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O velho fórum de Pompeia |
Pompeia era uma cidade de média dimensão, situada no sul da
Itália, que beneficiava da pujança comercial do Império. Aninhada aos pés do
Vesúvio, numa região muito fértil, era uma pequena cidade próspera e
movimentada, conhecida pela sua escola de gladiadores. Provavelmente hoje não
reconheceríamos o seu nome, se uma catástrofe terrível não a tivesse destruído
totalmente e congelado no tempo.
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Um fontanário |
No ano de 79 d.C. o vulcão entrou em erupção e soterrou a
cidade. Toneladas de cinza vulcânica escaldante caíram sobre a cidade e os
habitantes que não conseguiram fugir ficaram soterrados também. O mesmo
aconteceu com outros povoados nos arredores, como a pequena cidade de Ercolano.
Lava e cinza cobriram a região e silenciaram aquela cidade vibrante e animada.
Durante séculos...
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Uma rua: os passeios, o fontanário, os sulcos das carroças... |
No século XIX, a nascente paixão da arqueologia levou às
primeiras escavações de Pompeia. A pouco e pouco, foi surgindo uma cidade
romana, tão viva e bem conservada como se tivesse adormecido ontem. Ou como se
fossemos nós a regressar ao passado numa qualquer máquina do tempo.
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Uma loja de comida pronta a comer |
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Uma padaria |
As cidades são entidades dinâmicas. Crescem, modificam-se.
Sucedem-se as guerras, os terramotos, os incêndios. Há construção, depois
destruição, e novamente reconstrução, numa cadeia imparável. As mentalidades e
as modas mudam. As velhas pedras são reutilizadas com novos propósitos. E o
tempo vai esculpindo as cidades, acrescentando camadas de histórias novas a
cada século que passa.
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Restos de uma domus |
Nada disso aconteceu em Pompeia. Ali, o tempo parou no dia da
erupção do Vesúvio. E agora, o que vemos é uma cidade romana em plena
atividade. As ruas, com o seu velho empedrado, são rodeadas de lojas que
conseguimos identificar. Há o tintureiro e a lavandaria. Há padarias, lojas de
produtos frescos e lojas de comida já feita e pronta a comer. Há uma associação
comercial, bem identificada pelos deuses propiciadores na fachada. Há anúncios
e grafitis nas paredes.
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Palavras escritas nas paredes há 2000 anos atrás |
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Os frescos sobre a porta da Associação Comercial |
Há casas de habitação, evidentemente. Muitas são pequenos
prédios, as insulae, mas também há belas domus, com as paredes
pintadas com frescos e o chão coberto de mosaicos. Vislumbram-se os pátios
interiores, as salas, as fontes, e conseguimos bem imaginar como ali se vivia.
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Interior de uma domus... |
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... com o seu cão de guarda à entrada. |
Muitos dos frescos, esculturas e mosaicos encontrados em
Pompeia estão hoje preservados no Museu Arqueológico de Nápoles. É uma visita
obrigatória, já que permite completar a visão que a visita à cidade nos
proporciona.
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Frescos, colunas e composições em mosaico, estão guardadas no Museu Arqueológico de Nápoles |
Um dos espaços mais surpreendentes é o lupanar, a casa de
prostituição, bem identificada pelos falos e pelas pinturas que sugerem as
diversas posições sexuais que ali se podiam praticar. De resto, os falos
aparecem por toda a parte, já que eram considerados símbolos de fecundidade e
talismãs de sucesso. Apesar de estarmos no século XXI, a nossa mente reage com
surpresa e estupefacção. Os séculos de repressão sexual pesam sobre nós. Mas os
romanos não eram assim, para eles o sexo era um ato natural praticado com
bastante liberdade e sem discriminações de género.
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O falo como amuleto |
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Pinturas com cenas de sexo explícito nas paredes do prostíbulo |
No cruzamento das ruas principais, como em todas as cidades
romanas, abre-se o Forum, uma praça larga, rodeada por colunas, onde se
situavam os edifícios públicos mais importantes, como os templos e a basílica.
Hoje em dia, a estátua de um centauro preside à praça, mas desconfio que no ano
de 79 aquele pedestal estaria ocupado pela estátua de um deus. Ou de um
imperador, o que era quase a mesma coisa.
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No meio do forum, a estátua de um centauro |
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O que resta do forum, com o Vesúvio ao fundo |
Os banhos, as termas, estão por perto. As salas para banhos
com águas a várias temperaturas sucedem-se e ainda conseguimos ver as
canalizações.
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O teto da sala de entrada das termas |
Sendo Pompeia uma cidade com tradição nas lutas de
gladiadores, possui um anfiteatro bastante grande e bem conservado.
Conseguem distinguir-se os vários níveis de bancadas e imaginar um dia de
jogos, com as bancadas cheias de público (tinha capacidade para 20 000
espetadores) que gritavam e incentivavam os lutadores.
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O anfiteatro de Pompeia |
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Entrando na arena... |
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Os espaços das bancadas: ainda se conseguem ver os bancos numerados |
Em frente, veem-se os muros da palestra ou ginásio,
onde se exercitavam.
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Frente ao anfiteatro, o espaço do ginásio |
Na mesma praça, erguia-se um hotel, a Praedia de Giulia
Felice , para albergar os que vinham assistir aos Jogos. Ainda lá estão os
quartos e as salas, os pátios e jardins. Podemos imaginar-nos a passear pelo pátio, rodeando o impluvium, o tanque central que guardava as águas da chuva. Ou podemos imaginar-nos a tomar uma refeição reqintada no triclinium, a sala das refeições, com uma parede ocupada pelos degraus por onde caía a água, em jogos decorativos. Ou podemos simplesmente maravilhar-nos com os frescos, que ainda guardam cores intensas e imagens vívidas.
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As salas da Praedia de Giulia Felice |
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O triclinium, a sala das refeições |
Caminhamos por ruas e becos, observamos as lojas e as casas,
vemos como estes romanos viviam. Apesar de ainda haver muitos espaços que não
foram escavados e explorados, percebemos bem que era uma cidade próspera e
vibrante, com muita gente que por ali caminhava, comprava e vendia, entrava e
saía daquelas casas. Até um dia... Quando Pompeia foi soterrada pelas cinzas do
Vesúvio, alguns não conseguiram escapar. Os seus corpos já desapareceram, mas
os espaços que ocupavam na camada vulcânica foram injetados com gesso e hoje
sobram-nos os moldes dos seus corpos abatidos pelas cinzas tóxicas. Esses
moldes trazem para a vida os antigos habitantes de Pompeia e preenchem as ruas
e as casas. Pelo menos, na minha imaginação.
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Os moldes dos habitantes mortos de Pompeia |
Para nós, que por ali vagueamos, as sensações misturam-se e
são estranhas. É como se abrissemos uma brecha no tempo e conseguissemos
espreitar lá muito para trás, para um tempo e um modo de vida que já passou há
muitos séculos. E que, estranhamente, nos parece muito moderno.