terça-feira, 29 de setembro de 2009

Chambord - Um castelo verdadeiramente real


Quando se pensa em castelos, pensa-se no Vale do rio Loire. E quando se pensa nos Castelos do Loire, inevitavelmente, pensa-se no Castelo de Chambord. É o maior dos castelos do vale do Loire, mandado construir pelo rei Francisco I, segundo um projecto de Leonardo da Vinci.

Quando se chega ao parque de estacionamento e se avista o castelo, pela primeira vez, o sentimento é de esmagamento, pela sua grandiosidade. Em larga medida, a sua graça e originalidade deve-se às inúmeras torres, torreões e terraços que coroam o castelo. Pode-se subir a esses terraços e vale a pena, porque a vista sobre os jardins é magnífica.
O interior é interessante, ostentando uma decoração renascentista, onde impera o símbolo de Francisco I, a salamandra. repetido mais de 700 vezes. O que eu achei mais extraordinário, no entanto, foi a grande escadaria central, concebida por Leonardo da Vinci, com uma dupla voluta, o que faz com que a pessoa que sobe e a que desce nunca se encontrem.

Disse Henry James: "Chambord é verdadeiramente real." Eu concordo.

Vale do Loire - Abril de 1997 (Fotos de Teresa Ferreira)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A rota modernista de Comillas


Comillas é uma cidadezinha aprazível do norte de Espanha. Tem uma praia concorrida, mas não é isso que a torna especial.

(A praia de Comillas vista do monumento ao Marquês de Comillas)

Nos inícios do século XIX, nasceu em Comillas Antonio Perez. Filho de uma família humilde, emigra para Cuba, onde começa a trabalhar no negócio de exportação de tabacos. Casa com uma herdeira rica, faz o negócio prosperar. Quando volta a Espanha, já é um dos homens mais ricos do país, emprestando dinheiro e barcos ao próprio rei Afonso XII.
Não esquece Comillas. Manda aí construir um palacete e convida o rei a visitá-lo. Afonso XII aceita o convite e passa em Comillas dois verões. Antonio Perez, já então transformado em Marquês de Comillas, quer receber o rei condignamente e manda construir o belíssimo palácio Sorellano (é hoje conhecido pelo nome do arquitecto que o concebeu), em estilo neo-gótico.

(Palácio Sorellano)

O rei não vem sozinho, claro! Traz família, amigos. Alguns querem instalar-se nas proximidades e contratam os arquitectos da moda. É assim que surgem em Comillas várias casas no estilo a que chamamos modernista.
Os marqueses de Comillas constroem a magnífica Universidade Pontifícia (hoje o edifício pertence à Fundação Cervantes) e fazem intervenções no cemitério, com a assinatura de Domenech y Montaner.
(Entrada da antiga Universidade Pontifícia)

Mas o edifício mais espectacular é, sem dúvida, a Casa Capriccio, concebida por Gaudi. Com a sua torre quase mourisca, baseada no trabalho do ferro e na decoração floral, toda em girassóis, destaca-se do casario e justifica, só por si, uma visita a Comillas.

(Casa Capriccio, desenhada por Antoni Gaudi)

Hoje, está transformada num restaurante chinês. Pensamos que estas coisas só acontecem em Portugal. Afinal, não!

(Fotografias Teresa Ferreira)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Szoborpark - Um Parque de Estátuas




A cerca de uma hora de autocarro do centro de Budapeste, andando para sul, encontramos um local verdadeiramente original: o Parque das Estátuas e Gigantescos Memoriais da Ditadura Comunista. Na maioria dos países da antiga Cortina de Ferro, isto é, os países da Europa de Leste com regimes políticos de tipo soviético, a queda do Muro de Berlim acarretou a queda da maioria das estátuas e conjuntos arquitectónicos que povoavam as ruas e praças. Muitas foram destruídas, como se a destruição dos vestígios materiais pudesse apagar as memórias. Tal não aconteceu na Hungria: inteligentemente, o governo pegou nas estátuas, placas toponímicas, e outros vestígios monumentais e guardou-os num parque, onde se preservam as memórias e ainda se ganha alguma coisa com o pagamento das entradas.

