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O lago de Garda junto a Malcesine |
A cidade de
Trento, nascida junto ao rio Adige, no norte da Itália, é um daqueles lugares
fascinantes que parecem estar sempre a meio caminho entre duas realidades,
suspensos entre duas culturas. Fez parte do Império Romano, mas também do Sacro
Império Germânico e do Império Austro-Húngaro. E se, no final do século XX, a
primeira língua já era o italiano, a segunda língua era o alemão.
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Uma varanda, no Palazzo Pretorio |
Foi sempre
olhada como uma espécie de ponte entre o mundo germânico e o mundo latino. E
tudo isto ainda se manifesta na cidade, de forma mais evidente ou mais
subterrânea, na silhueta dos campanários, nos nomes das ruas e dos
estabelecimentos comerciais...
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Subida para o Palácio de Buonconsiglio |
Junto ao
rio, ergue-se um monumento a Dante, o grande poeta da língua italiana. Dizem
que foi ali colocado para ajudar a “italianizar” a cidade que, a partir dali,
sobe na direção do Palácio de Buonconsiglio, onde muitos combatentes foram
mortos por não abdicarem da sua ligação a um desses dois mundos culturais, o
alemão ou o latino.
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Dante olha a cidade, do topo do seu pedestal |
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Uma das muitas figuras que ornam o monumento a Dante |
O centro da
cidade é a Piazza del Duomo, uma grande praça rodeada pela Catedral de São
Vigilio, a Torre Cívica, o Museu Diocesano, os Palácios Pretorio e Balduini. No
centro da praça, a Fonte de Neptuno proporciona um posto de observação
privilegiado sobre aquele conjunto arquitetónico, díspar e irregular mas
encantador.
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A bela Piazza del Duomo, com a Fonte de Neptuno no centro |
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A Torre Civica, junto ao Museu Diocesano |
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As famosas "casas pintadas" |
Foi ali, na
Catedral de São Vigilio, que decorreu o célebre Concílio de Trento. Ali se
procedeu ao debate sobre as ideias protestantes que incendiavam o norte da
Europa e ali se procedeu à reforma da Igreja Católica, no século XVI. E não
deixa de ser curioso que tenha partido daqui, deste local de cruzamento
cultural, um movimento que exaltou as
emoções e mobilizou todos os sentidos humanos na experiência religiosa e que
foi tão bem sintetizado na arte barroca.
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A catedral de São Vigilio |
É hora de
jantar. Recomendaram-nos a Cervejaria Forsterbräu, como boa representante da
gastronomia local. Ali reinam as cervejas artesanais. Comemos pastéis de queijo
e polenta e strudel de maçã. Benvindos ao Tirol!
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A entrada da Cervejaria Forsterbräu, um dos restaurantes mais antigos de Trento |
A sudoeste
da cidade de Trento estende-se o Lago de Garda. É o maior dos lagos alpinos
italianos. A parte norte , enquadrada pelas montanhas, é bem mais bonita do que
a parte sul do lago, embora aqui se situe uma das localidades mais icónicas,
Sirmione.
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O Lago de Garda... |
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... enquadrado pelas montanhas |
Há barcos
que percorrem o lago durante todo o dia, com intervalos regulares. Ligam
Peschiera del Garda, no sul, a Riva del Garda, no topo norte do lago. Pelo
caminho, vão parando em várias cidadezinhas das margens do lago, dando
oportunidade para as apreciar. São todas pitorescas e deliciosas, Saló, Malcesine,
Limone, Bardolino...
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Malcesine... |
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Limone... |
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Riva del Garda |
Aconselho
vivamente este passeio pelo lago, é um dia muito bem passado! Nos locais de
paragem, há restaurantes e esplanadas, com o cenário sempre idílico do lago.
Parámos para
descansar e tomar uma bebida em Gargnano, antes de seguirmos para Brescia, a
nossa etapa seguinte. Não me apetecia sair dali, sentia vontade de alugar um
quarto num dos pequenos hotéis virados para o lago e ficar ali uma semana
inteira, a encher-me de azul e de tranquilidade.
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Paragem em Gargnano |
Talvez um
dia ali volte, quando aplacar esta minha sede de descoberta, quando o meu
espírito de saltimbanco se aquietar.