segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

BRENOIRE 2017 - II


A catedral de Orléans

As marcas dos cultos célticos e druídicos estão muito presentes em França, particularmente no noroeste. Na Bretanha, encontram-se por todo o lado grupos de menhires e os alinhamentos de Carnac ainda hoje nos espantam e interrogam. Mas também os encontramos noutros locais. Lembro-me de, já depois do Vale do Loire, encontrarmos uma indicação na estrada para o Menhir de Ceinturat. Não estava nos nossos planos, mas passou logo a estar!... Depois de cerca de um quilómetro em off-road e mais um bocado a pé, deparámos com o enorme menhir, com cerca de cinco metros. Um placard identificava o menhir, contando que estava rodeado por uma lenda: as raparigas que quisessem encontrar noivo, tinham de atirar uma moeda e colocá-la no seu topo plano. Atendendo à quantidade de moedas que lá estava, ainda há por aí muita gente à procura de parceiro!


Alinhamentos de menhires em Carnac

O menhir de Ceinturat

O Vale do Loire, compreendendo o rio Loire e os seus afluentes, é uma região ímpar. Com os seus inúmeros castelos e abadias ligados, de uma forma ou de outra, à monarquia francesa, implantados em locais de grande beleza, banhados por rios tranquilos, constitui um conjunto considerado como Património da Humanidade.


Interior da Abadia de Cléry


O Loire visto do Castelo de Amboise

aqui escrevi também sobre os Castelos do Loire e, por isso, não me vou alongar no tema. Queria apenas deixar um bom conselho: se houver alguma disponibilidade de tempo, explorar para lá dos castelos mais conhecidos. Castelos como Chambord ou Chenonceau estão sempre a abarrotar de turistas, despejados de consecutivos autocarros e, por vezes, até se torna incómodo ver bem os locais no meio de tanta gente.


Estátua de Joana d'Arc em Orléans


Igreja de Notre-Dame-la-Grande, em Poitiers, uma maravilha da arte românica
Há outros sítios, menos turísticos mas igualmente interessantes de visitar. Lembro-me, por exemplo, de Chinon, uma pequena cidade, antiga e pitoresca, nas margens do rio Vienne. As ruas medievais, bem conservadas, sobem pela colina até à fortaleza, que nos lembra a história de Joana d’Arc. Cidade natal de Rabelais, é um local agradável, onde apetece perder (ou ganhar…) tempo.


Em Chinon, subindo para a fortaleza

Estátua de Rabelais, junto ao rio Vienne

Alguns quilómetros a sul de Chinon, situa-se a pequena localidade de Richelieu. Não vem mencionada em nenhum guia turístico, mas merece uma paragem. Integra-se naquilo que foi a grande propriedade doada ao Cardeal Richelieu pelo rei Luis XIII, em pagamento dos seus serviços. O cardeal manda construir a cidade de raiz, seguindo o traçado e a estética arquitetónica do século XVII. Imperam a regularidade e a simetria. A grande rua central é ladeada de prédios de habitação, todos idênticos, segundo o mesmo plano neoclássico. A cidade, de plano quadrangular, é rodeada por uma muralha, como as bastides medievais, e o acesso é feito através de três portas monumentais. Há uma quarta porta, mas é falsa, só para manter a simetria!...


Uma das portas monumentais de Richelieu

Na praça central não podia faltar o museu, que guarda as peças artísticas da coleção particular do Cardeal Richelieu.
Continuamos para sul. Tínhamos decidido parar em Oradour-sur-Glane, para visitar a cidade mártir, mas a experiência é ainda mais angustiante do que já seria previsível. A pequena cidade de Oradour-sur-Glane foi destruída por uma divisão militar nazi em 1944, já depois do desembarque na Normandia. Deslocados do sul de França para a defesa da costa norte, decidem a destruição da povoação como uma lição aos rebeldes franceses. Arrebanharam homens, mulheres e crianças, matando-os a tiro ou na igreja  que incendiaram. Toda a povoação foi destruída pelo fogo.



Oradour-sur-Glane, cidade mártir

Há locais assinalados, mas toda a cidade é um local de suplício

No final da guerra, o General de Gaulle decidiu que a cidade de Oradour-sur-Glane não seria reconstruída, mantendo-se as suas ruínas como um testemunho da barbárie e da alucinação. Hoje, passeamos pelas ruas e vemos os restos daquelas vidas bruscamente cortadas. Aqui, um brinquedo, ali, um ferro de engomar ou uma máquina de costura. Alguns carros, um trator, tudo calcinado.


No meio da vila, passava um elétrico...

As ruínas da igreja pedem-nos silêncio e reflexão

Deixamos para trás estes vestígios de um tempo trágico e rolamos para o esplendor do vale do rio Dordogne. Considerado Reserva da Biosfera, é uma paisagem magnífica. A estrada bordeja o rio e atravessa localidades encantadoras, que sobem pelas colinas coroadas de pequenos castelos. Ao entardecer, o sol enche o rio e as casas de reflexos dourados.


O rio Dordogne

As pequenas vilas nas margens do rio Dordogne

O ambiente é de festa. A Volta à França tinha passado por ali há duas semanas e as ruas e praças ainda estavam engalanadas como para os Santos Populares. Há carros de feno e bicicletas enfeitados com flores de papel. Há camisolas do Tour penduradas em cordas de secar a roupa. Há frases de acolhimento aos corredores. Onde passa o Tour, é uma festa!


O Tour é uma festa!

E é neste ambiente festivo que chegamos a Bergerac. É a nossa última paragem em França, por isso tínhamos preparado uma brincadeira à volta do seu personagem mais famoso, Cyrano de Bergerac, e do seu famoso nariz. Os rapazes tinham comprado uns narizes postiços, que colocaram à entrada da cidade. Do rececionista do hotel até à senhora que nos vendeu uns patês para trazermos para casa, o sucesso foi estrondoso. Após umas fotografias para memória futura junto à estátua de Cyrano, de narizes bem erguidos, iniciamos o regresso a casa.


A chegada dos forasteiros a Bergerac

A estátua do verdadeiro Cyrano de Bergerac
Dirigimo-nos para os Pirinéus, que cruzamos pela velha estrada de peregrinação do caminho francês para Santiago de Compostela, por S. Jean Pied-de-Port e Roncesvales.
Agora, é só rolar rapidamente para casa. Ainda temos de atravessar Espanha e o seu calor tórrido, mas as boas recordações da viagem ajudam-nos a passar o tempo.
Para o ano, há mais viagens e mais histórias para contar.

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