sexta-feira, 29 de maio de 2015

Casinhas e museus para os fãs de Tolkien

Green Dragon Tavern, em Hobbiton
A triologia do Senhor dos Anéis, obra fantástica de Tolkien, deu origem a um conjunto de filmes que multiplicou os seus fãs e criou, no início deste milénio, uma verdadeira loucura por tudo o que se relacionasse com os Hobbits e restantes personagens. Começaram a surgir pequenas casas que imitavam as suas habitações, na Tailândia, nos Estados Unidos da América (Estado de Montana). A construção da aldeia de Hobbiton, na Nova Zelândia, com as casinhas, a taberna, as charretes, foi o pretexto para recriar o ambiente, para benefício dos fãs da Terra Média, com direito a quartos de hotel e tudo. A estreia do último filme da saga permitiu a reconstrução da Taberna do Dragão Verde, que tem como lema: A place to drink, a place to meet, a place to rest your hairy feet! 
Mas todos estes locais eram muito longínquos para nós, aqui neste cantinho europeu. Agora, finalmente, o universo de Tolkien surge mais perto de nós. Em Jenins, na Suiça, surgiu agora o Museu Greisinger, resultado da paixão de um gerente bancário aposentado que, durante anos, colecionou tudo o que conseguiu do universo hobitiano. Nas várias salas deste museu, podem-se encontrar-se artefactos ligados aos livros e aos filmes, assim como livros, obras de arte, mapas da Terra Média, e muitas outras curiosidades.
Há visitas guiadas e parece que o sucesso tem sido grande...

Entrada do Museu Greisinger

quarta-feira, 27 de maio de 2015

À descoberta da Sicília IV - As pequenas cidades da costa tirrénica



Um dos fortes arruinados de Scopello

Toda a costa norte da Sicília, banhada pelo Mar Tirreno, é digna de visita. Para leste, tal como para oeste de Palermo, abre-se uma costa belíssima, pontuada de pequenas cidades encantadoras. Hoje, muitas dessas zonas são estâncias balneares muito frequentadas mas, como tivemos a sorte de não as visitar no verão, não aguentamos as multidões de turistas e pudemos passear à vontade e apreciar a beleza das paisagens.
Não podendo escrever sobre todas elas, este post é o resultado de uma seleção que, podendo não ser a melhor, é a minha.


Castellamare no seu golfo


O porto de Castellamare del Golfo

Para ocidente de Palermo, abre-se o Golfo di Castellamare, delimitado pelo Capo Rama e pelo Capo S. Vito. Combina a praia com a montanha, como é comum na paisagem siciliana. Os rochedos e as velhas torres de Scopello vigiam a baía. E, aninhada entre os farilhões de Scopello e a grande praia de areia fina, a pequena cidade de Castellamare del Golfo. Começou por ser um porto da vizinha cidade de Segesta, na época romana, e ainda hoje tem uma marina repleta de pequenas embarcações de pesca e de lazer. As casas amontoam-se junto do porto e da pequena fortaleza que avança sobre o mar. Na rua marginal, há muitos restaurantes. Aí comemos a especialidade da região, o couscous de peixe, regado com um belo vinho da região, Foi um belo jantar, num restaurante sobre o cais, nesse pequeno porto antigo e encantador.


O teatro de Segesta

Segesta fica perto e merece uma visita. Era uma antiga cidade grega, rival de Siracusa, aliada de Roma nas Guerras Púnicas. Desses tempos, sobram partes da ágora, um teatro, virado para o golfo di Castellamare, e um templo dórico. O templo é a primeira coisa que se vê da cidade e, quando surge numa curva da estrada, com a sua pedra dourada recortada contra a pedra escura do Monte Kronos, é uma visão de cortar a respiração!


O templo dórico


Outra perspetiva do teatro de Segesta

Para leste de Palermo, até ao estreito de Messina, estende-se a chamada costa jónica. De paragem obrigatória é Cefalù, cidade que também remonta aos templos gregos. Encostada a um enorme rochedo, que domina a cidade, é hoje uma conhecida estância balnear, com um emaranhado de ruas pitorescas e muitas lojas para turistas. As casas avançam sobre o mar, formando quase uma fortaleza ribeirinha onde, regularmente, um arco garante passagem entre o mar e as ruas interiores.

