quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Um passeio pelo Vale do Varosa

O Mosteiro de São João de Tarouca

O rio Varosa é um afluente da margem esquerda do rio Douro, que nasce na Serra de Leomil e desagua quase em frente ao Peso da Régua. Corre por um valezinho fértil e sereno, onde muito cedo se estabeleceram casas monásticas mas também as grandes casas senhoriais ligadas ao começo da nossa nacionalidade. Hoje, passear pelo vale do rio Varosa é regressar a esse passado, e pensar como o devemos tratar e o que devemos fazer com ele.


Túmulo de Pedro Afonso, filho de D. Dinis e patrono do mosteiro

Vista da sacristia

O edifício mais imponente do vale é, sem dúvida, o Mosteiro de São João de Tarouca. Este grande mosteiro da Ordem de Cister foi edificado a partir de 1154 e foi uma pedra chave para o desenvolvimento económico e cultural daquela região. Tornou-se um estabelecimento enorme, do qual hoje só visitamos uma pequena parte, já que a extinção das Ordens Religiosas levou à venda do complexo monástico a um particular, que o utilizou como pedreira! Salvou-se a igreja do mosteiro, convertida em igreja paroquial. É uma igreja magnífica, que guarda muitos pequenos tesouros afavelmente explicados pela senhora que guarda a entrada.

O Orgão da Igreja


Pormenor de altar


São Pedro - pormenor de altar

Pormenor do Cadeiral
Do resto do enorme complexo, incluindo a cozinha, as celas, o scriptorium, a sala do capítulo, podemos ter uma ideia através da reconstituição em 3D disponibilizada no Centro de Interpretação do Mosteiro, inaugurado apenas no ano passado e que vale a pena percorrer. É muito interessante, porque não pretende contar apenas a história do monumento, mas sim permitir um olhar sobre a vida dos monges, através de objetos e pormenores fascinantes.

O Centro Interpretativo do Mosteiro

Máquina de fazer hóstias...

Na época medieval, em que aqueles territórios estavam divididos pelo clero e a nobreza, os rios eram fronteiras em que havia que pagar portagem, e o rio Varosa não é exceção. A grande torre fortificada que fecha a ponte em Ucanha é disto um bom exemplo. É muito bonita e imponente, e creio que é a única ponte fortificada no nosso país (por isso me parece estranho que não seja mais conhecida...).

A Torre de Ucanha

Por baixo da torre, a ponte de Ucanha

Esteve durante muito tempo ao abandono, até que um ilustríssimo filho da terra, o professor Leite de Vasconcelos, doou dinheiro para a sua recuperação. Não é, portanto, de estranhar que a exposição patente dentro da Torre seja sobre a vida e obra de Leite de Vasconcelos. Mas a visita vale a pena, nem que seja pela bela paisagem que se abarca lá do cimo...

No interior da Torre
A ponte de Ucanha vista do alto da Torre

O vale do rio Varosa foi também escolhido para o estabelecimento de outras casas monásticas, como Santa Maria de Salzedas e o Convento de Santo António de Ferreirim. Ainda tentei visitar o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, mas cheguei em cima das dezoito horas, isto é, à hora do encerramento da igreja e do centro interpretativo, e já não consegui. A fachada da igreja não deixa perceber que se trata de um edifício que data de 1168, patrocinado pela mulher de Egas Moniz, mas as duas torres inacabadas mostram-nos que a extinção das ordens religiosas, em 1834, parou abrutamente uma construção que continuava em curso.

A fachada do Mosteiro de Salzedas


As torres inacabadas de Santa Maria de Salzedas

Em frente ao Mosteiro, fica o bairro do Quelho, o antigo centro do burgo de Salzedas. Segundo a informação disponibilizada num painel informativo, integrava uma zona habitacional e a antiga judiaria e ali se podem ver as técnicas construtivas medievas. Infelizmente, está como se vê na fotografia... 

O Bairro do Quelho

O vale do rio Varosa é um pedacinho de Portugal que vale a pena conhecer, onde as pedras contam histórias. É um sítio para percorrer com tranquilidade, como as águas que correm serenas sob as pontes, desde há séculos.


Uma das pontes românicas que cruza o rio Varosa