domingo, 2 de setembro de 2018

De mota até às Highlands I – O princípio da viagem


Partida de Santander rumo a Portsmouth, com o Centro Botín em primeiro plano

Quem gosta de viajar conhece bem aquela excitação do momento da partida, quando finalmente pomos em prática todos os preparativos que se foram sucedendo ao longo de meses. Está tudo preparado, ao pormenor, e esperamos que só haja imprevistos positivos e enriquecedores da experiência da viagem. Infelizmente, houve alguns imprevistos bem desagradáveis, mas lá os conseguimos ultrapassar com alguma sorte e muita determinação. E também esse é um dos ensinamentos da viagem: nem tudo se consegue controlar e é preciso, em cada momento, saber lidar com os percalços inesperados.
A primeira etapa levou-nos até Burgos. Mais de 700 quilómetros que se fazem muito bem, nas autovias de Espanha. Algumas paragens estratégicas, para desentorpecer as pernas e abastecer a mota. O almoço foi em Castellanos de los Moriscos (que estranho nome!), exatamente no mesmo comedor onde parámos no ano passado.


A belíssima Catedral de Burgos (exterior)

A belíssima Catedral de Burgos (claustro)

À chegada a Burgos, a decisão era apressar-nos para encontrar a catedral aberta. No ano passado, visitámos o centro histórico de Burgos, a terra do Cid el Campeador, capital de Castela e bastião da Reconquista. Este ano, reservámos todo o fim da tarde para a catedral, iniciada no século XII e Património da Humanidade. É impossível descrevê-la com justiça, há que a visitar com vagar, olhar os tectos, os retábulos, as esculturas policromadas, e deixar-nos penetrar pela sua beleza ímpar!


Pormenores: a Porta do Paraíso...


...pormenor de um retábulo...

...estátuas jacentes dos Condestáveis de Castela...

...com o cãozinho aos pés, eterno símbolo de fidelidade.

A escadaria dourada

Burgos merecia um post inteiro, mas terá de ficar para outra ocasião.
O ferryboat para Portsmouth, onde iniciaremos realmente a nossa viagem rumo à Escócia e às Highlands, partiu de Santander. Com a exceção do pequeno espaço da Catedral, nada é antigo. Santander foi destruída por um incêndio em 1941, recordado num conjunto escultórico junto do Centro Botín e junto ao mar. A partir daí, a cidade reconstruiu-se, vibrante e moderna, virada para o futuro.


Catedral de Santander

O Centro de Artes Botín

As esculturas de José Cobo Calderón que recordam o incêndio de 1941

A saída do porto de Santander, rumo a norte, é belíssima! Passamos pelas praias, pela Península da Magdalena... A cidade vai desfilando à frente dos nossos olhos, com os Montes Cantábricos a desdobrarem-se em planos quase infinitos, até que o farol, na sua pequena ilha, determina as despedidas.


A península da Magdalena, com o palácio mandado construir por Afonso XIII

A ilha do farol

O mar está encrespado e a ondulação faz-nos vacilar como bêbados pelo navio.
É impossível não me lembrar do ferryboat em que fizemos a ligação entre Génova e Barcelona. São dois grandes navios, que transportam pessoas e veículos sobre as águas, de um porto para outro desta nossa velha Europa. As semelhanças ficam-se por aí. Escrevi na altura sobre esse barco, essa viagem, essa mistura humana tão mediterrânica. Espanhóis ruidosos, outros viajantes discretos e fleumáticos, centenas de marroquinos por todo o lado, deitados no chão ou nos assentos do cinema. Havia um restaurante halal e uma sala de oração. O Mediterrâneo sobre as suas águas.
Este navio tem um ambiente totalmente diferente. A grande maioria dos viajantes são ingleses, famílias que regressam de férias, motards que estiveram na concentração de Faro e que regressam também a casa. Conversamos com alguns, trocam-se informações. O ambiente é tranquilo. Há uma sala com poltronas para quem não reservou uma cabine, maioritariamente jovens. O cinema passa, efetivamente, filmes, em vez de servir de dormitório. Há um bom restaurante gourmet, além dos self-services. Há até um canil com acomodações individuais e um espaço para os cães passearem e brincarem com os seus donos. Estivemos a vê-los brincar, ao final da tarde, enquanto conversávamos com a dona galesa de dois cãezinhos farfalhudos e adoráveis, o Chico e o Benji, ambos resgatados em Espanha, há já alguns anos.


O espaço para os cães, no navio Pont Aven

Dois barcos, dois percursos. Na verdade, duas Europas e duas culturas diversas. Mundos diferentes, talvez complementares, talvez compatíveis!




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