Cefalù vista da marginal


O arco liga as ruas à zona ribeirinha

Cefalù conheceu o seu período de maior esplendor durante a época normanda, da qual data a sua catedral, imediatamente reconhecível pelas duas grandes torres que a flanqueiam. Conta a história que o rei Ruggero II a mandou construir como cumprimento de um voto feito no mar, durante uma tempestade. Com a Capela Palatina e o complexo monástico de Monreale, a Catedral de Cefalù constitui uma das maiores imponentes marcas da herança normanda. Visível de toda a cidade, das esplanadas, da praia, das ruas cheias de turistas, a catedral é uma afirmação do que é perene na passagem do tempo.


Uma rua em Cefalù

sexta-feira, 22 de maio de 2015

À descoberta da Sicília III - A herança normanda

Deslumbramento...
Já escrevi que a Sicília é uma sobreposição de culturas e de influências dos povos que por aqui andaram. E foram muitos, fenícios e gregos, bizantinos e árabes, normandos e franceses, Habsburgos e Bourbons!... De todas estas influências, as mais marcantes e majestosas são, sem dúvida, as dos gregos e as dos normandos.
Os normandos iniciaram a conquista da Sicília em 1061, sob o comando de Ruggero I de Altavilla, mas só o seu filho Ruggero II obterá do Papa o título de rei da Sicília. Esta dinastia normanda governará a ilha até ao século XIII, deixando alguns monumentos e testemunhos extraordinários.

A discreta entrada do Palácio dos Normandos

Entrada da Capela Palatina
O belíssimo Palácio dos Normandos de Palermo, onde hoje se reune o parlamento siciliano, tem origem na residência do emir muçulmano que governava a cidade. No século X, o emir muda-se para a Kalsa, atualmente um bairro populoso e desordenado de alta densidade mafiosa, segundo se diz. O Palácio é monumental, com três pisos que documentam outras tantas épocas, desde o estabelecimento inicial fenício, até à residência elegante do vice-rei espanhol, a partir do século XVI. Mas são os aposentos reais normandos, a Sala do rei Ruggero e, acima de tudo, a Capela Palatina, que captam a nossa atenção e fascinam os nossos sentidos.

O altar-mor da Capela Palatina

Relatos bíblicos nas paredes

O escritor Guy de Maupassant definiu a Capela Palatina como a mais bela igreja do mundo, a mais surpreendente jóia religiosa sonhada pelo pensamento humano e eu sinto-me tentada a concordar com ele. Mandada construir por Ruggero II em 1130, é uma esplendorosa síntese da arte bizantina, árabe e normanda. As superfícies cobertas de mosaicos dourados, cheias de histórias; os mármores preciosos trabalhados nas colunas e nas paredes; os ladrilhos de motivos geométricos e arabescos que recobrem o chão; todo o conjunto é de uma beleza, proporção e harmonia perfeitas.

A decoração em mosaico

Pormenor de uma coluna

Os tectos da Capela Palatina
O palácio tem o seu complemento no vasto complexo monástico de Monreale, mandado construir em 1172, a oito quilómetros de Palermo. Monreale é outro deslumbramento! Construída numa colina que fecha a imensa concha que abriga Palermo, a Conca d'Oro, a catedral faz lembrar a Capela Palatina. Mas as dimensões são muito maiores: na verdade, é o maior espaço coberto a mosaico dourado na Europa.

O complexo monástico de Monreale

Altar-mor da catedral de Monreale
No Duomo de Monreale o que nos capta mais a atenção é a sequência das cenas do Antigo e do Novo Testamento, compostas nas paredes do templo através de um riquíssimo trabalho de mosaico que se completa nos motivos geométricos do chão e no requintado trabalho de entalhe dos travejamentos do tecto. Se as imagens e o mosaico nos remetem para a arte bizantina, a influência árabe está bem presente nos arcos e no transepto, assim como no claustro do convento.

Planos dos tectos

O claustro do complexo de Monreale
A igreja estava a ser preparada para um casamento, pelo que não foi fácil conseguir fotografias de conjunto. Sinceramente, não sei do que gostei mais: se da catedral, se da maravilhosa vista que se tem dos seus terraços e telhados, abarcando toda a Conca d'Oro!

