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Praça Central de Lübeck |
A
Liga Hanseática, também denominada Hansa Teutónica, foi uma aliança económica
entre cidades mercantis do norte da Europa, entre o Mar do Norte e o mar
Báltico. Era uma associação livre e com grande autonomia política. Foi fundada
em meados do século XII, na cidade de Lübeck, a que se juntaram outras cidades do norte da atual
Alemanha, como Hamburgo, Flensburg, Bremen, Wismar, Rostock, Stralsund.
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O porto de Flensburg |
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Velhas ruas descem para o porto de Flensburgo |
A Hansa
era poderosa e criou uma rede de cidades com contrato de associação, que ia de
Londres a Bergen na Noruega, ou Novgorod, na Rússia. No século XVII, os
interesses políticos levaram ao seu enfraquecimento, sendo estas cidades livres
integradas nos estados europeus. O que restou desse poderio comercial, dessa
prosperidade? Sempre tive vontade de visitar algumas dessas cidades hanseáticas
e procurar as marcas desse tempo histórico. Calhou este ano...
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A Guilda dos Navegantes em Lübeck |
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Réplica de um kogge, um barco mercantil da Liga Hanseática, no porto de Kiel
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Dessa
rede de cidades mercantis, a mais importante é hoje Hamburgo, que ainda se
qualifica a si mesma como “cidade hanseática”. Mas foi em Lübeck que tudo começou e é
talvez a cidade onde as marcas dessa época de ouro se mantiveram mais vivas.
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O rio Trave |
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O centro histórico de Lübeck |
Lübeck
surgiu numa ilha, rodeada pelo rio Trave, o que, sem dúvida, lhe dava vantagens
em termos de comércio e de defesa. O centro histórico, a Altstadt, é quase
totalmente pedonal e podemos perder-nos nas suas ruelas estreitas, rodeadas de
velhas casas de tijolo vermelho, num ambiente que manteve um cunho medieval.
Foi esse ambiente medieval bem preservado que levou Lübeck a ser a primeira cidade do norte da Europa a
entrar na lista do Património Mundial da UNESCO, em 1987.
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Uma das portas de entrada |
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Detalhes dos edifícios de tijolo |
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Junto à porta de entrada na cidade |
O
símbolo da cidade é a Holstentor, do século XV. É a mais importante das portas
de entrada na cidade e a mais conhecida. É bela e imponente, mas as outras
portas não lhe ficam muito atrás... Hoje, já não recebe os comerciantes que
chegam pelo rio, mas essas histórias ainda estão presentes no Museu Holstentor,
que fica nas suas torres.
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A bela Porta de Holstentor |
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Outra perspetiva da Porta de Holstentor |
A
memória histórica mistura-se com a pujança económica e cultural, que subsiste
até aos dias de hoje. Os velhos armazéns comerciais ainda bordejam o rio,
alternando com esplanadas.
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Os armazéns hanseáticos nas margens do rio Trave |
A Câmara Municipal é a mais antiga da Alemanha e eu
diria que das mais bonitas, encastoada como uma jóia entre os velhos edifícios
da praça principal. O Hospital do Espírito Santo funcionou ininterruptamente
desde o século XIII até aos anos 60 do século XX, sempre dirigido e financiado
pela cidade.
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Uma das belas janelas da Câmara Municipal |
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A fachada do Hospital do Espírito Santo |
Mas
a cultura acompanhou sempre o poder económico. Ali nasceu e viveu Thomas Mann,
mas também Gunther Grass e Willy Brandt. A cultura popular e erudita cruzam-se:
a tradição das Marionetas mantém-se no Museu da Marioneta e ainda hoje se representam
clássicos num teatro de marionetas!
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O Teatro de Marionetas, representado num carro que replica as velhas carroças |
Deixamos
Lübeck e a sua paisagem
urbana marcada pelas torres esguias das igrejas: St. Marien, St. Petri, St.
