segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Crónicas de uma viagem a Itália - Génova e as Cinque Terre


As Cinque Terre, ou o Mediterrâneo na vertical

O espaço que medeia entre Génova e La Spezia integra-se na Ligúria, uma região muito particular de Itália. Já alguém lhe chamou "o Mediterrâneo na vertical", devido ao aglomerado de casas que sobe desordenadamente pelas encostas junto ao mar.
Já tinha tido essa impressão de Génova, da primeira vez que estive nessa cidade. Fiquei com a ideia de um centro histórico de ruas estreitas ladeadas de prédios antigos e altos ( seis, sete, oito andares), onde se acotovelam pessoas de todas as cores e condições, e onde encontramos lado a lado igrejas, palácios e lojas de frutas e kebabs, geridos por imigrantes.


O Museoteatro della Commenda di Pre, perto do porto antigo

As ruas estreitas do centro histórico

Foram o porto e a atividade comercial que trouxeram riqueza a Génova e é ainda à volta do Porto Antigo que toda a cidade se organiza. Este ocupa um espaço imenso, que engloba o Aquário de Génova, uma enorme Biosfera, a zona dos navios históricos, um parque de diversões, restaurantes, bares e pizzerias.


A popa do navio Neptuno, no porto antigo

O parque de diversões na extremidade sul do porto

Para o interior, dentro das antigas muralhas, encontramos a cidade velha. É a zona das ruas estreitas e sinuosas, uma espécie de caos ordenado. Aí, podemos deparar com as coisas mais inesperadas: antigos palácios ocupados para habitação; uma igreja para a qual se sobe entre dois estabelecimentos comerciais; casas, hotéis e jardins que se acedem através de outras casas; até a antiga loggia dos mercadores está transformada numa espécie de museu do cinema.


A mistura entre o sagrado e o profano

A antiga loggia dos mercadores

A meia-encosta, começam a encontrar-se as zonas mais ricas. Génova tinha uma organização original, chamada "sistema dei rolli", que quer dizer dos róis, das listas. Dos mais de cento e cinquenta palácios existentes na cidade, quarenta e dois faziam parte do rol, isto é, da lista de edifícios onde podiam ser alojadas as altas individualidades que visitavam a cidade, por razões políticas ou comerciais. Competiam em magnificência e luxo, disputando a honra de fazer parte do rol. Hoje, alinham-se na Via Garibaldi ou nas suas imediações, não ficando atrás do Palácio Real. Alguns funcionam como museus, ou hotéis, mas outros ainda pertencem a particulares, deixando entrever belos interiores, escadarias e jardins que continuam a subir pela encosta acima.


Os velhos palácios sucedem-se junto à Via Garibaldi

Os belos jardins interiores

Mas Génova não é só porto e palácios, também vive de pequenos recantos encantadores, como o Chiostrino de Sant'Andrea, o claustro sobrante de um antigo convento já desaparecido.


O Chiostrino di St. Andrea

Aí perto, encontramos a casa onde alegadamente nasceu Cristovão Colombo. Será que foi ali mesmo? Para desfazer qualquer dúvida sobre a naturalidade do navegador, ergueu-se junto à estação ferroviária uma elaborada estátua, em que a Pátria agradece os serviços prestados.


A casa onde alegadamente nasceu Cristovão Colombo

O conjunto escultórico de homenagem a Colombo

Uma palavra ainda para as igrejas de Génova. Já aqui tinha escrito sobre a profunda admiração que me tinha suscitado a Catedral de São Lourenço, na zona mais antiga da cidade. Desta vez, descobri a Basílica dell' Anunziata, perto da Via Garibaldi. Esplendorosamente decorada pelos pintores da Escola Genovesa do século XVIII, acabou de ser restaurada, depois dos estragos provocados na 2.ª Guerra Mundial.



A bela Basílica dell' Anunziata
O tecto da basílica fez-me lembrar a Capela Sistina

E muitos outros tesouros haveria para descobrir, como em todas as cidades italianas...
Génova é como uma enorme concha, ou um anfiteatro, que sobe pelas encostas a partir do porto. Seguindo a costa para sul, onde o espaço é menor, as casas trepam pelas ravinas e encostas, num equilíbrio que parece periclitante. É o caso das cinco aldeias conhecidas como Cinque Terre. O acesso era difícil por terra, já que a montanha avança até ao mar. Eram povoações isoladas, que viviam do mar e através dele comunicavam umas com as outras.
O Estado construiu uma linha férrea regional, que funciona quase como um metropolitano ligando estas pequenas localidades, muitas vezes através de túneis. E este comboio regional, que os livrou do isolamento, trouxe multidões de turistas, que ameaçam arrastar consigo a beleza peculiar e a genuinidade das Cinque Terre.


Rios de gente pelas ruas 

Não visitámos todas. Passeámos um pouco em Monterrosso, Vernazze e Manarola, juntamente com outras centenas de pessoas que inundavam as ruas estreitas. Todos os espaços disponíveis estão ocupados por restaurantes e lojas de souvenirs. Nos pequenos recantos de praia, os chapéus de sol e as toalhas competem por uns grãos de areia negra.


A igreja de Santa Margarida de Antioquia debruçada sobre a praia em Vernazze

Das três aldeias que visitámos, aquela de que mais gostei foi Vernazze, com a igreja dedicada a Santa Margarida de Antioquia debruçada sobre a pequena praia. Como deve ser encantadora no outono ou no inverno!
Manarola é pitoresca: tem piscinas naturais escavadas nas rochas e um caminho pedonal, que serpenteia pela encosta acima, e do qual se tem uma vista fabulosa da baía e da costa.


As piscinas naturais de Manarola

Monterrosso é a que tem uma praia maior. É, portanto, a que tem uma maior pressão de turismo balnear e a menos interessante das três aldeias.


A praia de Monterrosso

O congestionamento, nas estreitas plataformas das estações que servem estas aldeias, é indescritível. Cada comboio vomita para a plataforma centenas de pessoas simultaneamente. Por vezes, o tráfego humano não consegue escoar-se antes da paragem de um novo comboio, aumentando a confusão, a vozearia e as cotoveladas. Também os comboios rápidos e intercidades ali passam em alta velocidade, sem parar; então, os guardas da estação tentam conter as pessoas que se encontram nas plataformas, no pânico de que alguém caia à linha!
Fartei-me rapidamente deste jogo, de brincar ao turista que "vai onde toda a gente vai", só para dizer que ali esteve. Tive saudades das belas praias da nossa costa alentejana, espaçosas e verdadeiras, ainda não atropeladas pelo turismo de massas. E não descansei enquanto não rumei a paragens mais tranquilas.


De dentro da igreja, em Vernazze, o olhar sobre a pequena baía é mais belo e tranquilo


2 comentários:

  1. Em Outubro, um filho meu vai passear pelo Norte de Itália.
    Sei que vai a Cinque Terre.
    Vou recomenda-lhe este teu post, Teresa Diniz.

    Um beijo amigo.

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    1. Olá João
      O Norte de Itália é sempre um deslumbramento. Quanto às Cinque Terre, vale a pena ir, mas o verão é de evitar!
      Um grande beijinho, João.

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