sábado, 13 de julho de 2019

À procura de âmbar e relógios de sol em Gdansk


Gdansk, debruçada sobre o rio Vístula


Chegámos a Gdansk à tardinha e pouco mais fizemos do que procurar o hotel para pousar as malas, jantar e passear um pouco à beira do rio Vístula. O nosso hotel chama-se Fahrenheit, em homenagem ao grande cientista nascido na cidade. Descobrimos depois que o seu termómetro de mercúrio ainda está exposto na rua principal. Outro cientista famoso foi Hevelius, astrónomo e estudioso dos céus desconhecidos, recordado numa praça da cidade que descobrimos também a caminho do hotel.


Estátua do astrónomo Hevelius, na praça que lhe presta homenagem


Mas a hora era de jantar e descansar. Jantámos no Bowke Gdanski, que nos tinham recomendado: experimentei bacalhau fresco, que estava delicioso e, depois de uma tarte de maçã à maneira polaca, já não estava capaz de fazer mais experiências e descobertas!


Entrada do restaurante, junto ao rio


Gdansk surpreendeu-me pela sua beleza. Quando pensava em Gdansk, pensava em estaleiros e zonas industriais, provavelmente influenciada pela figura de Lech Walesa, marcante no meu imaginário de adolescente. Mas Gdansk é muito mais do que isso!


O Grande Moinho


A cidade de Gdansk (ou Dantzig, durante muita da sua história) fazia parte da Hansa medieval do Mar Báltico, a Liga das Cidades Hanseáticas. Isso significa que, aqui, era o comércio que imperava. E isso é visível na cidade, que se desenvolveu junto à foz do rio Vístula. Nas duas margens do rio, cresceram os armazéns e casas ligadas ao comércio e transporte de mercadorias. Uma linha de fortificações protegia a zona portuária; dessa fortificação restam algumas torres, como a elegante Torre do Cisne, e alguns arcos de entrada na cidade.


A Torre do Cisne, na marginal pedonal que ladeia o rio

Porta de Santa Maria


Junto ao rio, pode ainda ver-se a grande Grua, ou guindaste, com que se retiravam os produtos dos barcos. Duas enormes rodas, ativadas por homens que caminhavam no seu interior, faziam mover o guindaste que transportava as mercadorias. Esta Grua é hoje o símbolo de Gdansk e, acima de tudo, uma demonstração viva da tecnologia tardo-medieval.


A estrutura da Grande Grua

Há várias portas de entrada na cidade, que levam a ruas residenciais, ladeadas pelas casas dos mercadores ou dos notáveis da cidade. Apresentam as características escadas para a rua, ornamentadas com corrimões, varandins de pedra esculpidos, gárgulas para escoamento da água da chuva.


Rua Mariacka

Os topos das casas estreitas são profusamente ornamentados e bem pontiagudos, à maneira nórdica. Lembram outras casas de mercadores da Liga Hanseática, numa linha que une as cidades do litoral do mar Báltico. Os edifícios que rodeiam a rua principal, a são extraordinários, cobertos de pinturas e esculturas e culminados pelos seus topos ricamente trabalhados.


Fonte de Neptuno na rua principal, a ulica Długa


Lado da ulica Długa que dá para o rio


Os prédios ricamente pintados não se medem aos palmos

Ainda não falei dos relógios de sol e outros relógios importantes da cidade. Há vários relógios de sol, todos muito bonitos, instalados em vários edifícios. Por vezes, coexistem com os relógios mecânicos, para os corrigir ou confirmar; no início da sua utilização, os relógios mecânicos pareciam menos fiáveis… É o caso dos relógios da Câmara Municipal.


Relógio de Sol na Basílica de Santa Maria

O relógio de sol e o relógio mecânico da Câmara Municipal

O relógio mais extraordinário é o da Basílica de Santa Maria. Data do século XV e está dividido em três partes. Na parte de baixo, vê-se um calendário perpétuo, ladeado por quatro figuras com instrumentos musicais e tendo no centro uma imagem de Nossa Senhora com o menino. Na parte central está o relógio propriamente dito, circundado pelos signos do Zodíaco. A parte de cima é composta por um teatro. Todos os dias, ao meio-dia, a música começa a tocar, abrem-se as portas e surgem os quatro evangelistas e depois os doze apóstolos. Então, Adão e Eva, no topo da instalação, como hoje se chamaria, tocam as doze badaladas. Os evangelistas e os apóstolos recolhem-se. O diabo tenta segui-los, mas fica à porta!


O belo relógio teatro da Basílica de Santa Maria...

... com o calendário perpétuo

Este é dos primeiros relógios com teatro que é feito na Europa. Reza a lenda que os habitantes de Gdansk estavam tão orgulhosos do seu relógio que, quando souberam que o seu construtor tinha sido contratado para construir outro, numa outra cidade da Europa, decidiram tirar-lhe os olhos, para impossibilitar o trabalho. Mas tiveram pouca sorte: o relógio avariou-se e só o seu construtor o poderia consertar! Ainda o chamaram mas o pobre homem não conseguiu fazê-lo. Só no ano passado, em 2018, o relógio foi enfim consertado e, hoje, temos a sorte de poder assistir à representação.
Há muitas outras lendas em Gdansk, como a do Beco dos Beijos, ligada à história de amor de um monge com a filha de um mercador, que, segundo se conta, ali se encontravam às escondidas para namorar. Também lá fomos espreitar…

Galeria de Arte instalada no antigo Grande Arsenal


Umas palavras ainda para o âmbar, o ouro do Báltico, que se vende por todo o lado. Há muitos milénios, havia nesta região florestas tropicais e aqui se concentra oitenta por cento das reservas mundiais dessa resina fossilizada, aquilo a que chamamos âmbar. Por isso há quem chame a Gdansk a cidade dourada. Há um Museu do Âmbar. Também há expositores nas ruas, pertencentes às lojas, e eu andei a namorar umas peças… Mas atrasei-me e, quando voltei às ruas centrais para fazer compras, já estavam a fechar os expositores. Às seis horas da tarde, fecha tudo! Começa a estar frio e as pessoas recolhem-se em casa. Fizemos o mesmo. Lá terei de deixar as compras para depois!

Numa rua de Gdansk...

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