segunda-feira, 15 de junho de 2015

A Grande Mesquita de Córdova


A Grande Mesquita de Córdova

Sempre me  fascinaram as sobreposições culturais. É como se os sítios fossem a base, o substrato em que vão assentando as sucessivas passagens e obras humanas. De cada época, de cada passagem, ficam vestígios, às vezes apagados, outras vezes assimilados. Em poucos locais se consegue ter essa perceção melhor do que na Grande Mesquita de Córdova.

Entrada lateral da mesquita

Sinto que podia dar uma aula sobre a história da Península Ibérica só tendo como material esta grande mesquita. Cada época aqui deixou a sua marca, cada povo a sua pegada.

A cúpula

Pormenor dos tetos
A mesquita original foi construída no século VIII, entre 785 e 787, logo após a invasão muçulmana. Nesse local existia já uma pequena basílica paleo-cristã e dela se aproveitaram algumas colunas. 


Entre os séculos X e XII, a mesquita é ampliada, acompanhando o poderio do Islão na Península. São erguidas mais de 800 colunas, que suportam os magníficos arcos onde o mármore, o granito e o jaspe se juntam, criando um efeito visual único. 


É construído um magnífico mihrab, ou nicho de orações, que apontava na direção de Meca, e onde se guardava uma cópia dourada do Corão. 

O Mihrab


Abre-se um espaçoso pátio, o Patio de los Naranjos, onde os fiéis faziam as suas abluções antes da oração.

O Patio de los Naranjos

Mas a Reconquista cristã avança para sul, expulsando os mouros e substituindo os símbolos de culto. A primeira capela cristã, a Capilla de Villaviciosa, é construída em 1371. Mas o estilo é ainda mudéjar, como nos deixam perceber os seus belíssimos arcos.

A Capilla de Villaviciosa
No século XVI, já toda a Espanha está de novo unificada, sob o reinado dos Reis Católicos. A Grande Mesquita tem agora de ostentar o poder de outra religião. O coração da mesquita é então remodelado, de modo a albergar uma catedral católica, ainda hoje em funcionamento. 

A catedral barroca dentro da mesquita
A sua riqueza barroca contrasta com o espaço circundante, mas não o ofusca. Pelo contrário, integra-se nele como uma gema preciosa, que não faz esquecer o valor da jóia original. É o testemunho de mais uma etapa nessa história milenar.

Os arcos integrados na catedral


Um púlpito barroco
Nessa cidade já de si tão especial como testemunho de interculturalidade que é Córdova, o espaço imenso e esmagador da Grande Mesquita mostra-nos como nenhum outro a passagem do tempo, que avança agregando os elementos culturais anteriores e acrescentando-lhes sempre novas camadas e novas leituras da realidade. Saibamos nós lê-los e respeitá-los enquanto tal.

Pormenor da porta

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