Jacobi. No nosso hotel encontramos um jovem casal de motociclistas. Vêm de
Itália, dirigem-se ao Cabo Norte com o objetivo de aí preparar e beber um café
Moka. Desejamos uns aos outros boa viagem. Nós continuamos à descoberta de
outras cidades da Liga Hanseática.
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O porto velho de Wismar |
Continuamos
para leste, na direção de Wismar. Sem nos apercebermos, cruzamos uma linha
invisível, a antiga fronteira entre a República Federal da Alemanha e a
República Democrática Alemã, entre o sistema capitalista e o sistema comunista,
que aqui vigorou entre o final da 2.ª Guerra Mundial e 1990, data da
reunificação alemã, após a queda do muro de Berlim. Era a “cortina de ferro”, a
separação e o confronto entre dois mundos e duas conceções de vida.
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Antigos palacetes relembram a época de prosperidade de Wismar |
Depois
do dinamismo de Lübeck,
deteta-se aqui alguma estagnação, que os habitantes tentam ultrapassar. Wismar
parece uma cidade que ficou parada no tempo. Bombardeada na guerra, cinzenta e
arruinada, foi reconstruída e reabilitada após a reunificação alemã, com o patrocínio
da UNESCO. A torre da igreja de Sta. Maria é bem a imagem dessa destruição:
ergue-se solitária, o resto da igreja foi destruído e está agora patente
através da delimitação da enorme área da igreja.
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O que restou da igreja de Sta. Maria |
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Uma rua no centro de Wismar |
O centro é muito interessante,
com quarteirões inteiros de prédios com os seus telhados e frontarias tipicamente
hanseáticos. A praça principal ostenta uma bela fonte, encomendada aos
holandeses no século XVII, símbolo da sua prosperidade perdida.
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O fontanário do século XVII |
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A água da fonte jorrava por estas figuras híbridas |
Jantámos
nessa praça, no restaurante Reuterhaus, de decoração formal e antiquada.
Podíamos ali filmar um filme de época, passado nos anos 30 ou 40 do século
passado. A comida, no entanto, era excelente. A principal dificuldade foi
comunicar com as empregadas, que não falavam inglês, mas eram esforçadas e desejosas
de agradar e deixar uma boa impressão da sua cidade que, como dizia uma delas,
tinha uma “deep story”! No nosso hotel, o mesmo ar de luxo demodé mas
ainda digno. Mas no velho porto, há muita vida, entre barcos de recreio,
daqueles onde se pode embarcar para dar uma volta pela zona ribeirinha, e
barcos de pesca, alguns dos quais, já atracados, vendem peixe preparado e
cozinhado, como os típicos “Fischbrötchen”.
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Os barcos de venda de fischbrötchen |
Rumamos a Rostock, a terceira cidade
hanseática que tinhamos no nosso roteiro. Rostock é uma cidade animada, que se
desenvolveu graças à proximidade das praias, algumas delas grandes estancias balneares, como Warnemünde. O porto, onde chegam e partem ferryboats para
toda a Escandinávia, garante a passagem de muita gente variada e o
desenvolvimento económico. Também nós, amanhã, daí partiremos para a
Dinamarca. Mas Rostock também guarda marcas da vida hanseática, particularmente
as suas belas portas, guardadas pelos grifos que são o símbolo da cidade.
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A porta da cidade de Rostock |
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Perspetiva interior da porta de entrada |
Almoçámos
no centro da cidade, junto da Brunnen der Lebensfreude ou Fonte da
Alegria de Viver. Que nome tão bem posto! As estátuas que ornamentam a fonte
mostram situações de bem-estar e alegria e as crianças que brincavam e se
refrescavam nos repuxos eram a demonstração prática dessa alegria de viver! Que
boa disposição para despedida das cidades hanseáticas!
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A Fonte da Alegria de Viver |
Faltam
umas palavras sobre Hamburgo, a rainha das cidades hanseáticas, mas receio que
essas palavras sejam demasiado extensas. É melhor deixar Hamburgo para outro post.
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O grifo, símbolo de Rostock |