Motas por todo o lado... Não há dúvida, estamos em Itália! |
Quando chegámos ao nosso hotel “La Bussola”, em Novara,
sentimos que tinha alguma coisa diferente do habitual; por exemplo, as nossas
motas ficaram a dormir na garagem, junto a alguns automóveis antigos. Mas só no
dia seguinte, à hora do pequeno-almoço, pudemos explorar as peculiaridades da
decoração daquele hotel. Espalhados por todos os andares, pendurados nas
paredes ou colocados em cima de móveis ou mesinhas, viam-se as mais
extraordinárias coleções de objetos variados: havia rádios antigos e velhas
máquinas de escrever; relógios de mesa e de parede, de todos os tipos e
feitios; panos pintados do oriente e tábuas esculpidas da América do sul;
saleiros e campainhas de mesa; retratos e pinturas naturalistas do séc. XVIII e
XIX; enfim, um conjunto imenso e heterogéneo de objetos, que olharíamos com
naturalidade num museu, mas não esperamos encontrar nos patamares de um hotel.
Afinal, a Diretora do hotel era uma colecionadora entusiasta, que partilhava
algumas das suas coleções com os hóspedes do hotel. Agradecemos!
Ainda tínhamos posto a hipótese de fazer um giro diurno por
Novara, que bem merecia, mas resolvemos rolar para Génova. Temos de estar no
porto, para embarcar, algum tempo antes das 18 horas, e ainda queremos ter um
cheirinho da cidade.
Entramos em Génova por um subúrbio muito, muito feio. Mas
depois chegamos ao centro histórico…
A primeira impressão é a de motas e scooters por todo o lado! Não há dúvida, estamos na Itália! Todo o
ordenamento (ou desordenamento) urbano aponta para a época de maior
prosperidade de Génova, a Baixa Idade Média, quando era a cabeça de um grande
império comercial. A malha urbana é apertada. Em cada canto há uma igreja ou um
palácio, com baixos-relevos sobre as portas e janelas. As ruas são estreitas e
as casas apertam-se e sobem para o céu, cinco, seis, sete andares, para
acomodar toda a população que ali vivia e labutava, no mar e no comércio.
Construída num golfo que é um anfiteatro natural, as casas coloridas descem
para o porto, a fazer lembrar Lisboa.
Uma malha urbana apertada... |
A Ponte Reale, junto ao porto |
Baixos relevos sobre as portas... |
...e altares nas paredes. |
Há duas características arquitetónicas que são marcantes: o
contraste branco e negro, muito comum nos monumentos, em riscas ou outras
conjugações; e a utilização do trompe
l’oeil, mesmo nas fachadas ou sacadas dos edifícios, como se ainda fosse necessário
prolongar a sua beleza e riqueza através da imaginação.
Acima de todas as descobertas, a Catedral de São Lourenço,
magnífica! Tudo o que acabei de escrever foram impressões, visões fugazes,
demasiado rápidas… Sinto que tenho de voltar a Génova algum dia!
A Catedral de São Lourenço... |
...com as suas colunas multicolores e multiformes |
O interior da catedral |
A meio da tarde, fomos para o porto. A entrada para o enorme ferryboat que nos levará para Barcelona
parece uma confusão. Há centenas de pessoas na fila, em carros, motas, autocaravanas.
Muita gente a pé, também. Parece impossível, mas lá vão organizando a entrada e
a arrumação dos veículos nos três andares de parque de estacionamento do barco,
abaixo da linha de água.
O ferryboat faz a
ligação entre Génova e Barcelona, cruzando o Mediterrâneo duas vezes por
semana. Depois, seguirá ainda para Tânger, por isso vai cheio de marroquinos e
outros magrebinos, talvez de regresso para férias às suas terras natais. Mais
uma vez, o Mar Mediterrâneo como cadinho de culturas diversas! O barco está
preparado para isto. Tem bares, cafetarias e restaurantes de comida europeia,
mas tem também de comida halal,
preparada segundo os preceitos muçulmanos. Existe até uma sala de orações para
os crentes muçulmanos. Curiosamente, fica perto do ginásio. Assim se constata o
que cada comunidade mais valoriza!
Os grandes ferryboats que cruzam o Mediterrâneo |
À noite, a maioria dos viajantes aloja-se nas suas cabinas.
No deck superior, há uma enorme sala
com lugares sentados para os que não alugaram cabine. Muitos magrebinos
deitam-se nesses lugares ou dormem em mantas que estenderam, pelo chão.
Espalham-se pelo espaço da discoteca e do cinema. São centenas e, num passeio
noturno pelo barco, criam uma estranha sensação de um mundo de sem-abrigos.
Eu dormi bem na exígua cabina do ferryboat, embalada pelo ligeiro barulho do motor e pela também
ligeira ondulação, ao contrário dos meus companheiros de viagem, que parece
terem estranhado bastante os aposentos. Eu acho que tenho alma de navegadora,
gosto de estar no barco, a observar o mar, a tentar adivinhar o nome das terras
que se veem, ou às vezes só se adivinham, no horizonte.
Cruzamo-nos na noite com outros navios |
Saímos do barco cerca do meio-dia e, rodeando Barcelona,
seguimos direitos a Saragoça, onde iremos pernoitar. E depois, cruzando toda a
Espanha, rolamos para Lisboa, que é como quem diz, regressamos também nós a
casa.
Cruzando o Mediterrâneo, no regresso a casa |
Sem comentários:
Enviar um comentário