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| Cienfuegos, a Pérola do Sul |
Mal saímos de Havana e nos começamos a internar pelo interior
de Cuba, o panorama muda. Com chuva e temperaturas elevadas durante todo o ano,
a vegetação cresce e cobre os campos como um manto espesso em todas as direções
que o nosso olhar abarca. Calculo que aqui tudo cresce e se multiplica...
Habituada aos verões quentes, secos e inclementes do sul da Europa, aprecio
extasiada o verde luxuriante. Os urubus voam em círculos, à procura de algum
animal morto, ou pousam nos postes da estrada, por vezes de asas abertas para
secar as penas.
As estradas, em geral, são más, cheias de buracos e sem
marcação de qualquer espécie, por isso avançamos com cuidado. No entanto, o
trânsito é pouco. À medida que nos afastamos das cidades principais, os
automóveis começam a ser substituídos por carroças puxadas por cavalos. Vêem-se
alguns bicitáxis e muitos camponeses ainda se deslocam a cavalo, com um grande
facalhão para os trabalhos do campo preso nos arreios.
As pequenas localidades são todas parecidas. Pequenas casas
quadrangulares, com uma grade na parte da frente. Uma escola, identificável
pelas palavras de ordem revolucionárias. Um posto médico ou dispensário,
identificado com um número. Pequenas bancas de mercado, geralmente animadas. Na
beira das estradas, também aparecem produtos que os camponeses trazem para uma
venda informal, em bancas improvisadas nos muretes da estrada. Vendem as frutas
e os legumes da época, um ou outro pote de mel.
A primeira cidade que visitamos, depois de Havana, é
Cienfuegos. Foi fundada por colonos franceses na costa sul da ilha, aninhada
numa vasta baía, e ainda mantém uma certa elegância. Percebo porque lhe
chamaram “Pérola do Sul”. Cienfuegos vivia do comércio e a baía acolhia um
porto importante, por onde se escoava a produção de açúcar e de café.

Amanhecer na baía de Cienfuegos
O centro da cidade é o Parque José Martí, o herói da
independência de Cuba, com lugar marcado em todas as localidades onde
estivemos. No centro da praça há uma estátua do herói cubano mas quem domina o
espaço são os rapazes que jogam à bola, descalços mas com um entusiasmo
imenso... Reparo que um deles enverga uma camisola da seleção portuguesa de
futebol com o número 7. Cristiano Ronaldo, um herói global.

O topo norte da praça 
José Martí, o herói de Cuba 
Futebol na praça
A praça é bonita e equilibrada. Num topo, a catedral, no
outro um pequeno arco de triunfo. A um dos lados, o edifício do Partido
Comunista, como sempre o mais bem conservado. Do outro lado, o belo Teatro
Tomás Terry, remanescente de épocas mais prósperas. Ao lado do Teatro, o café
do Ariel salvou-me, nesse dia: não havia eletricidade em toda a cidade, como
aliás é comum, mas ali havia um gerador e conseguimos tomar um café!

O Teatro Tomas Terry... 
... e o pequeno Arco do Triunfo, ao fundo da praça
A rua principal é o Paseo del Prado, uma longa rua rodeada de
casas com arcadas de inspiração neoclássica, claramente uma inspiração
francesa, mas que resulta muito elegante! No meio do Paseo, a estátua de Benny
Moré, o criador do mambo, dá o toque final da elegância cubana!

O Paseo del Prado
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| Benny Moré |
A baía de Cienfuegos é uma vasta concha que se abre para o
mar. Ao longo da baía, até à chamada Punta Gorda, sucedem-se belas casas e
palacetes, construídos por famílias de posses no século XIX e princípios do
século XX. Quase todos esses edifícios estão ocupados pelo Estado cubano. Ao
fundo da baía, o palacete mais bonito é o Palacio del Valle. Pode-se visitar e
é exuberantemente luxuoso! Hoje, funciona como um restaurante de luxo, apenas
para turistas!
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| A Punta Gorda |
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| Uma das salas de restaurante do Palacio del Valle |
O antigo Clube Náutico continua com a mesma função. Aí
almoçámos, nem bem nem mal, porém, a máquina de café estava avariada (ou assim
me disseram...) e ninguém teve vontade de pensar numa alternativa. A marina
tinha uma característica estranha, mas que não identifiquei imediatamente: os
barcos eram todos idênticos e todos de propriedade estatal. Apenas para uso
turístico!

O Clube Náutico 
A bela baía de Cienfuegos
O passeio de barco pela baía continua a ser muito bonito. No
entanto, este sentimento de que estamos numa espécie de cenário para utilização
turística, usufruindo de coisas que estão interditas aos próprios cubanos,
deixou-me com um gosto amargo na boca.

O Palacio del Valle visto da baía










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