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Os telhados de Perugia |
A Úmbria situa-se aproximadamente no centro da Itália, a meio caminho
entre o norte alpino e o sul calabrês, mas também a meio caminho entre as
costas bordejadas de praias e carregadas de turistas do mar Tirreno e do mar
Adriático.
É uma região verdejante, de colinas coroadas de pequenas vilas e cidades
com nomes antigos, berço dos Etruscos, que aí se instalaram e deixaram os seus
vestígios e a sua influência. Uma dessas cidades é Perugia.
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O Arco Etrusco |
Tenho dificuldade em escrever sobre Perugia. Não sou perugina, mas também
não me sinto uma vulgar turista. Aí vivi durante um mês, por razões que já aqui
expliquei, e vejo Perugia com os olhos do coração.
Quando saí do comboio, entrei na estação e deparei com um grande painel
cerâmico onde um mapa da Úmbria nos convida à descoberta da região. Quantas
vezes esperei pelo comboio sentada no banco por baixo desse painel! A visão do
painel comoveu-me como se reencontrasse um amigo há muito tempo perdido!
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À espera do comboio... |
Hoje, a subida até à cidade tornou-se mais simples. Além do autocarro, há
também um sistema de metro circular que, em certos pontos, se articula com um
funicular que nos deixa muito próximos do centro histórico.
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A grande escadaria que sobe do Arco Etrusco até ao centro |
Perugia não é uma cidade muito turística; fica afastada dos centros
turísticos mais fortes e fora dos eixos que os unem. Para mim, isso é uma
enorme vantagem. Ainda podemos sentir-nos numa cidade italiana, cheia de
italianos que se cruzam, conversam, passam tempo nas esplanadas a beber os seus
aperitivos, frequentam os concertos ou outras iniciativas culturais, namoram ou
marcam encontros para o serão, passeiam com os seus filhos ou os seus cães.
Em termos históricos, ainda se encontram alguns vestígios etruscos, como
o magnífico Arco Etrusco, uma das portas de entrada para o centro histórico. Se
houver tempo, vale a pena visitar o Museu Arqueológico Nacional, principalmente
pelos sarcófagos e estelas funerárias etruscas, algumas de grande beleza.
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Sarcófagos etruscos no Museu Arqueológico Nacional |
A zona medieval da cidade fica do lado da Porta de Sant’Angelo. Aí se
situa uma pequena igreja circular, construída sobre um templo romano. É a mais
antiga de Perugia.
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O pequeno templo circular de S. Michele Arcangelo |
Aí se encontram também antigos conventos e casas de peregrinação, algumas
das quais foram transformadas em albergues, casas de turismo de habitação e
restaurantes. Mas não é excessivo, consegue manter os traços antigos e
genuínos. Apetece deambular pelas ruas estreitas, subir e descer escadas,
passar pequenos arcos e encontrar sempre mais um recanto sombreado ou um balcão
colorido onde pousar a nossa cadeira durante uma temporada…
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A torre da Porta de Sant'Angelo |
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Arcos e fontes, ruas e recantos... |
O centro turístico de Perugia é a grande praça que medeia entre a
Catedral de S. Lourenço e o Palazzo dei Priori. O centro da praça é marcado
pela Fontana Maggiore, uma fonte muito interessante e original: enquanto a
parte de baixo representa o povo e as várias profissões, a parte de cima,
suportada por uma colunata circular, representa os anjos e santos do mundo
celestial.
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A Fontana Maggiore |
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O Palazzo dei Priori |
O Palazzo dei Priori é um edifício gótico, que data do século XII. É o
antigo palácio comunal, por isso ostenta uma coroa de ameias, que simbolizam a
cidade livre. A sala mais notável é a Sala
dei Notari (Sala dos Notários), a antiga Câmara Municipal. Data do século
XIII e é um belo salão abobadado, onde se podem ver os brasões das famílias que
governaram Perugia até à queda da cidade em poder do Papado.
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A Sala dei Notari... |
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... com os brasões pintados nas paredes |
Por cima da porta, duas estátuas em bronze representam um leão e um
grifo, símbolos da cidade.
Atualmente, a maior parte do Palácio está ocupada pela Galeria Nacional
da Úmbria, com uma importante coleção artística.
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A entrada para a Galeria Nacional da Úmbria |
A Catedral de São Lourenço mantém-se inacabada e virada para a praça
lateral; e a figura que, da catedral, abençoa a praça principal e a cidade não
é o dito santo, mas o Papa Júlio III, que voltou a dar autonomia à cidade.
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A parte lateral da catedral, virada para a fonte |
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A bela sacristia |
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O papa Julio III |
Tanto o Palazzo dei Priori como a Catedral têm escadarias que enquadram a
praça e onde turistas e locais se sentam a descansar nos fins de tarde. Ainda
me lembro desta praça, agora pedonal, cheia de vespas e pequenas motas que
rodavam à volta da fonte. Já nessa altura me sentava nestas escadas e sentia
vontade de ficar aqui, colada a estas pedras. Uma parte de mim aqui permanecerá
sempre.
No último dia antes da partida, fomos assistir a um concerto no Convento
Franciscano, empoleirado numa colina fronteira a Perugia. Enquanto olhava o pôr
do sol, envolvida nas melodias de Gershwin e Astor Piazzola, pensava para
comigo que não podíamos ter escolhido uma maneira melhor de dizer adeus a
Perugia.
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Perugia vista do convento franciscano |