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Castelo de Kirby |
A Escócia convoca a
nossa imaginação para cenários dramáticos, ao sabor das histórias de Sir Walter
Scott. E um dos elementos desse dramatismo são os seus castelos. Imaginamo-los
como ruínas altivas, dominando uma paisagem agreste ou melancólica, povoados de
fantasmas de donzelas perseguidas ou de cavaleiros amargurados.
Com efeito, os
castelos dominam a paisagem escocesa. Muitos deles são apenas ruínas de antigas
torres de vigia ou fortificações que controlavam as passagens dos lagos ou
marcavam os territórios dos clãs.
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Varrich Castle |
A história escocesa é
abundante em lutas entre os diversos clãs mas, mais ainda, é marcada pela luta
contra o poderoso inimigo do sul, a Inglaterra. Há muitas referências a estas
lutas, que duraram centenas de anos, ou aos seus heróis - como Robert the Bruce
– e há muitos castelos destruídos durante essas guerras.
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A paisagem escocesa, cerca do Varrich Castle |
Muitos castelos
permaneceram destruídos, como símbolos da derrota. No entanto, muitos outros
mantiveram-se como grandes casas senhoriais ou foram reconstruídos em
circunstâncias diversas.
A nossa ideia era
visitarmos alguns desses castelos, escolhendo os que não nos afastavam muito da
nossa rota. Não cumprimos tudo o que tínhamos planeado. Balmoral, por exemplo,
é a residência da família real britânica, durante o mês de agosto. Só pudemos
passar, apressadamente, por uma entrada lateral sem graça.
O Castelo de Mey, na
costa setentrional das Highlands, também estava nos nossos planos. Comprado e
reconstruído pela Rainha Mãe, tinha fama de ser assombrado por uma tal Green
Lady. Mas não houve fantasmas para ninguém, estava fechado!
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Drumlanrig Castle |
O primeiro castelo com
que nos deparámos, à entrada das Lowlands escocesas, foi o Castelo de
Drumlanrig. Tem fama de ser o mais belo castelo da Escócia e, efetivamente,
quando surge à nossa frente, ao fundo de uma alameda ladeada de árvores
centenárias, é de uma imponência e graciosidade ímpares. Tínhamos rodado
quilómetros por uma estrada rural privada, entre pastagens muito verdes
habitadas por ovelhinhas curiosas que corriam à frente da mota. O castelo é
quase uma visão, fantástica, repentina, feérica.
Embora tenha o nome de
castelo, na verdade é um palácio do século XVII, que não teve qualquer função
militar.
O castelo tem uma
localização privilegiada, sobre o mar, e uns jardins belíssimos, inspirados em
Versalhes, projetados pelo arquiteto Sir Charles Barry.
Chegámos a tempo do
show de falcoaria. O mestre falcoeiro sabia muito sobre as aves de rapina e os
seus hábitos, e também sabia transmitir essa sabedoria com um humor britânico
bem afiado! Foi um espetáculo muito didático e divertido.
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Dunrobin Castle: os jardins sobre o mar |
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Dunrobin Castle: um bufo real com 21 anos |
A visita ao castelo
também foi interessante. Gostei particularmente dos quartos das crianças, com
os brinquedos do século XIX, do cavalinho de pau aos livros infantis.
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Interiores do Dunrobin Castle: a Nursery |
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Interiores do Dunrobin Castle: a Nursery |
E, finalmente,
deparei-me com um aposento chamado “Quarto Assombrado”! Segundo reza a
história, no século XV o duque de Sutherland capturou uma bela rapariga do clã
Mackay, depois de uma batalha, e fechou-a naquele quarto. Ela recusava-o sempre
e, uma noite, o duque encontrou-a a tentar fugir por uma corda feita com
lençóis. Enraivecido, puxou da espada e cortou a corda, provocando a queda e
morte da jovem. Aparentemente, ainda se ouve a rapariga a chorar e a
lamentar-se, mas nunca ninguém a viu. Por outro lado, já no século XX, foi avistada
uma figura masculina, que passeia através dos corredores e das portas fechadas,
mas ninguém sabe quem é. Portanto, mais estranho ainda, temos uma história sem
fantasma e um fantasma sem história!
Saímos do Castelo de
Dunrobin e parámos para almoçar em Golspie. Aí, junto à praia, os letreiros
informavam que se podiam avistar focas. Bem esforçámos o olhar, mas nem sinal
delas! E partimos outra vez, sem avistamentos, nem de fantasmas, nem de focas!
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Finalmente, uma história de assombrações... |
É impossível falar dos
castelos da Escócia sem mencionar o Castelo de Scone. A região de Scone é o
coração da Escócia e, durante séculos, aí se situou a capital do reino escocês.
Ali esteve, desde o ano de 838, a chamada Pedra de Scone, uma base de pedra,
talvez um antigo altar cerimonial, sobre a qual os reis escoceses eram
coroados. E assim sucedeu durante quase mil anos, até à coroação do último rei
da Escócia. Com a união dos dois reinos de Escócia e Inglaterra, a pedra foi
levada para a Abadia de Westminster, em Londres, onde continua a cumprir a sua
função de objeto simbólico de legitimação do soberano. O Castelo fica muito
perto de Perth e é facilmente acessível a partir desta cidade.
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O Castelo de Scone |
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Os símbolos da casa real escocesa nos portões de Scone |
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Os símbolos da casa real escocesa nos portões de Scone
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Falta aqui escrever
sobre o Palácio e o Castelo de Edimburgo, mas isso fica para depois… Edimburgo
merece um post inteiro, só para si!