Panorama da Conca d'Oro a partir dos terraços de Monreale

O apogeu do domínio normando na Sicília é atingido com Frederico II, célebre pela sua cultura e pelo seu poder. O seu túmulo, tal como o de outras figuras ligadas à dinastia, pode ser visitado na Catedral de Palermo, ela mesma construída no século XII e acrescentada de elementos renascentistas e barrocos. Mas são ainda os reis normandos que ali dominam!...


Pórtico de entrada da Catedral de Palermo

O túmulo de Frederico II


Vista lateral da Catedral de Palermo

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O Museu das Selfies

Art in Island

No meu último post, divulguei os locais e instituições onde já não se pode utilizar o pau de selfie ou, simplesmente, tirar selfies. Mas como a moda parece que veio para ficar, já abriu um museu, com a filosofia contrária, isto é, feito para tirar selfies. 
Ali, no Art in Island, todas as obras são cópias, evidentemente. A lógica é que as pessoas possam interagir com os quadros, brincar com eles e tirar as suas selfies à vontade. Podem fingir que estão a pintar a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, ou a entrar no cenário da Starry Night, de Van Gogh.
Pena é que o referido museu se situe em Manila, nas Filipinas. Mas podem os amantes das selfies descansar porque, se a moda pega, não tardará a abrir um museu idêntico por aí.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Selfies e paus de selfie



Encontramo-las por todo o lado e vieram para ficar. As selfies conquistaram adeptos, muitíssimos, e estamos sempre a tropeçar em pessoas que tiram selfies nos mais variados locais. Estendem o braço, apontam a câmara ou o telemóvel, fazem o seu melhor sorriso e tiram a foto. Depois, viram as costas e vão embora sem mais um olhar, como se a selfie fosse necessária e suficiente para atestar a sua passagem por aquele local. "Olha p'ra mim aqui!"
Há quem diga que a selfie representa o expoente do egocentrismo, mas eu não me vou meter nessa discussão. A verdade é que a selfie é omnipresente. Agora, frequentemente agarrada ao seu pau de selfie.
Não tenho nada contra paus de selfie, ou mesmo selfies. Mas compreendo que não é o acessório mais indicado para utilizar num museu ou noutro qualquer local muito frequentado. Há o risco de dar com o pau de selfie na cabeça de um passante ou até, numa obra de arte em exposição. Provavelmente por esta razão, vários locais têm vindo a banir os paus de selfie. Dentro do espírito de serviço público deste blogue, aqui fica a lista mais ou menos atualizada desses locais.

- National Gallery, Londres
- Museu do Louvre, Paris
- Palácio de Versalhes, Paris
- Museu Albertina, Viena
- Centro Georges Pompidou, Paris
- Museu d'Orsay, Paris
- Coliseu, Roma
- Museus Smithsonian, Washington
- Art Institute, Chicago
- MoMa, Nova Iorque
- Metropolitan Museum of Arts, Nova Iorque
- Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
- Museu de Arte de São Paulo

Além de museus, outros locais baniram o uso do pau de selfie, ou mesmo da selfie, por questões de segurança, como é o caso das famosas Festas de San Firmin, em Pamplona, ou o recinto dos leões ou dos tigres, no Zoo de Nova Iorque.
Também em Meca as selfies foram proibidas. Os crentes têm de estar concentrados na oração e não noutras coisas mais profanas.

Resta acrescentar que no Reino Unido e no Brasil, por exemplo, os paus de selfie também foram banidos dos estádios de futebol, pela razão óbvia de que podiam ser utilizados como potenciais armas.
Já me parece menos óbvia a proibição de selfies na Praia de la Garoupe, em Antibes, no sul de França. A razão é o desconforto que poderiam causar aos utentes da praia.
Mas a proibição mais radical vem da Coreia do Sul: os paus de selfie são banidos de todo e qualquer local público. E ponto final!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Livros e Viagens - Gonçalo Cadilhe