Somos recebidos, na imponente entrada, pelos grandes líderes da Revolução, Marx e Lenine. Mas o desconforto começa logo aí, já que eles parecem deslocados, discursando para o espaço vazio. Os soldados empunhando bandeiras revolucionárias e os jovens pioneiros, todos de tamanho descomunal, não entusiasmam multidões proletárias. O conjunto assemelha-se mais a um armazém ideológico, interessante mas folclórico.

Perto da saída, a loja oferece recordações da ditadura comunista: T-shirts com Lenine ou Fidel Castro, reproduções de fardas do exército, pins, bandeiras com velhos slogans comunistas, livros e revistas. O ambiente é o de um nostálgico parque de diversões. Há um grupo de rapazes que compra bonés do Exército Vermelho, com estrela dourada e tudo. Se estivessem no Oeste americano, estariam a comprar chapéus à cowboy. O espírito seria o mesmo.

Budapeste - Julho de 2001 (Fotografias de Teresa Ferreira)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Château d'Anet




(O Castelo de Anet)

O Castelo de Anet fica situado a noroeste de Paris, perto de Dreux. Conheci-o devido a um Projecto de estudos sobre o Renascimento. Não figura nos roteiros turísticos tradicionais, no entanto, na minha opinião, é um dos castelos mais notáveis que visitei em França.
Era propriedade de Luis de Brèze, primeiro marido de Diana de Poitiers, mas foi remodelado entre 1547 e 1552, por ordem do Rei de França Henrique II, para a sua bela amante.

(A entrada do castelo)

O Castelo tem uma entrada notável, concebida por Benvenuto Cellini, onde figura uma imagem de Diana Caçadora. Mas são as graciosas proporções do seu interior que encantam qualquer visitante. O castelo não foi pilhado durante a revolução Francesa, porém o seu recheio foi vendido como Bens Nacionais de França e só no século XIX foi pacientemente recuperado.

(Um dos salões recuperados)

Rodeado de belos jardins, o Castelo impõe-se pela sua beleza tranquila. A Capela, construída no Pátio de Honra do castelo, tem um chão e uma cúpula que jogam entre si, num reflexo fascinante.

(A cúpula da capela)

(O chão da capela)

A título de curiosidade: as primeiras cenas do filme Thunderball foram gravadas no Castelo de Anet.


(Fotografias de Teresa Ferreira)

domingo, 13 de setembro de 2009

Neuschwanstein - Um Castelo de Contos de Fadas




(www.viagensimagens.com/cast_neuschwanstein)

Chamam-lhe um castelo de contos de fadas. Walt Disney inspirou-se nele para o seu castelo da Bela Adormecida e ainda podemos ver uma sua réplica na Disneyland Paris. É o Castelo de Neuschwanstein, no sul da Alemanha.
Foi mandado construir pelo rei Ludwig II da Baviera nos finais do século XIX. Diz-se que o rei Ludwig quis, neste seu castelo de Neuschwanstein, reconstituir o mítico castelo do Santo Graal, onde os cavaleiros guardavam o cálice sagrado. O próprio rei Ludwig está envolto em lendas e histórias fantásticas, que o dão como louco, homossexual, místico e outras coisas mais. O que se sabe ao certo é que o jovem rei mandou construir este castelo fantástico num cenário perfeito, um local isolado e de grande beleza, nos baixos Alpes da Baviera, para se isolar das pressões familiares e políticas.

O portão de entrada no castelo (Fotografia de Teresa Ferreira)

O castelo começou a ser construído em 1869. Ludwig queria aí reviver as tradições da cavalaria medieval e supervisionou pessoalmente os trabalhos de construção de um pequeno apartamento que construiu no local. No entanto, o castelo só foi terminado em 1892, já após a sua morte. O conjunto final é tipicamente Romântico.
Construído no topo de um pico rochoso, rodeado de florestas, o castelo é difícil de fotografar, na sua totalidade. O melhor ponto de vista é o da Marienbrücke, uma ponte metálica suspensa sobre uma cascata na Garganta de Pöllat.

