terça-feira, 9 de julho de 2024

A ocidente e a oriente do Nilo – Os templos

 

O Nilo visto do nosso hotel em Luxor

Para os egípcios, é desnecessário nomear o Nilo. É o único rio, não tem concorrentes ou afluentes, apenas canais. Heródoto escreveu: “O Egipto é um dom do Nilo” e, realmente, sem o Nilo não haveria Egipto, encaixado entre dois desertos. O Nilo é o criador dessa faixa de terra extraordinariamente fértil que ali permitiu o desabrochar da vida e da civilização.

À beira de um canal do Nilo

Subindo o Nilo

É fascinante subir ou descer o Nilo de barco e observar, com vagar, as suas margens que vão desfilando à nossa frente. A atividade agrícola é intensa, embora não intensiva. Os palmeirais alternam com campos de cana de açúcar. Há pequenas bombas manuais para extração da água da rega. E os burros continuam a ser um meio de transporte muito utilizado. De vez em quando, uma cabana ou um pequeno conjunto de casas de adobe. Arrumos? Habitações? Não sei, mas percebo que, se recuasse cem ou mil anos, a paisagem não seria muito diferente.

Pequenas aldeias nas margens

Os burros continuam a fazer o seu serviço

O Nilo sempre foi a referência para todos os aspetos da civilização egípcia, desde os tempos faraónicos. Definia os tempos agrícolas, definia o calendário, definia a organização social e política. Era indissociável das crenças e festividades religiosas e o curso do rio era a grande referência para o culto. Para oriente do rio, onde o sol se levantava, era a terra dos vivos e do culto aos deuses. Para ocidente do rio, onde o sol se punha, era o lado dos mortos e do mundo do além.

Fachada do templo de Kom Ombo

Olhando para o mapa do Egipto, esta referência torna-se muito nítida: na margem oriental do Nilo, o lado do Levante, sucedem-se os grandes templos, lugares de celebração da vida e da continuidade; na margem ocidental, o lado do Ocaso, é o lugar dos túmulos. Basta passar para lá da faixa verdejante das culturas para encontrar o deserto e o reino da morte, mas também da imortalidade.

Entrando em Karnac

Os carneiros de Amon


Em nenhum local isto é tão claro como em Karnac. Karnac era o grande complexo religioso do culto ao deus Amon. Os seus sacerdotes administravam todo o património de Amon, ao qual pertencia o templo de Luxor, situado na margem oriental do Nilo, assim como os recintos funerários que se localizavam ana margem ocidental do rio. Funcionava portanto como um grande centro administrativo dominado pela classe sacerdotal.

Bela gravação de Amon na parede do templo

As colunas de Karnac

Dentro do complexo

Ao longo do Império Novo, Karnac foi crescendo até se transformar numa enorme cidade-templo. Incluía vários locais de culto, caminhos processionais com santuários, palácios, instalações administrativas e armazéns.

O lago sagrado de Karnac

O escaravelho sagrado... sim, também dei sete voltas ao escaravelho...

Também existe uma mesquita no complexo de Karnac

Os faraós tutmósidas mandaram aqui construir o grande templo de Luxor, para constituir a residência sul de Amon. No decorrer da festa de Opet, Amon-Ré deslocava-se de Karnac para Luxor, a fim de realizar a sua regeneração divina.

Entrando em Luxor

Aos pés do grande faraó


Pátios interiores

A grande avenida processional por onde era transportada a barca divina com a estátua de Amon ainda hoje é impressionante. É uma avenida larga, ladeada de esfinges que guardam o caminho percorrido pelo deus. Muitas esfinges estão danificadas ou desaparecidas, mas as que ainda se mantêm de pé são muitas e garantem a grandiosidade da avenida de cerca de 2 quilómetros. Uma réplica da barca divina marca o seu espaço na avenida e eu imagino-a cheia de gente acenando ao deus que passa com flores e folhas de palmeira, cheios de temor e esperança na renovação da vida em todo o Egipto. Talvez conseguissem vislumbrar a imagem do deus. 

As esfinges da avenida processional

Réplica da barca que transportava a imagem do deus

Sabemos que cada templo possuia uma imagem escultórica do deus que aí se venerava, fosse ele Amon, representado por um carneiro, fosse Sobek, o deus-crocodilo, ou outro qualquer. Infelizmente, quase todas estas estátuas de culto se perderam com o correr do tempo, já que eram feitas com metais nobres, tendo por isso sido roubadas ou fundidas.

Imagem de Isis com o pequeno Horus ao colo 
(Novo Museu da Civilização Egípcia)

Imagem de Sobek (Museu de Kom Ombo)

Hoje, Luxor é uma cidade grande que vive muito do turismo. Fomos fazer um passeio noturno pela cidade, de charrete. A avenida processional estava iluminada e proporcionava uma bela visão. De resto, a cidade pareceu-me idêntica a qualquer bairro do Cairo, com muitas lojas, muita luz, muita gente na rua e muitos minaretes. Fuad, o rapazinho que conduzia a nossa charrete, tinha 14 anos, trazia uma túnica impecavelmente limpa e fazia o seu trabalho com seriedade: enquanto nos brindava com sorrisos, ia apontando para o que lhe parecia mais interessante e enxutava energicamente os outros miúdos que tentavam  agarrar-se à charrete para nos vender milhentas bugigangas. Garantiu-me que estava na escola e por isso ganhou umas quantas libras egípcias de gorgeta.

Fuad, o condutor da nossa charrete


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