sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A Normandia dos Desembarques




"O dia em que chegaram" - Escultura comemorativa do Desembarque aliado,
em Sainte-Mère Église

Falar da Normandia é falar de um espaço que vai do Monte St. Michel ao porto de Le Havre, um espaço de paisagens diversificadas e com muitos pontos de interesse. Mas o acontecimento que ali se deu em junho de 1944 foi tão poderoso que marca profundamente toda a região e traz constantemente o passado para dentro do presente.


"A Via da Liberdade" . Marcos quilométricos especiais nas estradas por onde avançaram 
as tropas aliadas
Nesse já longínquo ano de 1944, quase toda a Europa estava ainda sob domínio nazi. Era imperioso abrir uma brecha nessa formidável muralha defensiva que asfixiava os europeus, abrindo outra frente de batalha. Os exércitos aliados decidiram que essa brecha seria aberta na Normandia e, desde esse mês de junho, a Normandia foi o palco de uma luta feroz. Passear pelo norte da Normandia é como desfolhar um livro de História, mas com a particularidade de nos transportarmos instantaneamente para os momentos chave que aí aconteceram! Ao ver as praias e as baterias alemãs que as guardavam, percebemos bem a dificuldade de progressão e o sacrifício que foi necessário para as conquistar.


As praias do desembarque

Bateria alemã perto de Omaha Beach

As chamadas “praias do desembarque”, onde as tropas americanas, inglesas, francesas, canadianas, desembarcaram naquela madrugada de 6 de junho, estão todas identificadas, têm memoriais e centros de interpretação, e têm fortes restrições ao turismo balnear. São espaços de memória.
Utah Beach, Omaha Beach, Gold, Juno, Sword… estes nomes de código ficaram na nossa memória coletiva como locais de heroísmo e de sacrifício. Há vários memoriais, estátuas que reconstituem momentos decisivos, placas e colunas de homenagem, evocam-se nomes e unidades militares. E há bandeiras, muitas bandeiras, em nome dos países e povos que ali se juntaram para derrubar o nazismo.



Conjuntos escultóricos em Utah Beach



Partes do porto artificial de Arromanches ainda são visíveis e testemunham essa incrível obra de engenharia que permitiu o abastecimento das tropas aliadas.
Em Utah Beach, há um grande museu do desembarque. Mas esses museus multiplicam-se por toda a região. Muitos lembram as operações militares, no entanto, a vida quotidiana e a resistência não ficaram esquecidas. Há muitos pequenos museus locais, e fiquei com a ideia de que em toda aquela região martirizada, os despojos da guerra – entre tanques e carros militares, fardas e objetos de uso comum, muitas fotografias – servem hoje para manter a memória e a economia local. Não me choca esse uso da história. Se alguém quiser comprar um capacete alemão ou um apito de comunicação das tropas americanas, este é o lugar a visitar!


Museu da Batalha da Normandia em Bayeux


Museu da Vida Quotidiana sob a Ocupação, em Falaise


Fugir à frente das tropas ocupantes...

Sainte-Mère Église é outro ponto de visita obrigatório. Ali aconteceram os primeiros lançamentos de paraquedistas, que deveriam apoiar o desembarque naval. A violência do que se passou está patente nas figuras que rodeiam o largo principal, como a do paraquedista que ficou preso no campanário da igreja.

Sainte Mère Église - A figura de um paraquedista pendurado na igreja recorda
os episódios do Dia D



Os vitrais reconstruídos da igreja de Sainte Mère Église também prestam
homenagem aos paraquedistas

As praias onde os soldados aliados desembarcaram foram portas de entrada da democracia e da liberdade, contra a barbárie nazi. Mas, a que preço! Há vários cemitérios de guerra na região, americano, inglês, até alemão. Só visitámos o cemitério americano, esmagador nos milhares de campas que se alinham à nossa frente, tocante nos pormenores que não nos deixam esquecer que cada campa abriga os restos de uma pessoa, igual a nós, com os seus familiares que não o esquecem, os seus sonhos, os seus medos.

Cemitério de Guerra Americano de Colleville-sur-Mer



Após dias de intenso combate, a cidade de Bayeux foi a primeira a ser libertada. Esta cidade tem um museu extraordinário, que abriga a grande tapeçaria mandada fazer no século XI para comemorar a conquista da Inglaterra pelo duque Guilherme da Normandia, em 1066. É uma peça magnífica, quase uma enorme banda desenhada (de 70 metros!), com uma expressividade e um colorido notáveis, que se destinava a ser exposta anualmente na Catedral de Bayeux. Completa-se, como um ciclo que se fecha, com um cartaz de 1944, também ali exposto: “Novecentos anos depois, eles voltaram para nos salvar!”


Da Tapeçaria de Bayeux ao Dia D