domingo, 13 de janeiro de 2019

De mota até às Highlands IX – As pequenas cidades medievais inglesas


Pequenas ruas que nos fazem sonhar

Como já disse e repeti, o objetivo da nossa viagem era a Escócia e, mais especificamente, as Highlands e a sua estrada litoral panorâmica, a North Coast 500. Mas, para lá chegar e de lá regressar, há que percorrer a Inglaterra de ponta a ponta. Não tencionávamos parar em cidades grandes e populosas, mas como resistir aos encantos das pequenas cidades medievais inglesas? Já na ida tínhamos parado em Oxford, Stratford-upon-Avon, nas Cotswolds. Para a viagem de regresso,
selecionamos três cidades que apenas nos obrigavam a pequenos desvios da nossa rota: York, Nottingham e Winchester. E que bem escolhidas que foram!



A York Minster

York é uma cidade muitas vezes centenária, que cresceu a partir de um povoado romano. Mas foi com os Saxões e, depois, com os viquingues, que atingiu o seu período de maior prosperidade, quando controlava o comércio de têxteis no mar do Norte. Embora se tenha desenvolvido muito com a Revolução Industrial, é essa York medieval que ainda hoje é visível no centro histórico cuidadosamente preservado. Ruas empedradas e sinuosas, como a Shambles, rodeadas de casas com estrutura de madeira, estão vedadas ao trânsito e permitem um passeio calmo por ambientes do passado. Há lojas modernas ao lado de pubs centenários. O revolucionário Guy Fawkes nasceu em York e aqui é lembrado.


Esta placa indica o local onde nasceu o inspirador dos Anonymous

O monumento mais marcante de York é a sua catedral, denominada York Minster. É a maior catedral gótica da Grã-Bretanha e é famosa pelos seus vitrais, alguns dos quais datam do século XII.
Mas é o pequeno demónio de Stonegate que reina sobre as ruas estreitas do centro histórico desta cidade de contrastes!


O pequeno demónio de Stonegate

Nottingham também fazia parte do nosso roteiro. É impossível fugir ao fascínio das histórias de Robin Hood e do seu arqui-inimigo, o xerife de Nottingham. Será que ainda os encontramos por aqui? O castelo de Nottingham ergue-se no topo de um monte cravejado de portas de ferro e atravessado por corredores subterrâneos que estimulam a nossa imaginação. Um museu, o Tales of Robin Hood, conta a história do fora da lei mais querido de Inglaterra. Tiramos fotografias junto à estátua de Robin Hood e passamos pela floresta de Sherwood, tão imbuídos das histórias fantásticas da nossa infância que quase esperamos avistar o próprio herói, o Frei Tuck ou Little John, embora saibamos que eles são apenas personagens da tradição oral que representavam a resistência ao sistema feudal. Mas, às vezes, sabe bem esquecer o que sabemos e deixarmo-nos levar pelo imaginário e pelo fantástico!


A estátua de Robin Hood

Tenho no entanto de confessar que o que nos levou a Nottingham foi outra coisa: na base do castelo encontra-se a mais antiga taberna da Grã-Bretanha, a Ye Old Trip to Jerusalem, datada de 1189! Ali paravam os cavaleiros que partiam nas Cruzadas e ali parámos nós também, a beber uma cerveja à sua saúde! A velha taberna já não está exatamente como no século XII, sofreu obras de remodelação no século XVII, mas continua a ser um sítio imperdível.


A velha taberna Ye olde trip to Jerusalem

O interior da taberna mais antiga da Grã-Bretanha

A última paragem digna de nota antes do regresso ao continente foi em Winchester. Foi a capital do reino de Wessex, e aí viveram os reis anglo-saxões até à conquista normanda. Talvez por isso, a lenda situa aqui a célebre Távola Redonda, onde o Rei Artur comia, bebia e conferenciava com os seus cavaleiros. O mago Merlin tê-la-ia concebido redonda para que nenhum cavaleiro pudesse reclamar a primazia. O chamado Grande Salão – Great Hall – é o que resta do antigo castelo e alberga a Távola Redonda, construída no século XIII segundo a descrição lendária. Sim, eu sei que Artur, a ter existido, não se sentou nunca a esta mesa, mas é um objeto tão icónico que me deixa emocionada. Junto da entrada, descobrimos fatos medievais e adereços variados. Não resistimos: vestimos os fatos e fizemos mesmo ali uma bela e improvisada encenação de homenagem ao rei Artur, ao melhor estilo da Britcom!


A reprodução medieval da Távola Redonda

O edifício mais extraordinário de Winchester é, no entanto, a sua catedral, que remonta ao século XI. O peso da História é esmagador. Aí se encontram as arcas tumulares do rei Ecbert e de outros reis e rainhas de Wessex, mas também de Jane Austen. Nos bancos do coro (os mais antigos de Inglaterra), um coro ensaia os cânticos para a cerimónia litúrgica e deixamo-nos ficar ali, a encher a alma.


A catedral de Winchester


Arca tumular de um rei Saxão do século IX

Estamos quase a regressar a casa e esta é a melhor despedida da Grã-Bretanha que podíamos desejar.