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Pequenas ruas que nos fazem sonhar |
Como já disse e repeti,
o objetivo da nossa viagem era a Escócia e, mais especificamente, as Highlands
e a sua estrada litoral panorâmica, a North Coast 500. Mas, para lá chegar e de
lá regressar, há que percorrer a Inglaterra de ponta a ponta. Não tencionávamos
parar em cidades grandes e populosas, mas como resistir aos encantos das
pequenas cidades medievais inglesas? Já na ida tínhamos parado em Oxford, Stratford-upon-Avon,
nas Cotswolds. Para a viagem de regresso, selecionamos três cidades que apenas
nos obrigavam a pequenos desvios da nossa rota: York, Nottingham e Winchester.
E que bem escolhidas que foram!
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A York Minster |
York é uma cidade
muitas vezes centenária, que cresceu a partir de um povoado romano. Mas foi com
os Saxões e, depois, com os viquingues, que atingiu o seu período de maior
prosperidade, quando controlava o comércio de têxteis no mar do Norte. Embora
se tenha desenvolvido muito com a Revolução Industrial, é essa York medieval
que ainda hoje é visível no centro histórico cuidadosamente preservado. Ruas
empedradas e sinuosas, como a Shambles, rodeadas de casas com estrutura de
madeira, estão vedadas ao trânsito e permitem um passeio calmo por ambientes do
passado. Há lojas modernas ao lado de pubs centenários. O revolucionário Guy
Fawkes nasceu em York e aqui é lembrado.
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Esta placa indica o local onde nasceu o inspirador dos Anonymous |
O monumento mais
marcante de York é a sua catedral, denominada York Minster. É a maior catedral
gótica da Grã-Bretanha e é famosa pelos seus vitrais, alguns dos quais datam do
século XII.
Mas é o pequeno
demónio de Stonegate que reina sobre as ruas estreitas do centro histórico
desta cidade de contrastes!
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O pequeno demónio de Stonegate |
Nottingham também
fazia parte do nosso roteiro. É impossível fugir ao fascínio das histórias de
Robin Hood e do seu arqui-inimigo, o xerife de Nottingham. Será que ainda os
encontramos por aqui? O castelo de Nottingham ergue-se no topo de um monte
cravejado de portas de ferro e atravessado por corredores subterrâneos que
estimulam a nossa imaginação. Um museu, o Tales
of Robin Hood, conta a história do fora da lei mais querido de Inglaterra.
Tiramos fotografias junto à estátua de Robin Hood e passamos pela floresta de
Sherwood, tão imbuídos das histórias fantásticas da nossa infância que quase
esperamos avistar o próprio herói, o Frei Tuck ou Little John, embora saibamos
que eles são apenas personagens da tradição oral que representavam a
resistência ao sistema feudal. Mas, às vezes, sabe bem esquecer o que sabemos e
deixarmo-nos levar pelo imaginário e pelo fantástico!
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A estátua de Robin Hood |
Tenho no entanto de
confessar que o que nos levou a Nottingham foi outra coisa: na base do castelo
encontra-se a mais antiga taberna da Grã-Bretanha, a Ye Old Trip to Jerusalem, datada de 1189! Ali paravam os cavaleiros
que partiam nas Cruzadas e ali parámos nós também, a beber uma cerveja à sua
saúde! A velha taberna já não está exatamente como no século XII, sofreu obras
de remodelação no século XVII, mas continua a ser um sítio imperdível.
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A velha taberna Ye olde trip to Jerusalem |
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O interior da taberna mais antiga da Grã-Bretanha |
A última paragem digna
de nota antes do regresso ao continente foi em Winchester. Foi a capital do
reino de Wessex, e aí viveram os reis anglo-saxões até à conquista normanda.
Talvez por isso, a lenda situa aqui a célebre Távola Redonda, onde o Rei Artur
comia, bebia e conferenciava com os seus cavaleiros. O mago Merlin tê-la-ia
concebido redonda para que nenhum cavaleiro pudesse reclamar a primazia. O
chamado Grande Salão – Great Hall – é
o que resta do antigo castelo e alberga a Távola Redonda, construída no século
XIII segundo a descrição lendária. Sim, eu sei que Artur, a ter existido, não
se sentou nunca a esta mesa, mas é um objeto tão icónico que me deixa
emocionada. Junto da entrada, descobrimos fatos medievais e adereços variados.
Não resistimos: vestimos os fatos e fizemos mesmo ali uma bela e improvisada
encenação de homenagem ao rei Artur, ao melhor estilo da Britcom!
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A reprodução medieval da Távola Redonda |
O edifício mais
extraordinário de Winchester é, no entanto, a sua catedral, que remonta ao século
XI. O peso da História é esmagador. Aí se encontram as arcas tumulares do rei
Ecbert e de outros reis e rainhas de Wessex, mas também de Jane Austen. Nos
bancos do coro (os mais antigos de Inglaterra), um coro ensaia os cânticos para
a cerimónia litúrgica e deixamo-nos ficar ali, a encher a alma.
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A catedral de Winchester |
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Arca tumular de um rei Saxão do século IX |
Estamos quase a
regressar a casa e esta é a melhor despedida da Grã-Bretanha que podíamos
desejar.
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