sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

De mota pelos Alpes VI – E agora, os Alpes italianos


Val Müstair

Começamos mais um dia com a passagem de mais um passo alpino, o OffenPass, em pleno Parque Nacional Suiço. Estamos quase na fronteira da Suiça com a Itália e o tempo está nublado e húmido, o que nos faz temer pela passagem do Stelvio. Mas as nuvens vão abrindo e acabámos por ter um dia bastante claro e ameno.
A primeira paragem foi no Mosteiro de Santa Maria de Val Müstair. É uma igreja muito antiga, fundada por Carlos Magno no século VIII, e é Património da Humanidade. No século XI tornou-se um convento, mas a igreja, dedicada a S. João Batista, ainda é a parte mais interessante do complexo monástico. Tem um conjunto impressionante de frescos românicos, representando vários temas bíblicos e uma estátua de Carlos Magno. Tenho pena de não ter uma máquina fotográfica mais potente, para captar bem a beleza daqueles frescos, tão antigos e ainda com uma cor e um dramatismo tão presentes.

Mosteiro de Santa Maria de Val Müstair

A entrada para a Igreja

Os frescos do altar-mor, vendo-se à direita a estátua de Carlos Magno

Antes de atacarmos o Passo dello Stelvio, paramos em Glorenza, já em território italiano. É uma pequena vila, com uma praça encantadora, idêntica a todas as outras pequenas vilas do norte da Suiça ou da Alemanha. Por vezes, as fronteiras são realidades muito indefinidas… Aí, numa loja de artesanato, comprámos chocalhos, de vários tamanhos e feitios, para trazer de recordação da nossa expedição alpina!
Finalmente, o Passo dello Stelvio! É o mais alto que percorremos nesta viagem, com os seus 2.757 metros. O nosso companheiro de viagem vai à frente, para filmar toda a subida, tornati após tornati, curva após curva. São mais de 40 curvas em cotovelo para cima, mais outras tantas para baixo. A passagem do Stelvio é uma estrada emblemática, para quem gosta de desafios. Os motociclistas e ciclistas enchem todo o percurso. São às centenas, juntamente com os automóveis e auto-caravanas, e entopem a estrada, tornando a subida ainda mais perigosa. O objetivo parece ser tirar uma selfie ou colocar um auto-colante lá no alto. Também o fizemos, pois claro! O cume da montanha está repleto de barraquinhas de feira, que vendem de tudo, desde bifanas a T-shirts. A primeira sensação que tenho é a de um grande circo e não posso evitar uma pequena alergia, parecida com a que senti em La Grande Motte. Talvez esteja a criar alergia às multidões… Mas o ambiente não é o de um circo, é antes o de uma grande festa, que celebra o sentimento de auto-superação! Não vou esquecer tão cedo o sorriso de felicidade do miúdo que pedalava na sua pequena bicicleta, encosta acima, puxado por uma corda pelo pai, montado na sua bicicleta de adulto!

A subida para o Passo dello Stelvio

No topo!

A descida do Stelvio

Depois do desafio superado, não é fácil afastarmo-nos dali e almoçamos num restaurante vocacionado para motociclistas, o Genziana. Soube bem o almoço, mas ainda soube melhor o aconchego da lareira, embora estivéssemos em pleno agosto.
Descemos do Stelvio e começamos a encaminhar-nos para o Lago de Como. A distância ainda é considerável e a estrada tem bastante trânsito, mas nós lá nos vamos esgueirando por entre os carros, com a ajuda de uma ou outra infração menor…

Vista do Lago Como, a partir da abadia de Piona

Já nas margens do lago, paramos na Abadia de Piona, situada num local com uma paisagem magnífica, como magníficos são os seus frescos e seus claustros. Começou por pretencer à Ordem de Cluny, mas hoje está entregue aos Cistercienses. Foi classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, como alguns outros monumentos onde temos vindo a parar, numa quase rota alpina da arte românica.

O interior da igreja de Piona

Os claustros da abadia

E chegamos a Varenna mesmo a tempo de apanhar o barco para Bellagio. Que bem me soube a travessia do lago de Como! As casas coloridas descendo as encostas, o azul do lago esbatendo-se no céu e numa neblina leve que teimava em cobrir as montanhas… muito, muito bonito! Mais uma vez, apeteceu-me parar ali, ficar num destes hotéis à beira do lago, a apreciar a paisagem com um copo de vinho branco na mão… mas, mais uma vez, temos de continuar viagem.

As casinhas coloridas que descem para o lago...

...e a neblina que cai sobre as montanhas

Nas margens do Lago de Como

Breve paragem em Como, para retemperar as forças. A sua localização, espraiando-se pelas margens do lago a que dá o nome, é privilegiada. Há muitos turistas e ali, banhando-se na praia, vi as primeiras banhistas muçulmanas de burkini, no que foi uma das novidades desta época balnear.
Partir de Como, na direção do sudoeste, significa deixar para trás os Alpes. Foi a despedida, e foi muito bem escolhida! Agora, entramos na planície padana, a vasta região banhada pelo rio Pó, entre os Alpes e os Apeninos. Rolamos por longas retas, ladeadas de campos cultivados e grandes casas de fazenda, que nos fazem lembrar os cenários do filme de Bertolucci 1900. Dirigimo-nos para Novara, onde tínhamos hotel marcado. Novara teria merecido uma visita mais atenta, durante o dia. Percebi que o centro histórico é imponente (qual não é, em Itália?). O monumento mais importante é a Basílica de São Gaudêncio, o patrono da cidade, com a sua cúpula imponente. Ali perto, umas arcadas dão passagem para um grande pátio quadrado, ladeado por quatro edifícios históricos, de épocas e estilos não coincidentes, mas formando um complexo arquitetónico monumental. É Il Broletto. Hoje, alberga várias instituições turísticas e culturais, como a galeria de arte moderna Giannoni. Acabamos por comer qualquer coisa num belíssimo palácio quinhentista, transformado em centro cultural.

Perspetiva de Il Broletto

Outra perspetiva de Il Broletto


O nosso hotel em Novara ainda nos vai reservar algumas surpresas, mas isso fica para a próxima crónica…

A magnífica cúpula da Basílica de São Gaudêncio

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