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A costa perto de Portrush |
A Antrim Coast é a continuação da costa atlântica
irlandesa, já do lado do Reino Unido, mas é bastante diferente da Wild Atlantic
Way, do lado irlandês. Deixamos para trás as costas recortadas, batidas pelo
vento e pela chuva, e entramos nas costas mais amenas e luminosas do chamado
Mar da Irlanda. Uma espécie de Oceano Atlântico domesticado...
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A pequena cidade de Portrush |
Gostaríamos de ter metido o nariz
em todas as falésias, enseadas e terreolas da costa irlandesa, mas não é
possível. Uma das coisas mais difíceis no planeamento de uma viagem é aprender
a fazer opções. Nunca se consegue visitar tudo, abranger tudo o que pode valer
a pena visitar. Há que decidir por uns locais em desfavor de outros, aprender a
deixar cair pontos de passagem e alterar planos iniciais, fazer e refazer os
itinerários. E depois, cumprir o percurso sem dores de alma. Ficam sempre
coisas por fazer e lugares por visitar; talvez numa próxima vida...
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Pela costa... |
Seguimos então novamente para a
costa, a partir de Derry (ou Londonderry...). O nosso primeiro ponto de paragem
previsto era a obra de um excêntrico bispo do século XVIII, Frederick Hervey, conde de Bristol e
bispo de Derry, um homem culto e viajado mas bastante peculiar. Resolveu
construir uma residência no seu domínio de Downhill, junto ao atlântico, que
junta umas muralhas de aparência medieval aos edifícios de clara influência
italiana. Hoje, a residência do bispo está em ruínas, depois de um incêndio no
século XIX e da sua utilização pela RAF na Segunda Guerra Mundial. Mas ainda
vale um passeio pelas ruínas e pelo domínio circundante.
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O domínio de Downhill, entre torres medievais... |
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... e influências italianas |
No entanto, o ponto mais atraente é o pequeno templo, chamado
Mussenden Temple, construído mesmo à beira da falésia e que se destinava a
abrigar a biblioteca do conde bispo. Construído à imagem do templo de Vesta, em
Roma, é uma imagem inesperada e de grande beleza cénica na costa norte
atlântica. Hoje, todo o conjunto faz parte do National Trust.
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Mussenden Temple... |
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... mesmo à beira da falésia |
Seguimos para Portrush e depois uma paragem imprescindível: a
destilaria da Bushmills. Há quem diga que é o melhor whisky do mundo, não sei,
não me atrevo a essas apreciações, mas a destilaria é impressionante.
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Entrada da destilaria da Bushmills |
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As pipas estão prontas para a entrega |
O ponto mais icónico da Antrim Coast é, sem dúvida, a chamada
Calçada dos Gigantes. Como tem multidões de visitantes é mesmo aconselhável
comprar bilhetes com antecedência. Com os nossos bilhetes na mão, estacionámos
o carro com facilidade e entrámos na hora certa. Temia que o elevado número de
pessoas me diminuísse a capacidade de apreciação do local, mas como o percurso
é relativamente extenso isso não aconteceu. Os visitantes vão andando e vão-se
espalhando enquanto exploram aquelas formações rochosas tão peculiares.
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O percurso da Giants Causeway começa aqui
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A Calçada dos Gigantes é uma formação rochosa de colunas de
basalto hexagonais (cerca de 40 000) que resultaram da erupção de lavas
vulcânicas, há milhões de anos. Mas a imaginação popular não podia ficar
satisfeita com esta vulgar explicação científica. A lenda atribui a sua
construção a um gigante, Finn McCool, que queria construir um caminho até à
Escócia, para lutar com o gigante escocês Benandonner. A partir desta base, há
várias versões, mais ou menos elaboradas, mas todas terminam com a fuga do gigante
escocês, que teria perseguido Finn de volta à Irlanda. Na sua fuga, destruiu a
calçada e, por isso, o caminho de pedras que teria ligado a costa norte
irlandesa à costa oeste da Escócia (hoje a caverna de Fingal, na pequena ilha de
Staffa) ficou interrompido.
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As estranhas formações basálticas |
Todas estas histórias, assim como outras bem mais
científicas, nos são contadas no magnífico Centro de Interpretação da Giants
Causeway. A história dos dois gigantes é contada em desenhos animados, num
écran gigante. O público alvo são as crianças mas também havia muitos adultos
(como eu...) sentados nos puffs, deliciados com as histórias! Há
muitas coisas interessantes para comprar, souvenirs de um local único!
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Há quem veja o camelo Humphrey deitado nas formações rochosas, depois de transportar o gigante Finn de regresso a casa ... |
Apesar da multidão que calcorreia a estrada que ladeia as
formações rochosas, o caminho faz-se muito bem e vamos apreciando as
peculiaridades do local. Há um autocarro que faz o percurso de ida e volta mas,
sinceramente, acho que se perde muito! À exceção de problemas de saúde ou um
tempo particularmente inclemente, não aconselho!
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Ao longo do caminho... |
Continuamos pela Causeway Coastal Route até Larne. Não tendo
a espetacularidade da costa atlântica irlandesa, é uma estrada muito bonita,
sempre à beira mar, entre campos agrícolas e altas falésias.
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Pela Causeway Coastal Route... |
Em Larne deixamos a costa e rumamos a Belfast. Aí as
histórias são outras e bem mais violentas, mas já contei algumas delas noutro
post, aqui.
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