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O Mosteiro de São Salvador de Travanca |
No fim de semana passado, fiz uma pequenina rota do
Românico. Foi apenas um vislumbre, já que só visitei 4 dos 58 monumentos que a
compõem. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia e, da mesma maneira, esta rota
não é para percorrer num instante, de fio a pavio. É para ir percorrendo,
descobrindo mais esta igreja, esta torre, este sabor; sim, porque uma rota
também se faz de cheiros e sabores!
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Pormenor - Os capitéis da entrada |
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O interior da igreja de São Salvador de Travanca |
A Rota do Românico é um projeto cultural. Propõe-se divulgar
o património rico e variado da região de Ribadouro, baixo Tâmega e baixo Sousa.
É o berço da nossa arquitetura românica. Aí, a história das pedras mistura-se
com a história dos primeiros passos da nossa nacionalidade e com as histórias
das gentes que ali trabalhavam e dos senhores que defendiam a terra e promoviam
a construção destas igrejas e mosteiros.
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O tecto da sacristia do mosteiro de Travanca |
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Pormenor dos tectos da sacristia |
Muito desse património esteve votado ao abandono durante
muito tempo. Alguns vestígios perderam-se irremediavelmente. Outros foram sendo
remodelados e modernizados, ao gosto de cada época. Alguns foram acrescentados
com a exuberância decorativa do barroco. Outros sofreram intervenções segundo o conceito medieval do
Estado Novo. Hoje, toda essa evolução conta uma história e tem o seu lugar
nesta Rota do Românico, que, por vezes, já pouco oferece do românico original.
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Pormenor - As decorações embutidas das gavetas onde eram guardados os paramentos |
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Pormenor - Um vaso na escadaria junto ao claustro |
Os promotores deste projeto cultural dedicam-se a
inventariar, estudar, recuperar, cada um destes monumentos. Inicialmente 21,
são já 58 que estão disponíveis para a visita do público e o seu número deverá
continuar a aumentar.
Neste fim de semana, visitamos quatro desses monumentos. Talvez
não os mais conhecidos, mas todos surpreendentes e fascinantes.
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A bela igreja de São Martinho de Soalhães |
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Pormenor - O milagre de São Martinho num painel policromado |
São Salvador de Travanca, em Amarante, é um dos mosteiros
que melhor demonstra a traça românica. Edificado no século XIII, demonstra o
poderio da família de Egas Moniz, à qual está associado. O interior foi
recentemente recuperado, com muito gosto, não escondendo esses traços de
modernidade. Impressiona a torre, coroada de ameias, que já foi torre sineira.
A atual torre sineira é muito mais recente. A bela sacristia mostra as
remodelações de um barroco ingénuo, mas encantador.
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Pormenor - As figuras que suportam o coro alto |
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Pormenor - São Pedro |
Igualmente remodelado segundo o gosto barroco, no século
XVIII, a Igreja de São Martinho de Soalhães, em Marco de Canaveses, já pouco
mostra das suas origens românicas, a não ser em pequenos pormenores. Não sendo
de grandes dimensões, a riqueza da sua decoração é esmagadora. O revestimento a
azulejo é encimado por belos painéis de madeira policromada, em médio relevo,
que contam os passos da Paixão de Cristo e a lenda de São Martinho ou retratam santos e apóstolos. Os altares
em talha dourada completam a decoração desta bela igreja.
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Entrada do Mosteiro de Santo André de Ancede |
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Pormenor - O cão com o facho, símbolo de Santo André |
O Mosteiro de Santo André de Ancede, já existia em 1141, quando o nosso rei D.
Afonso Henriques lhe concedeu uma Carta de Couto. Tem belos pormenores
decorativos, tanto na igreja como na sacristia, onde se destaca uma
interessante coleção de relicários.
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Pormenor - Peanha em forma de pelicano |
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Uma Nossa Senhora das Dores, na sacristia do mosteiro |
Mas o mais fascinante é a Capela do Senhor
do Bom Despacho (ou da Boa Morte), no terreiro adjacente á Igreja. De planta octogonal, à boa
maneira barroca, esta pequena capela apresenta toda a narrativa da vida de
Cristo em nichos decorados como se fossem pequenos palcos. As figuras de
madeira policromada são amovíveis, possibilitando a encenação das cenas. É
muito bonito e original.
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O altar-mor da Capela do Senhor do Bom Despacho |
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Pormenor - O tecto da Capela |
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Pormenor - Um dos nichos, encenando a visita dos Reis Magos |
Por fim, visitamos a pequeníssima Capela da Senhora da
Livração de Fandinhães, que apresenta um aspeto inacabado ou, talvez,
resultante do seu desmantelamento quando a população se deslocou para o vale. A
sua simplicidade e despojamento remete-nos de novo para o românico e a mentalidade
medieval. A figura do exibicionista (um homem nu com a mão nos órgãos genitais)
que aí se encontra, é inesperada mas não é rara, dentro da simbologia da época.
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Portal da Capela da Senhora da Livração |
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Parede lateral da capela, com a figura do exibicionista (à esquerda) |
Um dia assim merece um almoço especial. Foi o que
encontramos na Pensão Borges, em Baião. Ali almoçou um dia Eça de Queirós, e é
esse almoço que ele reproduz numa passagem de “A Cidade e as Serras”, em que
Jacinto se delicia com o frango frito acompanhado por um arroz de favinhas. Em
boa hora o restaurante oferece esta ementa queirosiana, e nós também nos
deliciamos com um divinal arroz de favinhas, quais Jacintos da era moderna.
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Á porta da Pensão Borges, depois do arroz de favinhas... |
Por fim, deixo um conselho. Quem
quiser percorrer estas rotas do românico, deve contactar a entidade
responsável. É fácil, basta pesquisar em www.rotadoromanico.com/. Aí encontra contactos, visitas
virtuais, uma aplicação para descarregar com as rotas e informações sobre os
monumentos. Aí pode também marcar a sua visita. É que, se não o fizer,
arrica-se mesmo a bater com o nariz nas portas…
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