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A majestosa Praça Registan |
O esplendor de Samarcanda atinge um ponto máximo no
reinado de Tamerlão, ou Timur, durante a segunda metade do século XIV. Nascido
numa época em que os territórios mongóis se tinham fracionado numa série de
pequenos reinos que guerreavam entre si, Tamerlão constrói um enorme império,
que se estende da Ásia Menor à Rússia e à Índia, passando pela Pérsia. A sua
capital é Samarcanda, para onde ele faz transportar as imensas riquezas
provenientes das regiões conquistadas. O resultado é um conjunto monumental de
uma beleza, originalidade e riqueza sem par.
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Um pequeno mausoléu, em Shaki Zinda |
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Cúpulas |
Podemos começar a descobrir a Samarcanda Timúrida na Mesquita
Bibi-Khanum, que já mencionei aqui. Foi mandada construir pela primeira esposa
de Tamerlão, uma princesa chinesa de grande beleza, a propósito da qual se
criaram muitas lendas. A mesquita era, no seu tempo, uma das maiores e mais
importantes da Ásia Central.
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Vista geral do mausoléu de Tamerlão |
Mas Tamerlão dedicava tanto esforço e determinação às suas
conquistas como ao embelezamento da sua cidade. E surgiu o complexo
arquitetónico de Shaki-Zinda!
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O pórtico de entrada em Shaki Zinda |
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A entrada de um mausoléu |
É um conjunto de onze mausoléus, mandados construir por
Tamerlão para servir de local de sepultura de algumas das suas mulheres e
chefes militares. Organizam-se ao longo de uma rua, à qual se ascende por um
pórtico, como o de uma mesquita ou madrassa, seguido de uma escadaria.
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Uma rua rodeada de magníficos mausoléus |
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O interior de um mausoléu |
O coração do complexo é o mausoléu de Kusam ibn Abbas, primo
do profeta Maomé que, segundo as crónicas, terá chegado a Samarcanda, para
pregar a nova fé, em 676. O mausoléu é composto por várias salas e aí se entra
através da Porta do Paraíso.
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A porta do Paraíso |
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Cúpula interior do túmulo de Kusam ibn Abbas |
O seu túmulo ainda hoje atrai peregrinações. Assistimos a
uma, apenas de mulheres.
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Uma peregrinação no feminino |
Tamerlão desenvolveu o complexo de sepulcros, mandando aí
construir diversos mausoléus, que nos rodeiam naquele corredor estreito. Tanto
os interiores como os exteriores são de uma beleza e delicadeza extraordinárias,
conjugando o que de melhor se fazia no trabalho em cerâmica da época. Os
painéis de azulejo sucedem-se em padrões delicados e variados, com motivos em
alto-relevo, outros com aplicações em faiança, sempre explorando os mil matizes
do lápis-lazuli. Estamos mergulhados em azul...
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Mergulhados em azul... |
O complexo de Shaki-Zinda foi dos locais mais deslumbrantes
onde já estive. Os nossos sentidos deixam-se inebriar pelos padrões azuis que
nos rodeiam, tornando até difícil encontrar palavras que descrevam a magia do
lugar.
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Sucedem-se os padrões de cerâmica |
Tamerlão, evidentemente, teria de construir para si próprio
um mausoléu ainda maior e mais espetacular. É o mausoléu Guri Emir, projetado
por ele próprio, e que acabou por servir de inspiração a outros mausoléus
mongóis, como o Taj Mahal.
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O mausoléu de Tamerlão |
Se o exterior é imponente, é o interior que é impressionante.
O seu túmulo é um enorme bloco de jade verde, o maior do mundo, e a sala onde
repousa é toda trabalhada em padrões minuciosos e recamada a ouro. Parece que
há uma maldição para quem tentar roubar o túmulo! E parece que já funcionou! Junto de Tamerlão, estão os túmulos de outros membros da sua
família, como o do seu neto Ulugh-Bek, sobre o qual já aqui escrevi.
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O impressionante interior do mausoléu de Tamerlão |
Este astrónomo e matemático foi o responsável pela construção
da madrassa Ulugh-Bek, na praça central da cidade, que ele queria converter num
centro inteletual da Ásia Central. Aí se ensinou o que de mais avançado
produzia a ciência de então.
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Álea lateral da Praça Registan |
A praça central de Samarcanda, a Praça Registan, cresceu e
organizou-se a partir dessa madrassa. É o coração da cidade e, ao mesmo tempo,
uma jóia preciosa. Rodeiam a praça três madrassas majestosas, definindo um
espaço de grande equilíbrio e beleza, que eu quase poderia apelidar de
cinematográfico.
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A Praça Registan |
A madrassa Ulugh-Bek foi, como já disse, a primeira a ser
construída. Devia ser um grande centro intelectual, por isso o interior tem um
grande número de celas para os estudantes pernoitarem e salas de aprendizagem.
No topo da fachada, os padrões de estrelas de dez pontas simbolizam o céu e a
astrologia, dando pistas sobre o fundamento dos estudos que aí se concentravam.
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A madrassa Ulugh Bek, com as estrelas na fachada
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As antigas celas estão transformadas em lojas |
No lado oposto da praça, foi construída outra madrassa, cerca
de duzenos anos depois, a madrassa Shir Dor. Devia servir como espelho da
primeira, mas acabou por ser um pouco mais alta e elaborada. O seu nome advém
dos dois tigres dourados que adornam a fachada, numa representação animal pouco
comum no mundo islâmico.
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A madrassa Shir Dor |
Estas duas madrassas enquadram um terceiro edifício, mandado
construir no topo norte da praça, onde antes existia um caravanserai. É a
madrassa Tilla Kori, que significa feito de ouro e, efetivamente, o seu interior
onde os pormenores dourados pontuam é impressionante.
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O interior da madrassa Tilla Kori |
Mas a sua fachada não o é menos: o grande nicho subdividido
da entrada, ladeado de varandins e terminado por um delicado minarete em cada
esquina, completam da melhor forma a grande praça.
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Uma das alas laterais da madrassa Tilla Kori |
Todo o conjunto é espetacular e protegido pela UNESCO. Mas
parece ter também ganho o coração dos habitantes de Samarcanda: todos os dias
aí se juntam noivos e convidados de muitas cerimónias de casamento, que parecem
achar que não pode existir melhor cenário para as suas fotografias. E eu
concordo!
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Um casamento em Samarcanda... |