quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Tashkent, a cidade modelo

 

Os belos jardins de Tashkent

Tashkent é a capital do Uzbequistão e, com os seus 40 quilómetros de extensão e quase 3 milhões de habitantes, é a maior cidade da Ásia Central. Hoje já pouco resta da antiga Chach, ponto de intercâmbio entre os comerciantes sogdianos e os nómadas turcos e, portanto, um local relevante da Rota da Seda. Em 1966, Tashkent sofreu um sismo devastador e foi reconstruída como uma cidade modelo do planeamento urbano soviético, com a ajuda das outras repúblicas da URSS.

Monumento à reconstrução de Tashkent...


... e aos homens e mulheres que fizeram essa reconstrução

É uma cidade ampla, rasgada por grandes avenidas com três e quatro faixas de rodagem em cada sentido, rodeadas de árvores e jardins que lhe dão um aspeto aprazível e um ar europeu. Chamou-nos a atenção o parque automóvel. Naquelas amplas avenidas circulavam quase exclusivamente automóveis da marca Chevrolet, de cor branca. Depois percebemos: há uma fábrica dessa marca no país e esses carros pagam menos impostos...

O Museu de História dos Povos do Uzbequistão, com os inevitáveis Chevrolet

Os blocos de apartamentos alternam com equipamentos de lazer vistosos, quase grandiosos: museus, como o grande Museu de História do Uzbequistão; teatros, dramáticos, juvenis, de marionetas; ópera, salas de concertos e bailado; equipamentos desportivos, mas também o imponente edifício do Comité Olímpico do Uzbequistão...

Frente ao teatro Aladdin

Alguns pequenos museus também merecem uma visita: é o caso do Museu de Artes Aplicadas, que faz uma boa introdução ao trabalho da madeira e dos têxteis na região, tão delicado e tão rico! Instalado numa casa particular de um antigo diplomata, o espaço é, em si mesmo, uma jóia!

Uma das salas do Museu de Artes Aplicadas

Pormenor da entrada do museu

Foi também após o terramoto de 1966 que foi construído o metropolitano de Tashkent que, à imagem do de Moscovo, tenta levar a arte e a pedagogia socialista às massas trabalhadoras. É particularmente bonita a estação “Cosmonautas”, onde se celebra a conquista do espaço e o pioneirismo soviético. Ali encontramos Gagarin e Valentina Tereshkova, a par de outros estudiosos do espaço, como Copérnico. Noutra estação, são os heróis da história uzbeque, como o criador da língua uzbeque escrita, que nos rodeiam, em belas molduras de cerâmica azul.

Gagarin saúda-nos, na estação de metro

As belas cúpulas do metropolitano

Um dos quadros de cerâmica que recorda a história uzbeque

Tal como em todas as capitais do mundo soviético, há grandes hotéis, de traça idêntica; aqui em Tashkent, destaca-se o grande Hotel Uzbekistan, agora em processo de remodelação. Mas há também muitos hotéis modernos, com todas as comodidades a que estamos habituados. Afinal, o país está a apostar no turismo!

O Palacete dos Romanov

O centro da cidade é a Praça da Independência, também chamada de Amir Timur (em tradução livre, Rei Tamerlão). Não conseguimos lá ir. A aproximar-se a data da comemoração da independência, todo o recinto estava vedado e fortemente policiado. Também não se podia fotografar o Palácio do Governo, nem o do Senado. Não faço ideia de qual seria o programa das festas, mas parecia precisar do maior secretismo.

Perto da Praça da Independência...

A cegonha é a ave tutelar do Uzbequistão

Do grande parque que circunda a área governamental, só estava acessível a zona onde se localiza o memorial aos soldados uzbeques tombados na 2.ª Guerra Mundial: os seus nomes, milhares, são recordados em pequenos nichos, enquanto a estátua de uma mãe, uma mater dolorosa, vela pelo fogo sagrado.

Memorial aos soldados mortos

A Mater Dolorosa

A cidade de Tashkent é, portanto, uma cidade espaçosa e moderna, com uma marca vincada da arquitetura do período soviético, embora hoje em dia já se comecem a reconhecer outras marcas e influências: passamos por algumas lojas de cadeias internacionais e por uma enorme Disneyland, com os seus bonecos e castelos estereotipados!...

Os espaçosos parques de Tashkent

Um pouco afastado do centro desta cidade nova, restam ainda vestígios da cidade antiga. Aí, encontra-se o conjunto arquitetónico Hazrati Imam, que inclui uma madrassa, mesquitas e uma biblioteca. A madrassa (escola religiosa islâmica) ainda está em funcionamento e integra a Direção dos Muçulmanos do Uzbequistão. Sendo um país que se rege por uma Constituição laica e que tenta manter a igualdade de género, aí podem estudar tanto rapazes como raparigas.

Entrada da madrassa


A Mesquita de 6.ª feira

A caixa das esmolas...

Na mesma praça, a antiga biblioteca alberga agora um pequeno museu corânico, cuja vedeta principal é um volumoso Corão do séc. VII, mandado redigir para o terceiro califa e que constitui um dos livros mais antigos e preciosos do mundo islâmico.

A belíssima cúpula da biblioteca

Neste recanto de Tashkent, reconheço o que vim procurar ao Uzbequistão: as paredes de tijolo cor de areia são decoradas com painéis de cerâmica em tons de azul; os motivos florais entrecruzam-se com as citações decorativas sagradas; as cúpulas estonteantemente azuis cintilam ao sol. Aqui, podemos começar a nossa exploração da Rota da Seda.

Parte do Complexo Hazrati Imam


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