Depois, quando regresso a casa, alguma coisa de mim ficou lá. Não consigo largar uma viagem como quem põe de lado um casaco velho. Já passou, mas de alguma maneira permanece. José Saramago dizia, no “Ano da morte de Ricardo Reis”, que, da mesma maneira que já existimos antes de nascermos, na barriga das nossas mães, durante nove meses, continuamos a existir ainda durante nove meses depois de morrermos, nas memórias dos que nos rodeiam. Comparar a vida a uma viagem é um hábito já com barbas. E a verdade é que o processo é idêntico. A viagem começa com a preparação, a decisão do destino, a procura do alojamento, o estudo dos itinerários. E não termina com o regresso, ela continua nas fotos, nos videos, naquelas histórias que continuam a fazer-nos sorrir, nas referências a episódios que só nós entendemos e que criam cumplicidades tão particulares entre companheiros de viagem e, acima de tudo, nas emoções.
É sobre essas emoções, essas memórias, esses momentos, esses olhares, que eu gosto de escrever. Para os fixar através de palavras. Para os organizar. Para os partilhar. Porque as emoções partilhadas são as melhores.
Viajar é a minha paixão. Não viajo tanto quanto queria, viajo tanto quanto posso. Eu escrevi que não é necessário ir muito longe para descobrir coisas extraordinárias. Realmente, até numa viagem de metro em Lisboa se podem descobrir coisas extraordinárias. É preciso é manter o coração aberto e o olhar disponível.
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