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Val Müstair |
Começamos mais um dia com a passagem de mais um passo alpino,
o OffenPass, em pleno Parque Nacional Suiço. Estamos quase na fronteira da
Suiça com a Itália e o tempo está nublado e húmido, o que nos faz temer pela passagem
do Stelvio. Mas as nuvens vão abrindo e acabámos por ter um dia bastante claro
e ameno.
A primeira paragem foi no Mosteiro de Santa Maria de Val
Müstair. É uma igreja muito antiga, fundada por Carlos Magno no século VIII, e
é Património da Humanidade. No século XI tornou-se um convento, mas a igreja,
dedicada a S. João Batista, ainda é a parte mais interessante do complexo
monástico. Tem um conjunto impressionante de frescos românicos, representando
vários temas bíblicos e uma estátua de Carlos Magno. Tenho pena de não ter uma
máquina fotográfica mais potente, para captar bem a beleza daqueles frescos,
tão antigos e ainda com uma cor e um dramatismo tão presentes.
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Mosteiro de Santa Maria de Val Müstair |
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A entrada para a Igreja |
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Os frescos do altar-mor, vendo-se à direita a estátua de Carlos Magno |
Antes de atacarmos o Passo dello Stelvio, paramos em
Glorenza, já em território italiano. É uma pequena vila, com uma praça
encantadora, idêntica a todas as outras pequenas vilas do norte da Suiça ou da
Alemanha. Por vezes, as fronteiras são realidades muito indefinidas… Aí, numa
loja de artesanato, comprámos chocalhos, de vários tamanhos e feitios, para
trazer de recordação da nossa expedição alpina!
Finalmente, o Passo dello Stelvio! É o mais alto que
percorremos nesta viagem, com os seus 2.757 metros. O nosso companheiro de
viagem vai à frente, para filmar toda a subida, tornati após tornati, curva
após curva. São mais de 40 curvas em cotovelo para cima, mais outras tantas
para baixo. A passagem do Stelvio é uma estrada emblemática, para quem gosta de
desafios. Os motociclistas e ciclistas enchem todo o percurso. São às centenas,
juntamente com os automóveis e auto-caravanas, e entopem a estrada, tornando a
subida ainda mais perigosa. O objetivo parece ser tirar uma selfie ou colocar
um auto-colante lá no alto. Também o fizemos, pois claro! O cume da montanha
está repleto de barraquinhas de feira, que vendem de tudo, desde bifanas a
T-shirts. A primeira sensação que tenho é a de um grande circo e não posso
evitar uma pequena alergia, parecida com a que senti em La Grande Motte. Talvez
esteja a criar alergia às multidões… Mas o ambiente não é o de um circo, é
antes o de uma grande festa, que celebra o sentimento de auto-superação! Não
vou esquecer tão cedo o sorriso de felicidade do miúdo que pedalava na sua
pequena bicicleta, encosta acima, puxado por uma corda pelo pai, montado na sua
bicicleta de adulto!
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A subida para o Passo dello Stelvio |
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No topo! |
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A descida do Stelvio |
Depois do desafio superado, não é fácil afastarmo-nos dali e
almoçamos num restaurante vocacionado para motociclistas, o Genziana. Soube bem o almoço, mas ainda
soube melhor o aconchego da lareira, embora estivéssemos em pleno agosto.
Descemos do Stelvio e começamos a encaminhar-nos para o Lago de Como. A distância ainda é considerável e a estrada tem bastante trânsito, mas
nós lá nos vamos esgueirando por entre os carros, com a ajuda de uma ou outra
infração menor…
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Vista do Lago Como, a partir da abadia de Piona |
Já nas margens do lago, paramos na Abadia de Piona, situada
num local com uma paisagem magnífica, como magníficos são os seus frescos e
seus claustros. Começou por pretencer à Ordem de Cluny, mas hoje está entregue aos Cistercienses. Foi classificada pela UNESCO como Património da Humanidade,
como alguns outros monumentos onde temos vindo a parar, numa quase rota alpina
da arte românica.
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O interior da igreja de Piona |
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Os claustros da abadia |
E chegamos a Varenna mesmo a tempo de apanhar o barco para
Bellagio. Que bem me soube a travessia do lago de Como! As casas coloridas descendo as
encostas, o azul do lago esbatendo-se no céu e numa neblina leve que teimava em
cobrir as montanhas… muito, muito bonito! Mais uma vez, apeteceu-me parar ali,
ficar num destes hotéis à beira do lago, a apreciar a paisagem com um copo de
vinho branco na mão… mas, mais uma vez, temos de continuar viagem.
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As casinhas coloridas que descem para o lago... |
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...e a neblina que cai sobre as montanhas |
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Nas margens do Lago de Como |
Breve paragem em Como, para retemperar as forças. A sua
localização, espraiando-se pelas margens do lago a que dá o nome, é
privilegiada. Há muitos turistas e ali, banhando-se na praia, vi as primeiras
banhistas muçulmanas de burkini, no
que foi uma das novidades desta época balnear.
Partir de Como, na direção do sudoeste, significa deixar para
trás os Alpes. Foi a despedida, e foi muito bem escolhida! Agora, entramos na
planície padana, a vasta região banhada pelo rio Pó, entre os Alpes e os
Apeninos. Rolamos por longas retas, ladeadas de campos cultivados e grandes
casas de fazenda, que nos fazem lembrar os cenários do filme de Bertolucci 1900. Dirigimo-nos para Novara, onde
tínhamos hotel marcado. Novara teria merecido uma visita mais atenta, durante o
dia. Percebi que o centro histórico é imponente (qual não é, em Itália?). O
monumento mais importante é a Basílica de São Gaudêncio, o patrono da cidade,
com a sua cúpula imponente. Ali perto, umas arcadas dão passagem para um grande
pátio quadrado, ladeado por quatro edifícios históricos, de épocas e estilos
não coincidentes, mas formando um complexo arquitetónico monumental. É Il Broletto. Hoje, alberga várias
instituições turísticas e culturais, como a galeria de arte moderna Giannoni.
Acabamos por comer qualquer coisa num belíssimo palácio quinhentista,
transformado em centro cultural.
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Perspetiva de Il Broletto |
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Outra perspetiva de Il Broletto |
O nosso hotel em Novara ainda nos vai reservar algumas
surpresas, mas isso fica para a próxima crónica…
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A magnífica cúpula da Basílica de São Gaudêncio |
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