Todos temos os nossos heróis. Alguns são heróis de toda a gente; não conheço ninguém que não admire Martin Luther King ou Gandhi. Mas, depois, há os outros. Os nossos heróis pessoais, aqueles que, sendo pessoas comuns, admiramos mais abertamente ou mais secretamente, numa admiração feita de sonhos repartidos ou afinidades e identificações inesperadas.
Gonçalo Cadilhe está nessa minha prateleira dos heróis pessoais. Porquê? Talvez porque, aos vinte e quatro anos, teve a coragem de virar as costas a um curso e um emprego para perseguir um sonho: viajar. Não o posso fazer, nunca pude, nunca poderei. Sempre houve outras urgências e contingências que condicionaram a minha vida, como a da maior parte das pessoas. Admiro-o por isso. Mas há outras razões.
Gonçalo Cadilhe escreve livros de viagens, das viagens que faz. Não são simples descrições de lugares, são esboços emocionais. Porque os lugares agem sobre nós e tornam-nos diferentes. E nós também agimos sobre os lugares, porque não os vemos sempre com os mesmos olhos.

Não é verdade que o planeta seja redondo. É armilar. Anda-se às voltas e nunca se regressa ao mesmo sítio. A estrada, sim, passa por lá; mas o tempo também passa, e leva de nós o que fomos antes. Falta-nos o mesmo momento para podermos regressar ao mesmo sítio. Regressamos já outros, e compreendemos que o sítio já não é o mesmo.
                    (Gonçalo Cadilhe "1 Km de cada vez")

O primeiro livro que li de Gonçalo Cadilhe foi "Planisfério Pessoal", onde são reunidas as crónicas que escreveu e foi publicando no jornal Expresso, enquanto fazia uma volta ao mundo muito peculiar: numa época de aceleração, em que tudo se tem de fazer rapidamente, Cadilhe optou por dar a volta ao mundo sem pôr os pés num avião. Isto significou percursos lentos, em transportes alternativos, camionetas, navios cargueiros. Teve experiências inesperadas, conheceu pessoas diferentes, que geralmente não protagonizam livros de viagens.
Depois desse, li vários outros livros dele. Li-os num ápice e depois, de vez em quando, releio uma passagem, um capítulo. Relembro um local, com pessoas e sensações e pequenas histórias, lá dentro. Vou lendo, saboreando cada pequeno capítulo, cada apontamento de uma viagem que parece sem rumo, mas com muito sentido. Leio outros livros pelo meio, e depois volto. Porque não há maior liberdade do que viajar ao sabor do tempo.

Vem esta crónica a propósito de uma exposição, patente a partir de hoje no Museu do Oriente, onde Gonçalo Cadilhe expõe fotografias das suas viagens, das voltas do seu planisfério pessoal. Intitula-se Um dia na Terra - Fotografias do Quotidiano do Planeta. Eu não vou perder com certeza.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Cromeleque dos Almendres


O Cromeleque dos Almendres
Fica perto de Évora, na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe. É fácil passar na estrada e não reparar no sinal que indica a cortada para o cromeleque. Depois, é só avançar com atenção, por entre pequenas aldeias e terrenos de cultivo. O final do caminho faz-se a pé e encontram-se então alguns cartazes de interpretação do que se vai encontrar.
De que se trata, então? O cromeleque dos Almendres é um conjunto de monólitos (pedras), organizado em círculos concêntricos. Formado por pedras de origem diferente, algumas de grandes dimensões, outras mais pequenas, tinha seguramente uma função socio-religiosa muito importante, que não conhecemos bem já que estamos a falar de uma sociedade agrária, que não conhecia a escrita.
Algumas pedras têm uma forma fálica, outras lembram paralelipípedos ou grandes ovos. Dez destes monólitos têm gravuras, ou relevos, alguns bem estranhos, como conjuntos de covinhas. Uma gravura parece uma face, com boca, nariz e olhos.

As pessoas dão uma ideia do tamanho das pedras

Os círculos ocupam um terreno bastante extenso, numa encosta que desce com suavidade em direção a nascente, isto é, ao ponto em que nasce o sol. Olhando nessa direção, pode-se vislumbrar o grande menir dos Almendres, que teria também um papel nas cerimónias que ali se desenrolavam, e que só podemos imaginar. E não é difícil sermos levados pela imaginação, quando deambulamos por entre aquelas pedras milenares.

