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Istambul, vista do Bósforo |
Istambul não é uma cidade qualquer. Não é mais
um destino turístico que se adiciona a outros. Não lhe serve a adjetivação do
costume, muito bonita, magnificente, deslumbrante, misteriosa, luminosa,
embora todos esses adjetivos lhe assentem bem.
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Vista sobre o Bósforo, da esplanada da mesquita de Suleimanye |
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O Bósforo, da janela do Palácio Topkapi |
O que a torna uma cidade especial? Em primeiro
lugar a sua situação geográfica. Equilibrada nas suaves colinas que rodeiam o
estreito do Bósforo e o Mar de Mármara, cruzada por aquele estreito braço de
mar a que chamam Corno de Ouro, dominando a passagem entre o Mar Negro e o Mar
Mediterrâneo, Istambul estava fadada para o sucesso económico. Este contacto
constante entre o azul do mar e o azul do céu também lhe traz uma luminosidade
especial - que me fez lembrar Lisboa, ou não fosse eu uma alfacinha convicta.
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Almoço na Ponte Galata |
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O Corno de Ouro visto do Café de Pierre Loti |
Possui uma originalidade: a parte mais antiga
está na Europa, mas já tem um pé na Ásia, do outro lado do estreito. Não me
lembro de outra cidade que habite simultaneamente dois continentes. Esta
característica faz de Istambul um cruzamento obrigatório entre o Oriente e o
Ocidente, patente na sua história, na sua gastronomia e até no seu aeroporto,
uma enorme plataforma de ligação entre a Europa e a Ásia. Um passeio de barco
pelo Bósforo é uma das experiências imperdíveis na cidade. Conseguimos ver as
duas margens do estreito, com o seu movimento, as suas casas apalaçadas, os
seus jardins, até à ponte que une os dois continentes e as duas partes da
cidade.
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A ponte sobre o estreito do Bósforo, que liga a Europa e a Ásia |
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O lado europeu... |
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...e o lado asiático |
Como se tudo isto não chegasse, não me recordo
de outra cidade que tivesse sido uma orgulhosa capital de império durante mil e
quinhentos anos. Constantinopla, Bizâncio, Istambul, não são três cidades, mas
sim um mesmo espaço que se vai readaptando aos desígnios dos imperadores que aí
habitam. Hoje, Istambul reflete essa história de glórias e riquezas. Ainda
encontramos os vestígios da velha capital do Império Romano sob o impulso de
Constantino, mas também aí estão os testemunhos da orgulhosa capital do Império
Bizantino ou, o que é dizer o mesmo, do Império Romano do Oriente.
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Ainda hoje aqui está situada a sede da Igreja Ortodoxa, que apanhámos em plena celebração da Páscoa |
No século XV a cidade já está muito
fragilizada sob os ataques dos turcos e acaba por cair nas suas mãos em 1453,
apenas para se tornar a luxuosa capital do Império Otomano. São dessa época
mais recente os palácios e mesquitas mais esplendorosos. Hoje já não existe
império otomano e a Istambul moderna organizou-se à volta da Praça Taksim, onde
se presta homenagem aos heróis da criação da Turquia republicana e laica, e da
Avenida Istiklal, que significa Avenida da Independência. Descemos a Avenida
Istiklal. À exceção dos pequenos elétricos que percorrem a avenida, pouco mais
há de interessante: o que encontramos são lojas de souvenirs ou lojas das
grandes cadeias internacionais. Ninguém vai a outra cidade para encontrar os
mesmos produtos que pode comprar em qualquer grande cidade ou mesmo num
aeroporto.
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Monumento à criação da Turquia moderna, na Praça Taksim |
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Um dos típicos elétricos que descem a Avenida Istiklal |
Viramos então as costas à cidade moderna para
mergulhar na cidade antiga e em tudo o que ela tem de único, as suas igrejas e
mesquitas, os seus palácios, os seus bazares. É nos bazares que vale a pena
perdermo-nos. É na sua confusão ruidosa e fascinante que ainda se pode
encontrar o modo de vida típico da velha Istambul. Ou será que já nem aí? Os
turistas são caçados e convencidos a comprar pratos e tapetes, jóias e tecidos.
Não compro quase nada, não tenho jeito para negociar. Mas sempre posso comer
uma baklava acabada de sair do forno, a desfazer-se na boca... uma
experiência sensorial!
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A entrada do Grande Bazar... |
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... e as belas galerias interiores |
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A entrada no Bazar Egípcio, ou das Especiarias |
Seja como for, nas ruas mais secundárias do
bazar, entre as lojas de pássaros, gaiolas e sementes, e os pequenos espaços
que vendem café turco, ainda encontramos as pessoas da cidade que andam às
compras ou simplesmente esperam pela chamada para a oração, para se dirigirem à
mesquita.
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No Bazar vende-se de tudo, desde especiarias a esponjas naturais |
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Um janízaro guarda o Bazar Egípcio... |
Se sairmos das zonas mais turísticas,
consegue-se ainda vislumbrar a velha Istambul nos bairros antigos, onde viviam
as diversas comunidades étnicas que conviviam e partilhavam a cidade: nos bairros de Balat e Fener, por exemplo, viviam arménios, judeus sefarditas, europeus levantinos.
Estas comunidades traziam a sua cultura e replicavam-na, na culinária como na
arquitetura. É esta mistura que torna a cidade tão diversa e fascinante.
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Uma rua em Fener |
Os incêndios que ao longo de décadas atingiram
Istambul terão sido os responsáveis pelo desaparecimento das típicas casas de
madeira que, ainda no século XX, se alinhavam ao longo do Bósforo ou se
apertavam pelas encostas acima. São esguias, de poucos andares, de madeira à
vista ou pintada de cores discretas, com varandas de sacada a sobressair da
fachada. Ainda se encontram, aqui e ali. Passámos por um belo conjunto ao longo
da Rua dos Mártires de 16 de março, a caminho da mesquita Suleymaniye.
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Casas típicas de madeira |
Os bairros mais modernos sucedem-se aos mais
tradicionais. Galatasaray, Fenerbahçe, Besiktas... não é estranho que
conheçamos os nomes dos bairros de Istambul por causa das competições
internacionais de futebol?
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Restaurantes num dos bairros típicos de Istambul |
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Vida de gato... |
Para além de tudo isto, recordo Istambul como
a cidade dos gatos. Já sabia que havia muitos gatos em Istambul, mas não
esperava tantos, em todo o lado, sempre com uma pose que reivindica o espaço
como seu! Os gatos, tradicionalmente, eram acarinhados como símbolos de
prosperidade. Protegiam os celeiros e os bens alimentares, defendendo-os dos
ratos e outras pragas. Essa atitude mantém-se. Desde as entradas das lojas e
casas até às ruas dos bazares, por todo o lado há recipientes com água e
comida. Os gatos podem deambular com aquele ar fresco e confiante: sabem que em
todo o lado haverá um lanche à espera! Estão gordinhos e bem tratados, com uma
orelhinha cortada a indicar que houve um cuidado médico e uma esterilização.
São de todas as cores, raças e temperamentos. Esperam ao lado do pescador ou à
porta da peixaria, confiando que sempre haverá um peixinho para eles, antes de
se deitarem a fazer a sesta. Que bela vida, a de um gato em Istambul!
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Entre o Ocidente e o Oriente, entre a Europa e a Ásia... um farol no Mar de Mármara |
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