quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Hamburgo, a rainha das cidades hanseáticas

 

Homenagem aos barqueiros do Elba

Se a Liga Hanseática foi criada em Lübeck, como foi já descrito no post anterior, a cidade que mais se afirmou e prosperou com essa associação mercantil foi Hamburgo, ao ponto de ainda hoje se intitular “Cidade Hanseática”. O símbolo da Hansa continua a ver-se, nos transportes públicos, por exemplo, e nos nomes das mais variadas instituições e empresas. Claramente, é um fator identitário importante na cidade.

As pontes do rio Alster


Situada nas margens do rio Elba e do seu afluente Alster, Hamburgo tem 2302 pontes, mais do que as cidades de Veneza e Amesterdão juntas. Evidentemente, muitas dessas pontes são modernas, ao contrário do que acontece naquelas cidades. Não podemos esquecer que Hamburgo foi pesadamente bombardeada na 2.ª Guerra Mundial e muito do seu miolo, do seu coração histórico, desapareceu. Mas algumas antigas pontes subsistem, como as que dão acesso à zona dos armazéns marítimos, e onde encontramos a homenagem a personalidades que abriram o comércio do mundo, como Cristovão Colombo e Vasco da Gama.

Uma imagem pouco habitual de Vasco da Gama

O centro da cidade encontra-se na na zona de Jungfernstiege, com os seus pórticos e arcadas, entre o enorme lago Binnenalster e a monumental Rathaus (Câmara Municipal). É uma zona elegante, cheia de esplanadas e centros comerciais, mas é nas escadarias que levam ao lago que muitos hamburgueses gostam de se sentar ao fim do dia, a ver o movimento dos barcos de recreio. 

A Rathaus, vista da Jungfernstiege

O lago Binnenalster

No canal, junto à Rathaus, ergue-se o memorial aos 40 000 filhos da cidade que morreram na 1.ª Guerra Mundial. 

Memorial aos mortos da 1.ª Guerra Mundial

Da 2.ª Guerra Mundial não sabemos as estatísticas; mas as ruínas da Igreja gótica de St. Nikolai mostram-nos bem o grau de destruição. Só a torre sobreviveu... Hoje, toda a zona destruída da igreja mantém-se como um pequeno museu e um memorial contra a guerra, contra todas as guerras.

A torre da igreja St. Nikolai

A área ocupada pela nave tornou-se um memorial contra a guerra

Uma janela que restou...

A Rathaus, enorme, belíssima, imponente, domina a praça principal. Está cheia de pormenores esculpidos, estatuária, fontes, tanto no exterior, como no interior. Vale a pena perder tempo a contemplá-la.

A Rathaus, exterior

A Rathaus, pátio interior

Mas a riqueza e o coração da cidade está no rio Elba e no porto que ali se desenvolveu. A cidade acarinha o porto e podemos caminhar quilómetros ao longo das suas margens, sempre com os olhos no movimento dos barcos e das gruas. Pelo caminho, há muitos parques e edifícios relacionados com o movimento portuário, como as alfândegas, mas também muitas esplanadas e armazéns transformados em museus ou centros culturais. Atracado na margem, chama-nos a atenção um U-Boot, um dos velhos submarinos alemães que tanta destruição criaram no Atlântico, durante a Guerra. Há um pequeno museu dedicado aos U-Boot, com visitas explicativas.

Uma floresta de gruas

A velha alfândega

O Speicherstadt

É na confluência do Elba com o Alster que se encontra o Speicherstadt, o maior conjunto de armazéns de mercadorias do mundo ainda em funcionamento, e por conseguinte monumento protegido pela UNESCO. É também aí, nesse conjunto monumental de armazéns, de que alguns datam do século XV, que podemos ter uma noção da importância do movimento comercial que aqui se centrava.

Os antigos armazéns, vistos do rio



Na mesma zona, entre o Elba e o Alster, ergue-se o edifício cultural mais querido dos hamburgueses, a Elbphilarmonie, o moderníssimo edifício que alberga a Orquestra Filarmónica do Elba.

A Elbphilarmonie, duas perspetivas



O rio é o coração e as artérias da cidade, tudo para ali conflui. O movimento do porto comercial mistura-se com as milhentas embarcações de recreio. Há barcos de todos os tamanhos e feitios, mas tudo parece conviver em harmonia. 

As margens do rio, com um U-Boot à esquerda

Um barco-bombeiro, no meio dos barcos de recreio

Por puro acaso, como tantas vezes acontece nas nossas viagens, apanhámos uma enorme festa que decorre anualmente ao longo do porto: o Dia dos Cruzeiros, “Cruise Day”. Há animação e viagens pelo porto durante todo o dia e milhares de pessoas juntam-se junto à agua, para comer e beber ou simplesmente apreciar o movimento. Mas o ponto alto da festa acontece à noite. Os grandes barcos de cruzeiro oferecem um espetáculo de cor e fogo de artífício à cidade. Devido às restrições ambientais, o fogo de artifício foi substituído por fogo preso produzido por... drones! Modernices... interessantes!

Espetáculo do Cruise Day

Mas o que mais guardo desse dia é o jantar no bairro português.  A comunidade portuguesa em Hamburgo é muito antiga, data do século XVI. Mas alargou-se imenso no século XX, com o movimento de emigração dos anos 60 e 70, principalmente. O bairro português ocupa um par de ruas, junto ao porto, e ali surgiram muitos restaurantes portugueses e winebars. Não falta o peixe grelhado nem o pastel de nata... os restaurantes têm todos nomes portugueses, os empregados são portugueses, em alguns sítios pode-se ouvir o fado.  Já nos tinham dito que ali se comia bem, o que não é de admirar, a gastronomia portuguesa dá cartas em qualquer latitude. Mas não antecipava a emoção que se apodera de nós quando, depois de quinze dias a ouvir falar em alemão, inglês, dinamarquês, entramos num restaurante chamado “Olá Lisboa!”, somos recebidos calorosamente em português, bebemos um vinho verde do produtor, seguido de um Porto como digestivo... Raio da alma lusitana, que não nos dá tréguas!...

No restaurante Olá Lisboa!

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