A Marienbrücke (fotografia de Teresa Ferreira)

Não é permitido fotografar ou filmar o interior do castelo (a fotografia que incluí da Sala do Trono, assim como a vista panorâmica inicial, é do site www.viagensimagens.com/cast_neuschwanstein), mas a decoração das salas é tão extraordinária como o seu aspecto exterior. Tem cerca de 90 aposentos, mas só são visitáveis os aposentos que o rei escolheu para si e para os quais concebeu a decoração. Inicialmente, Ludwig imaginou a decoração das salas como uma homenagem ao seu amigo Wagner e, portanto, aí encontramos os temas das suas óperas, como Tristão e Isolda, Lohengrin, Tannhäuser; no entanto, mais do que uma ilustração das óperas, o rei queria que a decoração das várias salas se baseasse nas próprias sagas germânicas medievais. A Sala do Trono, particularmente, é de uma beleza excepcional e, se as pinturas não são de grande valor artístico, o conjunto resulta magestoso e quase mágico.

(www.viagensimagens.com/cast_neuschwanstein)

Belém - Outros muros, outras lamentações




(Praça fronteira à Igreja da Natividade)

Aproveitando um tempinho livre, fomos à cidade de Belém onde, segundo a tradição, nasceu Jesus Cristo. Gostei muito da Igreja da Natividade, antiga, bela na sua simplicidade, muito diferente da Igreja do Santo Sepulcro. O ponto central é o lugar do estábulo, onde supostamente se deu o nascimento.

(Local do estábulo onde Jesus Cristo nasceu)

Também ali ao lado, o local onde S. Jerónimo, no século V, viveu e traduziu a Bíblia para latim, produzindo a célebre Vulgata. Tanta História num espaço tão reduzido!
Belém fica no território da Autoridade Palestiniana. Dista cerca de 12 quilómetros de Jerusalém, mas temos de atravessar uma fronteira, armados com o nosso passaporte europeu, que facilita bastante as coisas. A grande diferença é que essa fronteira é um enorme muro em betão, com guaritas e militares.

(Na fila para passar a fronteira com a Autoridade Palestiniana)

A saída de Israel para a Palestina não é demorada, já a entrada é mais complicada. Os militares asseguram-se de que não há palestinianos, ou outros intrusos; aqui, a presença dos militares é ainda mais intensa, há que evitar bombistas e atentados...

(O Muro, do lado palestiniano)

Já em Jerusalém Ocidental, passámos por uma escola, grande e moderna. O nosso guia, judeu filho de brasileiros, e o árabe que conduz o autocarro, ambos têm os filhos nesta escola. É uma das poucas escolas pluriculturais que existe em Israel e é uma novidade. Aguçaram-nos a curiosidade, queremos saber mais. É uma escola frequentada indistintamente por árabes e israelitas que, a partir dos três anos, se tornam bilingues, já que há dois professores nas classes primárias e todos aprendem árabe e hebreu. Festejam-se em conjunto as principais festas judaicas e muçulmanas, aprendem-se os cânticos para se poder cantar em conjunto, respeitam-se as tradições mútuas. Aprendem em conjunto, brincam em conjunto, talvez venham a conseguir viver em conjunto.
Talvez, assim, aquele grande muro que o ódio e o medo foram construindo, deixe um dia de ser necessário!

(Fotografias de Teresa Diniz)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Os Lugares Santos de Jerusalém



Jerusalém é quase sinónimo de Lugares Santos. Santos para três religiões, já sabemos.
Para os Judeus, aí está o Muro das Lamentações, único vestígio do Segundo Templo, mandado construir por Herodes o Grande. Pensamos que o conhecemos bem, das imagens que vamos vendo na televisão. Mas é bastante diferente, visto e vivido ali mesmo. Começamos a vê-lo ao longe e a perceber a massa humana junto dele. No topo da grande praça fronteira ao Muro, um controlo policial: já estamos a ficar habituados, revista, passa as malas... A praça é grande, mas o recinto que dá acesso ao Muro é muito mais pequeno. Do lado direito, é o recinto das mulheres; do lado esquerdo é o dos homens.



(Lado masculino do Muro das Lamentações)

O recinto dos homens é, talvez, o triplo do das mulheres, por isso, eles rezam tranquila e espaçosamente, enquanto elas se acotovelam num espaço exíguo. Ainda por cima, as mulheres trazem cadeiras e carrinhos de bebé, rezam balançando o corpo ou recuam após rezar junto ao Muro - sempre de frente para o Muro, em sinal de respeito - o que torna o espaço apertado e confuso. Na zona masculina, entretanto, o espaço abunda e os homens rezam cantando. Machismo, em versão judia ortodoxa?

