sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Manneken Pis

Tenho ouvido várias vezes a pergunta, quase escandalizada de tão surpreendida: "O quê? Bruxelas é uma cidade tão antiga e tão rica e o seu símbolo é um miúdo a fazer xi-xi? Uma estatuazinha numa esquina, que não chega a medir um metro de altura?"

(O Manneken Pis... uma réplica, claro!)

Tudo tem a sua razão de ser. Conta a tradição (uma delas, porque há muitas versões!) que um rico burguês da cidade teria perdido o seu filho durante uns dias de festa, encontrando-o ao fim de cinco dias, naquela mesma esquina, a fazer o que o MannekenPis faz ainda hoje. O pai, reconhecido, teria mandado fazer aquele pequeno memorial! 
Ao certo, sabemos que a pequena estátua foi obra de Duquesnoy e data de 1648. Dali, jorrava água nos dias normais, e vinho em dias de festa! Hoje, nem água potável dali sai. No entanto, continua a ser acarinhada pelos habitantes da cidade e ponto de passagem obrigatório para os turistas.
Por duas vezes, a imagem do rapazinho nú foi roubada e depois devolvida aos bruxelenses. Da primeira vez, foram os ingleses os autores do roubo; da segunda vez, foram os franceses, no reinado de Luis XV. Terá sido este rei quem, para acalmar os habitantes de Bruxelas, condecorou o rapazinho com a cruz de São Miguel, conferindo-lhe um grau de nobreza e um fato de cavaleiro. Inaugurou uma tradição que se mantém até hoje, de vestir o Manneken Pis com as indumentárias mais variadas, que vão do fato de combatente de 1830 até ao fato de estudante da Universidade de Bruxelas. Também tem recebido fatos tradicionais de muitos países à volta do mundo: tem fatos de samurai, de toureiro, de astronauta... O seu guarda-roupa é invejável e pode ser visto no Museu da Cidade de Bruxelas.

(O fato de cavaleiro - a primeira indumentária)

O pequeno Manneken Pis vai exibindo as suas variadas vestes nas festas da cidade. Mas é na sua nudez e inocência que ele se assume como símbolo dos seus habitantes. Assim o afirma uma antiga quadra popular:


          Ma nudité n'a rien de dangereux,
          Sans péril, regardez-moi faire;
          Je suis ici comme l'enfant heureux
          Qui fait pipi sur le sein de sa mère...