O menir dos Almendres

O cromeleque terá sido edificado no final do sexto milénio a.C. e, depois de algumas transformações, terá sido abandonado no terceiro milénio a.C., acompanhando as transformações económicas e religiosas da época.
E tudo isto me suscita uma enorme questão: será o cromeleque dos Almendres o património edificado mais antigo da Europa? Integrando-se claramente na cultura megalítica atlântica, que também produziu os círculos de pedra da Grã-Bretanha e os alinhamentos de pedra do noroeste francês, é, no entanto, bem mais antigo do que qualquer dos seus congéneres. Bem anterior a Carnac e a Stonehenge, construídos no terceiro milénio a.C., anterior até às próprias Pirâmides. 

Outra perspetiva do cromeleque

Como é que Portugal não explora esta enorme vantagem? Lembro-me de visitar Stonehenge, ter de pagar uma entrada para um recinto bem delimitado e preservado. O turismo é organizado, há um centro de interpretação. Pelo contrário, aqui nos Almendres o acesso é livre. Não há nenhum equipamento de apoio ao turismo, como um bar ou uma casa de banho. Isto nota-se: há vestígios de piqueniques no meio das pedras, assim como de cerimónias esotéricas atuais, com fogueiras, por exemplo. Ninguém vigia o espaço, também ninguém evidencia a sua importância ou retira dali algum proveito turístico. 

A Anta Grande do Zambujeiro

Todo o Alentejo é de uma enorme riqueza megalítica e arqueológica. Perto do recinto dos Almendres, situa-se a Anta Grande da Zambujeira. Destaca-se entre as muitas antas que se encontram no nosso país, pela sua enorme altura, que lhe valeu o epíteto de Catedral da Zambujeira. Agora, tem a entrada fechada, mas pode-se rodear e também ninguém vigia ou organiza os visitantes. Não há explicações nem qualquer equipamento de apoio. Isso pode explicar, embora não possa desculpar, os nomes gravados na própria pedra, nessa manifestação de falta de civismo e educação infelizmente tão comum.

O espaçoso interior da anta

Sei que o cromeleque dos Almendres é classificado como Imóvel de Interesse Público e que há uma proposta para a sua elevação a Monumento Nacional. Não percebo porque é que ainda não o é, quando devia ser Património da Humanidade. Não compreendo também o evidente pouco cuidado com que está tratado, assim como o facto de não se falar sobre isto. É um daqueles casos de um silêncio que fala por si mesmo.

As enormes pedras, comparadas com o tamanho do homem

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Festival da Máscara Ibérica




Às vezes, não é preciso sair para explorar o mundo, porque o mundo vem ter connosco. Foi o que aconteceu este fim de semana em Lisboa, com o Festival Internacional da Máscara Ibérica. Durante toda a tarde de sábado, a Baixa da cidade foi invadida por criaturas estranhas e coloridas, provenientes de vilas e aldeias do norte de Portugal e de Espanha. Mas isto não é um Carnaval, embora muitas das festas que aqui foram invocadas aconteçam na mesma época. O que aqui temos são tradições milenares, ligadas a cultos de sociedadas agro-pastoris.
Eram sociedades que sobreviviam num ambiente hostil, em que a natureza era por vezes inclemente e cruel. Era preciso aplacar as forças da natureza, dominá-las através do mimetismo e da brincadeira, dominar assim os nossos próprios medos,tão humanos.


Estas festas e tradições aconteciam no final do inverno ou início da primavera, quando a natureza se renova, Os homens assumem as formas da natureza que os domina durante o ano inteiro. Surgem os ursos e os veados, os cornos e as patas de carneiros. Há homens cobertos de folhas e de musgo, de palha, disfarçados de árvores. Invoca-se a morte para celebrar a vida.  É toda a natureza que desfila à nossa beira.
Mas o início da primavera também é a época do acasalamento. Os rapazes fazem as suas brincadeiras, demonstrando força e destreza. Perseguem as raparigas; faz parte do jogo. É uma época de excessos, em que quase tudo é permitido. 
Neste sábado, essas forças milenares que opõem o homem à natureza, da qual é dependente, ocuparam a Baixa de Lisboa. Foi uma explosão de cores, de cheiros, de sons. A música das pandeiretas, das gaitas de foles, dos tambores, invadiu as ruas. E sempre, a dar-lhe o tom e o ritmo, o som dos chocalhos. Presos à cintura, nos pés, pendurados no pescoço, lembram-nos constantemente os rebanhos, riquezas maiores dessas antigas comunidades.
Foi um mergulho no tempo e num mundo que teima em persistir. E foi muito bonito...


