sábado, 2 de fevereiro de 2019

Os túmulos reais da Macedónia



A entrada do Museu

Em 336 a. C. o rei Filipe II da Macedónia festejava com pompa e circunstância o casamento da sua filha com o rei do Épiro. Toda a família real estava presente, incluindo Alexandre e a sua mãe, Olympia, assim como os principais nobres da corte macedónia e representantes de todo o mundo grego. A festa decorria em Aegae, no teatro junto ao palácio real, presidida pelo sacerdote e tutelada pelas estátuas dos doze deuses do Olimpo. É então que Pausanias, um cortesão, esfaqueia e assassina Filipe, na presença de todos, antes de ser ele próprio morto. Alexandre é aclamado rei da Macedónia e jura fazer ao pai um túmulo e uma cerimónia funerária memoráveis.


A entrada do túmulo subterrâneo de Filipe II da Macedónia

Alexandre o Grande cumpriu a sua promessa. Mandou construir ali perto um túmulo subterrâneo, que encheu de símbolos de riqueza e de objetos que tinham pertencido ao seu pai, como a sua couraça ou o seu escudo. Ao jeito da época, o cadáver foi queimado e as suas cinzas purificadas, antes de serem encerradas num larnax, uma pequena arca funerária de ouro maciço. Por cima do túmulo, mandou erguer uma mamoa de terra e pedras, que escondesse o local do olhar dos inimigos e dos ataques dos ladrões de túmulos.


O recipiente onde foram purificadas as cinzas de Filipe

A História fez o seu trabalho. O tempo foi passando e só em 1977, vinte e três séculos depois, um arqueólogo teimoso - Manolis Andronicos - conseguiu descobrir o túmulo real, junto à povoação grega de Vergina. Nas proximidades, outros túmulos foram encontrados, embora não tão ricos e foi necessária muita persistência para identificar, sem grandes dúvidas, o túmulo de Filipe II, assim como o de Alexandre IV, filho de Alexandre Magno. 


O larnax onde repousavam as cinzas do rei macedónio


O Museu dos Túmulos Reais da Macedónia é uma obra de conceção engenhosa. Entramos num parque, com zonas relvadas e arborizadas. Junto ao portão de entrada, compramos os bilhetes. Confesso que só nesse momento suspirei de alívio: não tinha conseguido comprar os bilhetes online e receava não os conseguir comprar no momento. Tinha dormido mal, a imaginar a resposta de um funcionário indiferente: I'm sorry, no tickets for today! Mas, afinal, foi tudo ao contrário: o funcionário da bilheteira não falava uma palavra de inglês e vendeu-nos os bilhetes sem comentários! Havia muito pouco trânsito na estrada e poucos turistas em Vergina. 


A couraça de Filipe da Macedónia

A entrada no museu é fantástica. Descemos por uma rampa, que nos faz penetrar na terra, no coração da mamoa. A escuridão rodeia-nos. Vamos fazendo um percurso, que nos conduz pelo meio de lápides funerárias encontradas no local, até uns degraus que levam às grandes portas do túmulo. Não se podem franquear essas portas, mas os objetos preciosos que se encontravam no seu interior estão expostos em vitrinas iluminadas, fazendo refulgir o ouro, as pedras preciosas, o marfim. As fotografias são rigorosamente proibidas e nada estraga a magia do momento. Há peças de uma beleza extraordinária, como os pequenos cofres de ouro que continham as cinzas, a couraça de Filipe, o seu escudo. As pequenas peças esculpidas ou embutidas, em marfim, são maravilhosas. Mas as peças mais extraordinárias são os toucados reais, em que os fios de ouro tecem uma tiara, onde se entrelaçam folhas e frutos. O toucado de Filipe II, de folhas de carvalho e bolotas delicadamente esculpidas em ouro, é a peça mais preciosa. E eu acrescentaria: e das mais belas que eu já contemplei!


O diadema de Filipe: bolotas e folhas de carvalho esculpidas em ouro

Na antecâmara do túmulo, um larnax mais pequeno encerra os restos mortais da quinta esposa de Filipe. Sobre a tampa, um diadema de ouro, mostrando pequenas flores de mirtilo. Não é a mãe de Alexandre Magno, é provavelmente uma princesa trácia, cujo nome não ficou para a História. Desconhecida nas crónicas, talvez ignorada no palácio, acabou por ser ela a seguir o seu poderoso marido para a morte.


Diadema em ouro encontrado no túmulo da princesa trácia 

Subo a rampa, em direção à saída do museu e à claridade do dia. É como se saísse de um mundo distante e fantástico, através de um portal que me transporta de novo para o presente. No entanto, estranhamente, é o triste destino desta princesa desconhecida que me acompanha no regresso.

(É estritamente proibido tirar fotografias dentro do Museu, pelo que as imagens acima são quase todas digitalizadas a partir de postais que comprei na loja do Museu)

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