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Gdansk, debruçada sobre o rio Vístula |
Chegámos a Gdansk à tardinha e pouco
mais fizemos do que procurar o hotel para pousar as malas, jantar e passear
um pouco à beira do rio Vístula. O nosso hotel chama-se Fahrenheit, em
homenagem ao grande cientista nascido na cidade. Descobrimos depois que o seu termómetro
de mercúrio ainda está exposto na rua principal. Outro cientista famoso foi
Hevelius, astrónomo e estudioso dos céus desconhecidos, recordado numa praça da cidade que descobrimos também a caminho
do hotel.
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Estátua do astrónomo Hevelius, na praça que lhe presta homenagem |
Mas a hora era de jantar e descansar.
Jantámos no Bowke Gdanski, que nos tinham recomendado:
experimentei bacalhau fresco, que estava delicioso e, depois de uma tarte de
maçã à maneira polaca, já não estava capaz de fazer mais experiências e
descobertas!
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Entrada do restaurante, junto ao rio |
Gdansk surpreendeu-me pela sua
beleza. Quando pensava em Gdansk, pensava em estaleiros e zonas industriais,
provavelmente influenciada pela figura de Lech Walesa, marcante no meu
imaginário de adolescente. Mas Gdansk é muito mais do que isso!
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O Grande Moinho |
A cidade de Gdansk (ou Dantzig,
durante muita da sua história) fazia parte da Hansa medieval do Mar Báltico, a
Liga das Cidades Hanseáticas. Isso significa que, aqui, era o comércio que
imperava. E isso é visível na cidade, que se desenvolveu junto à foz do rio Vístula.
Nas duas margens do rio, cresceram os armazéns e casas ligadas ao comércio e transporte
de mercadorias. Uma linha de fortificações protegia a zona portuária; dessa
fortificação restam algumas torres, como a elegante Torre do Cisne, e alguns
arcos de entrada na cidade.
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A Torre do Cisne, na marginal pedonal que ladeia o rio |
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Porta de Santa Maria |
Junto ao rio, pode ainda ver-se a
grande Grua, ou guindaste, com que se retiravam os produtos dos barcos. Duas
enormes rodas, ativadas por homens que caminhavam no seu interior, faziam mover
o guindaste que transportava as mercadorias. Esta Grua é hoje o símbolo de
Gdansk e, acima de tudo, uma demonstração viva da tecnologia tardo-medieval.
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A estrutura da Grande Grua |
Há várias portas de entrada na cidade, que levam a ruas residenciais, ladeadas pelas casas dos mercadores ou dos notáveis da cidade. Apresentam as características escadas para a rua, ornamentadas com corrimões, varandins de pedra esculpidos, gárgulas para escoamento da água da chuva.
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Rua Mariacka |
Os topos das casas estreitas são profusamente ornamentados e bem
pontiagudos, à maneira nórdica. Lembram outras casas de mercadores da Liga
Hanseática, numa linha que une as cidades do litoral do mar Báltico. Os
edifícios que rodeiam a rua principal, a são extraordinários, cobertos de pinturas e
esculturas e culminados pelos seus topos ricamente trabalhados.
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Fonte de Neptuno na rua principal, a ulica Długa |
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Lado da ulica Długa que dá para o rio |
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Os prédios ricamente pintados não se medem aos palmos |
Ainda não falei dos relógios de sol e
outros relógios importantes da cidade. Há vários relógios de sol, todos muito
bonitos, instalados em vários edifícios. Por vezes, coexistem com os relógios
mecânicos, para os corrigir ou confirmar; no início da sua utilização, os
relógios mecânicos pareciam menos fiáveis… É o caso dos relógios da Câmara
Municipal.
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Relógio de Sol na Basílica de Santa Maria |
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O relógio de sol e o relógio mecânico da Câmara Municipal |
O relógio mais extraordinário é o da
Basílica de Santa Maria. Data do século XV e está dividido em três partes. Na
parte de baixo, vê-se um calendário perpétuo, ladeado por quatro figuras com
instrumentos musicais e tendo no centro uma imagem de Nossa Senhora com o menino.
Na parte central está o relógio propriamente dito, circundado pelos signos do
Zodíaco. A parte de cima é composta por um teatro. Todos os dias, ao meio-dia,
a música começa a tocar, abrem-se as portas e surgem os quatro evangelistas e
depois os doze apóstolos. Então, Adão e Eva, no topo da instalação, como hoje
se chamaria, tocam as doze badaladas. Os evangelistas e os apóstolos
recolhem-se. O diabo tenta segui-los, mas fica à porta!
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O belo relógio teatro da Basílica de Santa Maria... |
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... com o calendário perpétuo |
Este é dos primeiros relógios com
teatro que é feito na Europa. Reza a lenda que os habitantes de Gdansk estavam
tão orgulhosos do seu relógio que, quando souberam que o seu construtor tinha
sido contratado para construir outro, numa outra cidade da Europa, decidiram
tirar-lhe os olhos, para impossibilitar o trabalho. Mas tiveram pouca sorte: o
relógio avariou-se e só o seu construtor o poderia consertar! Ainda o chamaram
mas o pobre homem não conseguiu fazê-lo. Só no ano passado, em 2018, o relógio
foi enfim consertado e, hoje, temos a sorte de poder assistir à representação.
Há muitas outras lendas em Gdansk,
como a do Beco dos Beijos, ligada à história de amor de um monge com a filha de
um mercador, que, segundo se conta, ali se encontravam às escondidas para
namorar. Também lá fomos espreitar…
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Galeria de Arte instalada no antigo Grande Arsenal |
Umas palavras ainda para o âmbar, o
ouro do Báltico, que se vende por todo o lado. Há muitos milénios, havia nesta
região florestas tropicais e aqui se concentra oitenta por cento das reservas
mundiais dessa resina fossilizada, aquilo a que chamamos âmbar. Por isso há
quem chame a Gdansk a cidade dourada. Há um Museu do Âmbar. Também há
expositores nas ruas, pertencentes às lojas, e eu andei a namorar umas peças…
Mas atrasei-me e, quando voltei às ruas centrais para fazer compras, já estavam
a fechar os expositores. Às seis horas da tarde, fecha tudo! Começa a estar
frio e as pessoas recolhem-se em casa. Fizemos o mesmo. Lá terei de deixar as
compras para depois!
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Numa rua de Gdansk... |
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