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Homenagem aos barqueiros do Elba |
Se a Liga Hanseática foi criada em Lübeck, como foi
já descrito no post anterior, a cidade que mais se afirmou e prosperou com essa
associação mercantil foi Hamburgo, ao ponto de ainda hoje se intitular “Cidade
Hanseática”. O símbolo da Hansa continua a ver-se, nos transportes públicos,
por exemplo, e nos nomes das mais variadas instituições e empresas. Claramente,
é um fator identitário importante na cidade.
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As pontes do rio Alster |
Situada nas margens do rio Elba e do seu afluente Alster,
Hamburgo tem 2302 pontes, mais do que as cidades de Veneza e Amesterdão juntas.
Evidentemente, muitas dessas pontes são modernas, ao contrário do que acontece
naquelas cidades. Não podemos esquecer que Hamburgo foi pesadamente bombardeada
na 2.ª Guerra Mundial e muito do seu miolo, do seu coração histórico,
desapareceu. Mas algumas antigas pontes subsistem, como as que dão acesso à zona
dos armazéns marítimos, e onde encontramos a homenagem a personalidades que
abriram o comércio do mundo, como Cristovão Colombo e Vasco da Gama.
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Uma imagem pouco habitual de Vasco da Gama |
O centro da cidade encontra-se na na zona de Jungfernstiege,
com os seus pórticos e arcadas, entre o enorme lago Binnenalster e a monumental
Rathaus (Câmara Municipal). É uma zona elegante, cheia de esplanadas e centros
comerciais, mas é nas escadarias que levam ao lago que muitos hamburgueses
gostam de se sentar ao fim do dia, a ver o movimento dos barcos de recreio.
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A Rathaus, vista da Jungfernstiege |
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O lago Binnenalster |
No
canal, junto à Rathaus, ergue-se o memorial aos 40 000 filhos da cidade
que morreram na 1.ª Guerra Mundial.
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Memorial aos mortos da 1.ª Guerra Mundial |
Da 2.ª Guerra Mundial não sabemos as
estatísticas; mas as ruínas da Igreja gótica de St. Nikolai mostram-nos bem o
grau de destruição. Só a torre sobreviveu... Hoje, toda a zona destruída da igreja mantém-se como um
pequeno museu e um memorial contra a guerra, contra todas as guerras.
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A torre da igreja St. Nikolai |
A área ocupada pela nave tornou-se um memorial contra a guerra |
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Uma janela que restou... |
A Rathaus, enorme, belíssima, imponente, domina a praça
principal. Está cheia de pormenores esculpidos, estatuária, fontes, tanto no
exterior, como no interior. Vale a pena perder tempo a contemplá-la.
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A Rathaus, exterior |
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A Rathaus, pátio interior |
Mas a riqueza e o coração da cidade está no rio Elba e no
porto que ali se desenvolveu. A cidade acarinha o porto e podemos caminhar
quilómetros ao longo das suas margens, sempre com os olhos no movimento dos
barcos e das gruas. Pelo caminho, há muitos parques e edifícios relacionados
com o movimento portuário, como as alfândegas, mas também muitas esplanadas e
armazéns transformados em museus ou centros culturais. Atracado na margem,
chama-nos a atenção um U-Boot, um dos velhos submarinos alemães que tanta
destruição criaram no Atlântico, durante a Guerra. Há um pequeno museu dedicado
aos U-Boot, com visitas explicativas.
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Uma floresta de gruas |
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A velha alfândega |
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O Speicherstadt |
É na confluência do Elba com o Alster que se encontra o
Speicherstadt, o maior conjunto de armazéns de mercadorias do mundo ainda em
funcionamento, e por conseguinte monumento protegido pela UNESCO. É também aí,
nesse conjunto monumental de armazéns, de que alguns datam do século XV, que
podemos ter uma noção da importância do movimento comercial que aqui se
centrava.
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Os antigos armazéns, vistos do rio |
Na mesma zona, entre o Elba e o Alster, ergue-se o edifício
cultural mais querido dos hamburgueses, a Elbphilarmonie, o moderníssimo
edifício que alberga a Orquestra Filarmónica do Elba.
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A Elbphilarmonie, duas perspetivas |
O rio é o coração e as artérias da cidade, tudo para ali
conflui. O movimento do porto comercial mistura-se com as milhentas embarcações
de recreio. Há barcos de todos os tamanhos e feitios, mas tudo parece conviver
em harmonia.
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As margens do rio, com um U-Boot à esquerda |
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Um barco-bombeiro, no meio dos barcos de recreio |
Por puro acaso, como tantas vezes acontece nas nossas viagens,
apanhámos uma enorme festa que decorre anualmente ao longo do porto: o Dia dos
Cruzeiros, “Cruise Day”. Há animação e viagens pelo porto durante todo o dia e
milhares de pessoas juntam-se junto à agua, para comer e beber ou simplesmente
apreciar o movimento. Mas o ponto alto da festa acontece à noite. Os grandes
barcos de cruzeiro oferecem um espetáculo de cor e fogo de artífício à cidade.
Devido às restrições ambientais, o fogo de artifício foi substituído por fogo
preso produzido por... drones! Modernices... interessantes!
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Espetáculo do Cruise Day |
Mas o que mais guardo desse dia é o jantar no bairro
português. A comunidade portuguesa em
Hamburgo é muito antiga, data do século XVI. Mas alargou-se imenso no século
XX, com o movimento de emigração dos anos 60 e 70, principalmente. O bairro
português ocupa um par de ruas, junto ao porto, e ali surgiram muitos
restaurantes portugueses e winebars. Não falta o peixe grelhado nem o
pastel de nata... os restaurantes têm todos nomes portugueses, os empregados
são portugueses, em alguns sítios pode-se ouvir o fado. Já nos tinham dito que ali se comia bem, o
que não é de admirar, a gastronomia portuguesa dá cartas em qualquer latitude.
Mas não antecipava a emoção que se apodera de nós quando, depois de quinze dias
a ouvir falar em alemão, inglês, dinamarquês, entramos num restaurante chamado
“Olá Lisboa!”, somos recebidos calorosamente em português, bebemos um vinho
verde do produtor, seguido de um Porto como digestivo... Raio da alma lusitana,
que não nos dá tréguas!...
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No restaurante Olá Lisboa! |