sábado, 18 de setembro de 2021

Bukhara monumental

 

A mesquita Bolo Hauz com a sua grande piscina de ablução

Chegámos a Bukhara ao fim da tarde, o que foi uma vantagem inesperada. Depois da instalação no hotel e do jantar, saímos para um passeio noturno pela cidade, numa espécie de exploração inicial do espaço. E isso permitiu-nos ter uma primeira impressão quase feérica daquele que foi um dos principais centros da Rota da Seda.

O minarete Kalom à noite

A mesquita Kalom à noite

Para o viajante, Bukhara tem uma grande vantagem em relação a Samarkanda: o centro histórico, a cidade antiga, é relativamente homogéneo e consegue calcorrear-se a pé, absorvendo as formas, as cores, os cheiros, enfim, o espaço. Antigamente, estava dividida em duas zonas, a judaica e a muçulmana. Os principais monumentos situam-se na zona muçulmana, mas os judeus tinham uma importância muito grande no comércio e na economia da cidade. Hoje, o bairro judeu está quase despovoado de judeus, que emigraram para Israel. Mas é consolador estar numa cidade de onde os judeus saíram por escolha e não em fuga de perseguições e tentativas de extermínio.

À noite, as velhas zonas comerciais estão encerradas

Mesmo assim, alguns persistem no seu bairro. Fomos almoçar a uma casa particular, que recebe pequenos grupos de comensais. Aí pudemos apreciar, não só o “arroz pilaf” característico da região, como o requinte decorativo da própria casa, que nada no exterior traduz.

Entrar numa casa particular...

... com interiores belos e delicados.

Bukhara é uma cidade belíssima, cheia de motivos de interesse, tantos que tenho até dificuldade em fazer uma seleção. Um dos monumentos mais fascinantes da cidade – e o mais antigo – é o mausoléu do fundador da dinastia samânida, Ismail Samani, datado do século X. Alberga também os sarcófagos de outros membros da sua família. É totalmente construído com pequenos tijolos, organizados em padrões delicados e intricados, por baixo de uma abóboda circular.

O mausoléu de Ismail Samani

Reza a história que, quando da invasão de Gengis-Khan, os habitantes de Bukhara enterraram o mausoléu em areia e lama, para o protegerem. Efetivamente, foi poupado à destruição e só foi descoberto e recuperado na década de 30 do século XX!

O trabalho em tijolo é bem patente no interior do mausoléu

Pior sorte tiveram todos os outros monumentos de Bukhara. Gengis-khan mandou arrasar a cidade. Só poupou da destruição o minarete Kalom, do século XII, tão belo que sensibilizou o próprio Khan. Pioneiro no uso da cerâmica azul, o minarete ali se mantém, tão belo de dia como de noite...

No interior da mesquita Kalom

O tanque de abluções da mesquita Kalom

O centro histórico de Bukhara inclui várias mesquitas e madrassas, todas interessantes e todas diferentes dentro da sua traça arquitetónica muito peculiar. Muitas estão desativadas das suas funções religiosas e funcionam como espaço de espetáculos, ou hotéis, ou simplesmente como bazares, onde tudo se pode comprar e vender. Afinal, estamos no coração da Rota da Seda e o negócio comanda a vida!

A mesquita Chor Minor

Recordo a pequena e original Chor Minor, com os seus quatro minaretes rematados com cúpulas azul-turquesa. A madrassa Ulughbek é uma das mais antigas e interessantes: foi um centro de estudos de teologia, mas também de matemática, astronomia, geografia. Ulughbek, neto de Tamerlão, é uma personagem fascinante, sobre quem escreverei no texto sobre Samarkanda, a propósito do Observatório que aí construiu.

Parede lateral da madrassa Ulughbek

A madrassa Abdulaziz khan é uma das mais ricamente decoradas, mas eu confesso que a recordo melhor por ter sido o local onde comprei duas belíssimas almofadas, bordadas a fio de seda, com os motivos tradicionais uzbeques.

O belo pórtico de entrada na madrassa Abdulaziz khan

Em volta da grande praça Lyabi Hauz, erguem-se três madrassas majestosas, construídas entre os séculos XV e XVI. Uma delas, a madrassa Nadir Divan Begi, foi construída com a intenção de funcionar como um “caravanserai”, mas foi convertida em espaço cultural. No seu aprazível pátio central, assistimos a um espetáculo de música e dança tradicional. Gostei muito, foi muito bonito, não só devido à graciosidade e aos ricos trajes das bailarinas, mas também devido às sonoridades dos instrumentos tradicionais, tão evocativas da Rota da Seda.

O pórtico da madrassa Nadir Divan Begi, com o seu invulgar sol antropomórfico


Bailarinas com os trajes tradicionais

No centro dessa praça, um enorme reservatório de água faz as vezes de um lago. Integra um vasto sistema de irrigação e de piscinas de ablução que utilizavam a água, muito abundante, dos lençóis freáticos. A praça é muito agradável, com jardins a rodearem a grande piscina e esplanadas onde apetece sentar e deixar o tempo correr, devagarinho...

A praça Lyabi Hauz

Deixei para o final a referência à mesquita Bolo Hauz, talvez porque foi das que mais me impressionou. A primeira imagem que temos dela é a de uma profusão de colunas de madeira, ricamente esculpidas, que decora a entrada. 

A colunata da mesquita Bolo Hauz

O mihrab da mesquita

Fui-me apercebendo de que as colunas de madeira esculpida são elementos arquitetónicos comuns e característicos desta região, mas a colunata desta mesquita foi a primeira que encontrei. A beleza das suas vinte colunas, refletidas na piscina de ablução, é impressionante e não encontra paralelo... pelo menos até chegarmos à mesquita Juma, em Khiva. Mas sobre esta mesquita escreverei depois...

O pequeno minarete frente à mesquita Bolo Hauz


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