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Um moliceiro descansa na margem da ria |
Agora que já estamos na primavera (embora às vezes não pareça...), o sol e o céu azul convidam a passear e a estar fora de casa. Uma boa sugestão para um fim de semana é a zona da ria de Aveiro, que tem uma infinidade de ofertas interessantes e muito diversificadas.
O que vou aqui deixar é uma escolha, decerto discutível, dessas ofertas. É a minha escolha, resultante de um fim de semana muito bem passado. A base da estadia foi a Pousada da Ria, com quarto mesmo por cima da água. Não há nada melhor do que acordar e espraiar o olhar naquela imensidão de água, um espelho a refletir o sol da manhã!
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Amanhecer sobre a ria de Aveiro |
A minha primeira sugestão é um passeio, sem pressas, ao longo da própria ria, que não é mais do que a foz do rio Vouga, que se alarga, preguiçosamente, ao longo de cerca de 45 quilómetros, como um enorme mar interior. É um reino de biodiversidade, com garças, flamingos e muitas outras aves aquáticas. Há sempre gente a pescar, mas também há gente que se senta nas margens, simplesmente a carregar baterias naquela calmaria.
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Pescar... ou simplesmente olhar a água... |
A biodiversidade também pode ser apreciada em terra, na reserva natural das Dunas de São Jacinto. Há vários percursos que cruzam o parque, uns mais longos, outros mais curtos. Estão todos bem indicados, com cores diferentes. Também há painéis com a referência aos animais que ali têm o seu habitat, mas são mais esquivos e não se deixam admirar com tanta simplicidade como as árvores. No fim dos trilhos, a recompensa é a chegada à praia, já no oceano atlântico.
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O centro de interpretação da Reserva das Dunas de São Jacinto, onde são dadas todas as informações sobre os trilhos a percorrer |
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Os trilhos cruzam o emaranhado das árvores |
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Informações sobre a fauna que por ali habita |
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Do outro lado, a praia e o mar |
Se for hora de almoçar, o melhor sítio das redondezas é A Peixaria, em São Jacinto, onde a especialidade é o peixe grelhado. Mas é boa ideia marcar mesa, a fama dos grelhados enche com facilidade este espaço, informal e acessível.
Se é praia que se procura, então a escolha é mais para sul, na Costa Nova. Entalada entre a Ria e o Oceano, esta língua de terra é um regalo para os olhos, com as suas casas pintadas em riscas de cores garridas, azuis, amarelas, vermelhas, verdes. Alguém lhes chamava as casas de pijama, devido às riscas, e o nome cai-lhes bem! Também não faltam restaurantes, mas ainda nenhum me ficou na memória. Provavelmente, haverá bons restaurantes, com uma boa qualidade de serviço, e eu tenho tido pouca sorte!
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As casinhas de pijama da Costa Nova |
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Antigas casas de pescadores, hoje quase todas estão ligadas ao turismo |
Não muito longe da Costa Nova, já no concelho de Ílhavo, a minha sugestão é uma visita ao Museu Histórico da Vista Alegre. Todos conhecemos a cerâmica Vista Alegre, mas uma visita a estas instalações é muito mais do que isso: além da história da fábrica, que se mistura com a história da cerâmica, o próprio local tem vários pontos de interesse.
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A entrada do Museu da Vista Alegre |
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Um dos antigos fornos |
A fábrica instalou-se naquela quinta em 1824 mas já aí existia uma capela belíssima, mandada erigir no século XVII, a Capela de Nossa Senhora da Penha de França. Declarada Monumento Nacional em 1910, foi objeto de obras de restauração em 2015 e hoje mostra-se em toda a sua beleza.
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A linda Capela de Nossa Senhora da Penha de França |
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Pormenor do Altar-mor |
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De acordo com a lenda, a Senhora da Penha de França mata o lagarto |
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A sacristia da capela |
O espaço da fábrica é muito interessante, já que podemos ver os antigos fornos e apercebermo-nos das técnicas tradicionais de fabrico da cerâmica. Há exposições com objetos e conjuntos de grande beleza. E, no final, podemos comprar uma dessas peças preciosas ou, se a tanto não chegar o orçamento, uma peça mais económica na loja de outlet.
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Estão em exposição muitas peças de porcelana aqui fabricadas, das mais antigas... |
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...às mais modernas. |
Todo o espaço fabril foi preservado. Além da fábrica propriamente dita, englobava o bairro operário, a creche, e espaços de sociabilidade, como o teatro, hoje em dia gerido pelo Centro Cultural de Ílhavo.
O Museu Histórico da Vista Alegre foi premiado, em 2017, com uma Menção Honrosa pela APOM na categoria Melhor Museu do Ano. Depois de o visitar, percebe-se porquê.
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O Teatro, no antigo bairro operário |
Andamos aqui à volta de Aveiro, mas é impossível escapar à sua atração. Chamam a Aveiro a Veneza do Norte; eu não gosto muito dessa denominação. Veneza é Veneza e Aveiro é Aveiro e qualquer comparação empobrece a cidade portuguesa, que tem, porém, uma beleza muito particular. Um braço da ria entra pela cidade (ou foi a cidade que o abraçou?), aproveitado, ao longo dos anos, como via de comunicação e transporte de mercadorias. Hoje, essas marcas ainda são visíveis, nos armazéns e fábricas que rodeiam o curso de água. Também aí se vêem as casas das famílias mais ricas, num estilo Arte Nova que nos remete para o início do século XX.
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O edifício da antiga capitania, hoje sede da Assembleia Municipal |
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As belas casas Arte Nova rodeiam o canal |
Atualmente, os reis da ria são os moliceiros pintados de cores alegres e motivos ingénuos, que trocaram o sal, o peixe ou outras mercadorias pelos turistas, como eu, que apenas querem dar um passeio agradável e original.
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Os moliceiros cruzam a ria cheios de turistas |
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As antigas fábricas utilizavam os canais como vias de transporte |
No Largo da Praça do Peixe, encontra-se O Bairro, um restaurante imperdível, já que junta a boa comida, apresentada e confecionada de forma moderna, com a melhor tradição gastronómica da região. Assume-se como uma homenagem às pessoas daquele que foi o primeiro bairro de Aveiro, presentes nos individuais que nos dão a conhecer as personagens típicas locais. E mais não digo, o melhor é ir lá experimentar.
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O velho bairro, junto à Praça do Peixe |
Prometi sugestões para um fim de semana e já sobra pouco tempo. O melhor é esquecer as preocupações dietéticas e utilizá-lo a comer ovos moles...