábado, 18 de janeiro de 2014

Gibraltar - Impressões do Rochedo


The Rock - É este o nome popularmente dado a esse estranho enclave britânico no sul de Espanha, que controla a passagem do Atlântico para o Mediterrâneo. E, realmente, é esse aspeto, estranho e súbito, do enorme rochedo, a primeira coisa que nos chama a atenção. Eleva-se abrutamente na paisagem, exibindo a sua eterna coroa de nuvens.
Quando se sobe ao topo do Rochedo, percebe-se a origem dessa nuvem. O ar húmido do mar bate na parede alta e escarpada e é obrigado a subir, condensando-se lá no cimo e dando esse aspeto de boné de garoto, atirado com a pala para trás!
Gibraltar não engana ninguém, é um território britânico. Dos nomes das ruas às bandeiras, dos pubs à libra estrlina, a Inglaterra está sempre presente. E, no entanto, são milhares os trabalhadores espanhóis que, diariamente, cruzam a fronteira para trabalhar do lado de lá. Montados nas suas bicicletas ou em pequenas motas, formam filas intermináveis à entrada ou à saída, mostrando a sua identificação com o ar de quem faz desse gesto um costume.


Não são apenas espanhóis, há muitos emigrantes, com os mais variados tons de pele. À entrada ou à saída, juntamente com os turistas, todos param junto à pista de aterragem do aeroporto, que cruza a estrada principal, junto à fronteira. É mais uma das originalidades de Gibraltar!


O topo do Rochedo é um parque e uma reserva natural. À entrada, uma escultura recorda-nos o nome antigo deste estreito: as Colunas de Hércules.
O interior do Rochedo lembra um queijo suiço: quilómetros e quilómetros de túneis configuram uma instalação militar da maior importância, principalmente desde o século XVII. Alguns troços dos túneis são visitáveis, e podem ver-se os canhões e as casamatas, assim como figuras e cenários que reconstituem algumas das batalhas mais significativas que ali se travaram. Mas a maioria dos túneis são absolutamente vedados, pertencendo às instalações militares britânicas, até hoje ali aquarteladas.


Um dos lugares visitáveis mais interessantes, dentro do Rochedo, é uma gruta - St. Michael's Cave - enorme, com belas estalactites e estalagmites, agora transformado numa sala de concertos.


Por todo o lado se encontram macacos. São a única espécie de macacos oriunda da Europa e que ainda aqui vive em liberdade, e são a grande atração do Parque Natural do Rochedo de Gibraltar. É uma colónia enorme, com os membros bem identificados e aparecem em todo o lado. Apesar de haver regularmente avisos para não dar comida aos macacos, há sempre quem o faça, o que os torna atrevidos e mal-educados. Mas não deixam de ser muito engraçados, com as suas brincadeiras, as suas poses e as suas expressões, quase humanas.


Do outro lado do Rochedo, o farol de Europa Point avisa-nos de que estamos num dos pontos extremos da Europa, lugar de passagem mas também de cruzamento de influências diversas. Talvez por isso, o maior edifício ali construído é uma mesquita!
Decididamente, é um Rochedo diferente!


(Texto e fotos de Teresa Diniz)