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Entrada do Castelo de Chenonceau |
Falar do
Vale do Loire remete-nos de uma forma quase imediata para os Castelos do Loire.
Não conheço outro local onde se concentrem, em tão diminuto território, tantos
e tão belos castelos. Castelos encantadores, quase ia a escrever castelos
encantados… São muitos, mais de sessenta. Alguns mais grandiosos, outros mais
modestos. Uns mais antigos, aurênticas fortalezas medievais do tempo da Guerra
dos Cem Anos, outros, pelo contrário, são palácios renascentistas, construídos
no século XVI ao gosto italianizante da época. Muitos foram sofrendo alterações
ao longo do tempo, consoante a mudança dos donos e as possibilidades
familiares, já que alguns ainda são propriedades particulares, habitadas pelos
proprietários e de que, portanto, só se pode visitar uma parte. É o caso de
Cheverny, com as suas afamadas matilhas de cães.
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Breve visão do Castelo de Chaumont |
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Castelo Real de Blois |
Como se
explica uma tão grande concentração de palácios e castelos num espaço tão
reduzido? Creio que a razão está na sua centralidade dentro do espaço francês:
era cómodo para os
monarcas. Se a esta centralidade juntarmos o clima aprazível, a paisagem fértil
e encantadora, a facilidade de comunicações, percebemos bem a preferência por
esta região. A presença da família real funcionou como polo de atração para a
nobreza, que também aí se foi instalando.
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O Loire em Amboise |
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Torreão do Castelo de Chinon |
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O sítio onde Joana d'Arc pousou o pé, quando desceu do cavalo... |
Gostaria de
visitar todos, mas não é fácil. Em duas passagens pelo Vale do Loire, separadas
por um longo período de tempo, pude visitar alguns, vislumbrar outros e manter
outros ainda na minha lista de sítios onde gostaria de ir, antes de morrer.
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Castelo Real de Amboise |
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Por todo o castelo se encontram os símbolos dos Valois e da Bretanha |
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Aqui, as paredes têm ouvidos... |
Dos castelos
que visitei, os que mais me marcaram foram Chambord (sobre o qual já aqui fiz
um post) e Amboise, dois castelos reais, ambos com a marca de Francisco I e do
seu arquiteto especial, Leonardo da Vinci. O genial artista foi contratado pelo
rei Francisco I para desenhar a bela escadaria central de Chambord. O rei
instalou-o perto de si, no pequeno castelo de Clos-Lucé e, quando da sua morte,
Leonardo foi enterrado no castelo de Amboise.
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O pequeno castelo de Clos-Lucé |
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Túmulo de Leonardo da Vinci em Amboise |
Mas a pérola
do Vale é, sem dúvida, o castelo de Chenonceau, com as suas arcadas sobre as
águas tranquilas do rio Cher.
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O belo Castelo de Chenonceau |
Não era um castelo real. Pertença de
particulares, foi adquirido e remodelado para a instalação da favorita do rei
Henrique II, a bela Diana de Poitiers. Toda a ala renascentista do palácio nos
fala desse triângulo amoroso, começando pelas letras entrelaçadas das iniciais
reais: o H de Henri liga-se a um C de Catherine ou a um D de Diane? Essa
ambiguidade reflete a atitude do rei, dividido entre a mulher e a amante, entre
a jovenzinha florentina que a diplomacia lhe entregou e a esplêndida mulher
madura por quem se apaixonou, entre a mãe dos seus dez filhos e a bela
companheira que lhe ensinou os jogos do amor.
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A ambiguidade das iniciais reais... |
A morte
precoce do rei permitiu à sua viúva Catarina de Médicis uma pequena vingança.
Exigiu da ex-favorita de Henrique II a devolução de todas as joias que tinha
recebido, o que Diana cumpriu sem um
queixume. Entre elas, a joia mais preciosa, o castelo de Chenonceau, onde
Catarina se instalou. Dali governou a França, numa das regências mais longas da
história francesa. E ali mandou fazer o seu próprio jardim, como um espelho do
jardim de Diana, localizado do outro lado de uma pequena ponte que dá acesso ao
pátio do castelo.
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O jardim de Catarina de Médicis... |
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... e o jardim de Diana de Poitiers |
Quanto a
Diana de Poitiers, acabou os seus dias no castelo de Anet, pertença da família
de Brèze onde entrara pelo casamento, mas também redecorado pelo rei Henrique
II. Outra obra-prima sobre a qual também já aqui escrevi.
Em todos os
lugares, se estivermos atentos, podemos sentir a presença dos que ali deixaram
a sua marca. Na pequena e pitoresca cidade de Chinon, vemos constantemente as
marcas de Joana d’Arc. Em Amboise, pressentimos os dramas familiares e a
afirmação de Ana da Bretanha. Em Chenonceau, se conseguirmos abstrair-nos das
hordas de turistas que pululam por todos os cantos, conseguimos sentir a
vivência apaixonada de Diana de Poitiers. Mas também a humilhação e a vingança
da rainha Catarina de Médicis.
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O quarto de Catarina de Médicis, em Chenonceau |