Fotos retiradas do site da organização do FIMI - Festival Internacional da Máscara Ibérica

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Para Comer - O Carrossel


De vez em quando, há um restaurante que nos tira do sério, pela qualidade dos pratos, pela simpatia, pelo inesperado... Foi exatamente o que aconteceu com o Restaurante Carrossel, em Cova - Gala, perto da Figueira da Foz, do outro lado do Mondego.

Se não fossemos avisados, nada nos faria entrar ali. O aspeto exterior é absolutamente comum. Mas é um engano, já que nada lá dentro é comum, pelo contrário. 
O dono desvendou-nos um pouco da história do Carrossel, um pequeno restaurante que ganhou fama com os desvelos culinários da mãe, que sabia como ninguém preparar e cozinhar o que o pai, pescador, trazia do mar. E assim nos são apresentados esses pratos, frutos de uma sabedoria antiga. Alguns têm nomes compreensíveis, como Búzios de Feijoada, ou Arroz Marinheiro. Mas depois há outros pratos na ementa, com nomes que precisam de explicação, e que nos remetem para o linguajar popular dos pescadores e das gentes que por aqui viviam. São as Gatas de Pitáu, os Samos Marisqueiros, a Chora de Línguas. Não, não vou dar explicações, há que ir lá para perceber e experimentar. Há receitas centenárias, outras apenas pitorescas. Todas deliciosas. 
O restaurante não é grande, mas o passa-palavra da qualidade do que ali se come torna-o muito visitado, por isso será mais seguro fazer uma marcação prévia. Deixo a ligação para os mais curiosos.


quarta-feira, 6 de maio de 2015

Os Prémios Nobel





O retrato de Nobel à entrada do Museu

Todos conhecemos, com maior ou menor profundidade, o nome de Alfred Nobel. Foi um químico e inventor sueco, nascido em Estocolmo em 1883. Faz por isso todo o sentido que o museu que imortaliza a sua vida e a sua fundação se situe no coração de Estocolmo, no edifício da Bolsa de Estocolmo, numa sossegada praça da zona velha da cidade, a Gamla Stan. 
O museu foi fundado em 2001 e homenageia tanto o engenheiro Nobel, como os que foram homenageados com o prémio que ostenta o seu nome. Mas, para percebermos a sua importância, temos de saber um pouco da sua história.
Alfred Nobel nasceu na Suécia mas não teve uma infância fácil e acabou por estudar em São Petersburgo e viajar pela França, Alemanha e Estados Unidos. Foi em Paris que conheceu o inventor da nitroglicerina, um produto que o interessou pelas potencialidades que tinha para a engenharia civil, na abertura de túneis e fundações. Daqui à invenção da dinamite foi um passo, embora um passo cheio de perigos e acidentes. Dos laboratórios da sua fábrica sairam outros inventos importantes, como a borracha sintética, mas é a dinamite que o torna famoso e rico, embora as suas utilizações tenham ido muito além da engenharia.
Quando morreu, em 1896, deixou em testamento a sua vontade de criar uma fundação que, anualmente, premiasse pessoas que tivessem contribuído para o desenvolvimento da Humanidade. Assim nasceu a Fundação Nobel que, a partir de 1900, começou a atribuir prémios em cinco áreas: Química, Física, Medicina e Literatura (escolhidos por especialistas da Academia Real das Ciências da Suécia) e a Paz Mundial (atribuído por uma comissão do parlamento norueguês). A estes, juntou-se mais tarde o prémio da Economia, mas este já não é financiado pela Fundação Nobel.


A exposição que mostra os laureados, através do século XX
O Museu Nobel tem uma exposição permanente chamada, muito justamente, Culturas de Criatividade, que mostra a vida de Nobel e de muitos dos laureados com o seu prémio, pondo a nota na persistência e na coragem de pensar de forma diferente. Aqui se mostram, década a década, os que tiveram essa coragem e os resultados pelos quais foram agraciados.



