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Mesmo em ruínas, a abadia de Melrose ainda é encantadora |
As igrejas e abadias
destruídas, tal como os castelos, fazem parte da paisagem escocesa e contribuem
para um certo romantismo dramático que a caracteriza.
Várias vezes me
lembrei de uma pequena história, que aconteceu comigo há já alguns anos. Tinha
ido visitar um castelo em Munique, o Castelo de Nymphenburg, e percorria
encantada os seus belos jardins, quando deparei com uma capela quase em ruínas.
Perguntei à vigilante que guardava a porta quando é que a capela tinha sido
destruída e a senhora respondeu-me: Já foi construída assim! Efetivamente, por
estranho que pareça, a mentalidade romântica do século XIX revia-se nesses
cenários e concebia-os desta forma.
Na Escócia, as abadias
em ruínas são tão comuns, tão grandiosas e integram-se tão bem na paisagem que
tendemos a assumir que ali foram postas de propósito, de acordo com esse gosto
romântico. Mas não é o caso!
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A frontaria da abadia de Jedburgh |
A maioria das abadias
em ruínas localiza-se na região a que se chama Scotish Borders, e o seu triste destino foi consequência direta da
sua localização. No século XVI, o rei inglês Henrique VIII queria forçar o
casamento do seu filho com a célebre Mary, Queen of Scots; face à recusa
escocesa, ordenou a destruição de um conjunto de ricas abadias, fundadas no
século XII pelo rei David I, que se localizavam nas proximidades da fronteira
entre os dois reinos. Hoje, essas abadias erguem os seus muros e campanários
descarnados e, mesmo assim, as suas ruínas ainda refletem a grandiosidade e
riqueza dos seus melhores tempos.
As ruínas das abadias
de Melrose, Kelso, Jedburgh, podem ser vistas num percurso de não mais de 50
quilómetros. Todas são visitáveis e, por vezes, incluem um pequeno centro de
interpretação sobre a sua organização económica e religiosa e a vida dos monges
que as habitavam.
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Há pequenas exposições sobre a vida dos monges |
Um caso diferente é o
da grande catedral de St. Andrews, talvez a ruína religiosa mais conhecida da
Escócia. Aqui, foram os inflamados sermões do reformador protestante John Knox
que ditaram a sua destruição: instigada pelo pregador, foi a própria população
que atacou e destruiu a igreja, olhada como o maior símbolo do poder papista de
Roma. As suas riquezas foram saqueadas e as suas pedras utilizadas noutros
locais, nomeadamente na construção da nova catedral reformada. Cerca de 1600, a
igreja já estava mais ou menos com o aspeto atual.
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As enormes ruínas de St. Andrews |
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As aberturas das ruínas abrem planos inesperados |
O mesmo aconteceu à
catedral de Whitby. Atualmente, as ruínas da antiga igreja e a nova igreja que
a substituiu erguem-se quase lado a lado, no promontório que guarda a entrada
do porto de Whitby e sobre o qual tem uma vista magnífica.
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A velha catedral de Whitby |
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A vista sobre o porto de Whitby |
Há histórias engraçadas.
Tain é um velho burgo real, fundado em 1066. Era também um importante centro de
peregrinação medieval, onde a capela de São Ductus era o ponto central.
Instigada pelas pregações reformistas, também a população de Tain ataca a
capela. Mas não era fácil atacar assim o seu santo padroeiro e a capela
manteve-se de pé, com as paredes pintadas de branco sobre os velhos frescos. Em Tain encontrámos o Jason, com quem tivemos uma das conversas mais interessantes da viagem, num diálogo que misturou política e religião, São Ductus e o Brexit.
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Capela de São Ductus, em Tain |
Também a Capela de
Rosslyn viu os seus grandiosos planos de construção interrompidos pela Reforma
Protestante. Abandonada durante cerca de trezentos anos, hoje está recuperada e
vale bem uma visita. A sua decoração é de uma riqueza extraordinária e os pormenores
prendem-nos os olhos e a atenção, desde os capitéis das colunas aos painéis que
ladeiam as janelas. O elemento decorativo mais famoso é a magnífica Coluna do
Aprendiz. Reza a lenda que foi talhada por um aprendiz de pedreiro que a
concebeu num sonho. Ao ver o seu maravilhoso trabalho, o mestre pedreiro ficou
tão ciumento que matou o aprendiz. Agora lado a lado, as duas colunas, a do
mestre e a do aprendiz, levam-nos a, se não perdoar, pelo menos compreender os
ciúmes do mestre.
A maioria dos
visitantes que hoje enche a capela de Rosslyn vai em busca das referências do livro
O Código da Vinci, de Dan Brown.
Pouco encontram. Parece-me mais interessante ir em busca do famoso gato da
capela, que ostenta o nome do seu fundador, William Sinclair, e que até tem
direito de presença na loja da capela, em forma de gato de peluche.
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A maravilhosa Capela de Rosslyn, onde é estritamente proibido tirar fotografias |
Na Escócia, é muito
nítido o efeito da Reforma Religiosa. Em todas as localidades se encontra um
templo da Church of Scotland, sempre
de planta e aspeto idênticos. Em contrapartida, mesmo quando não chegou à
destruição, houve uma clara dessacralização dos espaços religiosos católicos.
Encontrámos antigas igrejas transformadas em lojas e armazéns das mais variadas
coisas. E, em Glasgow, jantámos numa bela igreja transformada em restaurante e
pub com música ao vivo! Assim é o passar do tempo!
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Igreja em Glasgow, agora um restaurante e pub |
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