(Lado feminino do Muro das Lamentações)

No local do antigo Templo, foi construída no século VII, pelos muçulmanos, a belíssima Cúpula da Rocha. Segundo a tradição islâmica, aqui teria sido o local da Viagem Nocturna de Maomé. É um edifício espectacular e uma das grandes obras de arquitectura islâmica, que domina a vista sobre Jerusalém. Infelizmente, é difícil visitá-la. Todas as ruas que lhe dão acesso estão fechadas por tropas israelitas, que deixam entrar apenas os fiéis muçulmanos, para as orações.

(Vista da Cúpula da Rocha)

Para os cristãos, Jerusalém é o local da paixão e morte de Jesus Cristo e, como tal, foi considerada o centro do mundo.

(Entrada da Igreja do Santo Sepulcro)

O ponto que concentra a devoção é a Via Dolorosa e a Igreja do Santo Sepulcro onde, segundo a tradição, Jesus foi sepultado. É uma igreja muito confusa, cheia de capelas, reconstruções, acrescentos. Está em vigor um Status Quo que divide a custódia da igreja entre arménios, gregos, coptas, católicos, etíopes e sírios. Cada um destes grupos gere os seus espaços e atrai a atenção do visitante, com as suas vestes e rituais diferenciados.

(Mosteiro etíope na Igreja do Santo Sepulcro)

Pode não se ser cristão, nem mesmo crente, seja no que for. No entanto, aquela igreja ressuma fé. Sente-se a fé nos degraus muitas vezes calcados, nas pedras do túmulo, desgastadas das mãos que para ali se estenderam durante tantos séculos, nos locais onde tanta gente se ajoelha e reza e coloca a cabeça e coloca as suas ânsias e promessas. Pode não se ser crente. Mas essa fé de séculos ressuma das pedras, atinge-nos e comove-nos profundamente.

(Oliveiras centenárias no Jardim de Getsemani)

sábado, 5 de setembro de 2009

Descendo ao mar Morto




Sábado é o dia sagrado dos judeus, o Shabat, por isso foi o único dia em que não trabalhámos. Aproveitámos o tempo livre para descer até ao Mar Morto - cerca de 400 metros abaixo do nível do mar - e visitar as ruínas da fortaleza de Massada.


(Subindo no funicular para Massada)

Massada é uma fortaleza e um palácio, mandado construir por Herodes o Grande no cume de um enorme e altíssimo penhasco no deserto, mesmo junto ao Mar Morto. Pode-se subir a pé, e parece que há muitos que o fazem, mas o calor era abrasador e subimos de funicular. Foi nessa fortaleza que se refugiaram os últimos resistentes judeus, quando da Grande Rebelião contra os Romanos, cerca de 70 d.C. (ou Era Comum, como chamam os judeus). E foi aí que decidiram suicidar-se quando, depois de um duríssimo cerco, a derrota já era inevitável. Visitámos a sala onde foram encontrados os pedaços de cerâmica, ostrakon, com os nomes dos últimos sobreviventes, onde tiraram à sorte o nome do que ajudaria os outros e cometeria o suicídio em último lugar. Quando os Romanos entraram em Massada, só restavam duas mulheres e uma criança.



(Vista sobre o deserto e o Mar Morto, do alto da fortaleza)

Hoje, acima de tudo, Massada é um símbolo da resistência dos judeus. Há turmas de jovens que aí vão comemorar o seu bar mitzvah e os soldados fazem aí o seu juramento de defesa do Estado de Israel. E, por todo o lado, a mesma frase:Massada não voltará a cair!
Depois, para descontrair, banho no Mar Morto. Banho no Mar Morto? Não, banho numa sopa salgada e meio oleosa, com uma temperatura de cerca de 35º C. Ok, valeu pela experiência. Agora, dêem-me as minhas belas praias atlânticas, se faz favor!


(Mulheres muçulmanas tomam banho no Mar Morto; em primeiro plano, as rochas cobertas de sal)