A Sala do Jantar de Gala, em preparação
Uma vez por ano, são divulgados os nomes dos laureados com este que é hoje, provavelmente, o mais prestigiado prémio. A cerimónia é cuidadosamente preparada e os que trabalharam em prol da humanidade, como pretendia Nobel, recebem o prémio pecuniário e o seu reconhecimento mundial num jantar de gala, que decorre na grande sala central da Câmara Municipal de Estocolmo. Quando lá estive, em dezembro de 2013, já se preparava a sala para o jantar de gala que se realizaria na semana seguinte. E, numa sala à parte, faziam-se os arranjos florais com centenas de flores enviadas de Sanremo especialmente para a cerimónia. Foi em Sanremo que Alfred Nobel viveu os seus últimos anos e morreu, e é daí que vêm todos os anos as flores que embelezam as salas para a atribuição dos Prémios Nobel. É uma homenagem que a cidade italiana lhe quer ainda prestar, anualmente.


As floristas de Sanremo arranjam as flores para a cerimónia de entrega dos
Prémios Nobel

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O hotel de luxo voador




Tem uns milhares de euros disponíveis? Quer dar uma volta ao mundo sem ter o trabalho de marcar hotéis? Gosta mesmo é de voar de um lado para o outro? Então, a nova proposta da cadeia de hotéis Four Seasons é mesmo para si: voar num Boeing 757 transformado num hotel de luxo.
Os hóspedes deste hotel voador terão um chef para lhes preparar as refeições durante os dezasseis dias da viagem, que passará por Seattle, nos EUA, Japão, Maldivas, China, Tanzânia, Turquia, Rússia, Marrocos e Nova Iorque, novamente nos EUA. Terão, além disso, direito a todos os luxos a que possam almejar, desde champagne e caviar até ipads para utilizarem durante o voo.
Interessados? O hotel levanta voo já a 16 de agosto e a viagem custa apenas cerca de 110 mil euros. Uma ninharia, certo? 
Mais informações no site Four Seasons Private Jet Experience.



sexta-feira, 1 de maio de 2015

Roteiro de banda desenhada nas ruas de Bruxelas


Bruxelas, capital mundial dos quadrinhos (foto: Vist Brussels/Divulgação)
Todos sabemos que a banda desenhada não nasceu na Bélgica. Mas também é verdade que, hoje, a Bélgica é considerada a capital da banda desenhada. Muitos dos grandes criadores de BD aí viveram e publicaram os seus livros. É em Bruxelas que se realiza um dos maiores festivais daquela que é hoje considerada a Nona Arte. 

Cartaz do Festival de Banda Desenhada na Place Royale
Lá se reunem muitas dezenas de autores, expõem-se últimas obras, assinam-se livros a compradores e colecionadores. É uma festa anual, de ambiente descontraído e simpático, tal como o ambiente da própria banda desenhada.


Confraternizando com as personagens do Festival de BD
É também em Bruxelas que se situa o MOOF, um espaço museológico onde se podem encontrar mais de mil objetos ligados ao universo da banda desenhada. Aí se encontra também o Comics Café, um bar e restaurante que, para além de um cenário que recria o ambiente das histórias aos quadradinhos, integra a maior livraria sobre o mesmo tema. Bruxelas abriga ainda o Belgium Comic Strip Centre, onde se pode seguir a história dos quadradinhos, considerado como a Meca dos apreciadores da arte.

O Ford de Tintin no Congo e o carro original
Bruxelas assume esta ligação à BD, de tal forma que muitas ruas têm três nomes: um em francês, um em valão (as duas línguas oficiais belgas) e um ligado ao universo das histórias em quadradinhos. 

A múltipla toponímia das ruas de Bruxelas
As histórias aos quadradinhos estão presentes por todo o lado, quebrando a monocromia escura da cidade, em painéis que alegram os muros e as empenas dos prédios. 

Tintin e o Capitão Haddock descem uma empena
Fotografei alguns, em setembro de 2013. Agora, o turismo de Bruxelas publicou um roteiro para descobrir e apreciar esses painéis de banda desenhada espalhados pela cidade. Pode ser levantado no espaço do Turismo de Bruxelas, que se situa na Grand'Place, e enumera nada menos de 54!
Tantos que me falta ver ainda!

Mais um painel de BD, na Avenue do Gros Tilleul